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A glória da cruz
Caros amigos, no último domingo, 25, iniciamos as celebrações da Semana Santa. Dias em que a Igreja convida a todos a se aproximarem dos últimos momentos da vida terrena de Jesus, desde a entrada em Jerusalém à paixão, morte e ressurreição. Uma oportunidade de fazer junto com o Senhor o caminho de dor e de amor, de cruz e ressurreição; de tocarmos o grande mistério salvífico, no qual Deus feito homem entrega livremente a sua vida para a redenção do mundo.
Na contemplação da Paixão do verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é possível encontrarmos também os inúmeros momentos de dor e sofrimento que marcam a existência humana: injustiças, traições, covardias, solidão, esperas. A Paixão de Jesus dá sentido à paixão do homem, suas dores são transfiguradas, na medida em que se unem às dores do Redentor.
Ao assumir a condição humana, Jesus associa toda a humanidade ao seu mistério pascal. Em sua paixão vemos, como num espelho, os sofrimentos da humanidade e encontramos a resposta divina ao mistério do mal, da dor e da morte” (cfr. Papa Francisco, audiência geral, 19/04/2014). É no mistério do verbo encarnado que o mistério do homem se esclarece (cfr. Gaudium et spes, 22).
Não é fácil viver esta dinâmica. Quando o sofrimento se aproxima, quase sempre surge a queixa tipicamente humana: porque? Qual o sentido de tudo isto? A busca por estas respostas limita-se ao plano meramente humano. Na fé sabemos que as angústias do coração só poderão ser respondidas na contemplação orante daquele que se oferta confiante, intimamente ligado a Cristo na sua entrega ao Pai.
A íntima comunhão com Cristo faz do sofrer humano um apelo, uma vocação ao discipulado. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lucas 9, 23). “A cruz de Cristo projeta a luz salvífica de um modo tão penetrante sobre a vida do homem e, em particular, sobre o seu sofrimento, porque, mediante a fé, chega até ele juntamente com a ressurreição: o mistério da paixão está contido no mistério pascal. As testemunhas da paixão de Cristo são, ao mesmo tempo, testemunhas da sua ressurreição” (Salvifici dolores, 21).
Não podemos nos esquecer de que o termo da fé cristã não é a cruz. É, pois, na ressurreição que a paixão se transforma em vida, ela é a intervenção amorosa de Deus Pai que responde a todas as expectativas do coração humano. Na fé em Jesus Cristo, vivo dentre os mortos, o homem é inserido na atualidade da ressurreição, resposta de Deus
“A ressurreição revelou a glória que na cruz de Cristo era completamente ofuscada pela imensidão do sofrimento. Aqueles que dela participam, são também chamados, mediante os seus próprios sofrimentos, para tomar parte na glória” (idem, 22).
Assim, “associado ao mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, o homem vai ao encontro da ressurreição, fortalecido pela esperança” (Gaudium et spes, 22). Por isso, em meio as trevas confusas deste mundo de ódio e mentira, quando todas as coisas parecem caminhar para sua inexorável destruição, quando a desesperança parece cada vez mais confirmar-se pela impiedade dos homens, o cristão é chamado, pela força de ressurreição que vem da cruz de Cristo, a proclamar a certeza de uma vida nova.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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