A fé encarnada

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A fé encarnada

Caros amigos, repetidas vezes ouvimos dizer que o homem é um ser social. Esta teoria é sustentada pelo grande filósofo Aristóteles, que em suas reflexões afirma ser a união entre os seres humanos natural, pois o homem é um ser naturalmente frágil que necessita de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude.

A doutrina católica assimilando esta secular realidade ensina que a pessoa humana tem necessidade da vida social, como exigência de sua própria natureza. É na relação com os demais, no serviço mútuo e no diálogo com os seus irmãos, que o homem desenvolve suas capacidades, e assim responde à sua vocação (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1879).

A comunicação interpessoal é uma expressão de nossa humanidade e de nossa religiosidade. Não se pode viver o evangelho isoladamente, sem que as dores e necessidades dos irmãos não firam também a nós.

No convite renovado todos os anos em outubro, a Igreja relembra aos seus filhos a importância das missões na propagação do reino de Deus e na construção do bem comum. Neste sentido, o Concílio Vaticano II lembra que “a natureza social do homem torna claro que o progresso da pessoa humana e o desenvolvimento da própria sociedade estão em mútua dependência” (Gaudium et Spes, 25).

Não somos do mundo, mas vivemos nele (cf. Jo 17, 10-16). Por isso, temos a responsabilidade de fazer dele um lugar melhor, onde se viva a paz e a solidariedade, realidades concretas que tocam a todos.

Infelizmente o discurso de uma espiritualidade sem religião tem se tornado cada vez mais comum em nosso meio. Muitos têm cedido a uma espécie de “fé politicamente correta”: uma mistura de filantropia, sentimentos de tolerância universal, que livra dos inconvenientes da “religião organizada” feita de dogmas, preceitos, exclusividade e compromisso.

O papa Francisco chama atenção para este fato quando exorta toda a Igreja para o perigo de “uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos” (Evangelii Gaudium, 94).

Poderíamos, então, perguntar como poderíamos viver nossa fé e nossa esperança neste mundo tão conturbado e ferido pela desigualdade que gera guerra? De imediato, nos vêm como resposta a vida e o testemunho de Santa Dulce dos Pobres, canonizada no último domingo, 13.

O Anjo Bom da Bahia, soube viver o amor a Deus na entrega total aos irmãos mais necessitados. Apresentou sinais de heroicidade na prática das virtudes e também oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à morte. “Esta doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos fiéis” (Gaudete et Exsultate, 5).

É muito significativa a expressão de São João Paulo II na encíclica Redemptoris Missio: “Não existe testemunho sem testemunhas, como não há missão sem missionários” (61). Para transmitir a fé em Cristo devemos aderir à sua mensagem, que recebemos da Igreja, e libertar-nos da lei dos nossos gostos e preferências.

Aderir a uma mensagem é uma tarefa que implica o esforço de conformar os próprios atos e palavras às ideias adquiridas. Cristo nos chama a um autêntico seguimento de sua pessoa, e este movimento não é compatível com uma “espiritualidade sem religião”, e sem compromisso.

Dom Edney Gouvêa Mattoso, bispo diocesano de Nova Friburgo. Escreve neste espaço às terças-feiras.

 

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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