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Educação e participação
Caros amigos, temos acompanhado a triste realidade da educação em nosso país. Tragédias como o massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano– SP, evidenciam a urgência de reflexão sobre o sistema educacional brasileiro, seu modelo e práticas cotidianas, a fim de se desenvolver novas políticas mais articuladas e eficientes. Os programas e ações educacionais devem prever o acesso à educação para todos, além de melhorar a qualidade do ensino no país. Infelizmente, a prática recorrente no Brasil é o desenvolvimento de estratégias emergenciais, que tendem apenas tapar buracos neste ou naquele nível de ensino.
É certo que as políticas educacionais são propostas, estudadas e criadas a partir de leis votadas pelos membros do Poder Legislativo nas esferas dos governos federal, estadual e municipal, podendo contar também com medidas propostas pelos membros do Poder Executivo. Contudo, é fundamental que todos os cidadãos participem da elaboração de políticas públicas, expondo as urgências, propondo soluções e fiscalizando as ações.
Consciente das dificuldades do Estado em cumprir com suas obrigações, a comunidade civil deve, a partir de atitudes concretas e de uma experiência de companheirismo e fraternidade, zelar pelo bem comum e pelo desenvolvimento social. Neste sentido, a Doutrina Social da Igreja ensina que “toda democracia deve ser participativa. Isto implica que os vários sujeitos da comunidade civil, em todos os níveis, sejam informados, ouvidos e envolvidos no exercício das funções que ela desempenha” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 190).
Lembremos também as palavras do Papa Francisco ao denunciar o movimento elitista e seletivo da educação, como fruto do rompimento do pacto educacional. “A sociedade como a família e as diversas instituições delegam a educação aos agentes da educação, aos docentes que – geralmente mal pagos – carregam nos ombros esta responsabilidade” (Papa Francisco, Discurso ao IV Congresso Mundial de “Scholas Occurrentes”, 5 de fevereiro de 2015).
A educação carece de agentes que se comprometam com a elaboração de políticas justas. Não podemos mais viver transferindo culpas. Realmente o estado precisa olhar com mais atenção para o sistema escolar, oferecendo condições dignas de trabalho e salários para os profissionais da educação.
Mas também nós devemos assumir com responsabilidade nossos deveres de homens e mulheres comprometidos com um mundo novo. Somos chamados a reatar os laços entre as instituições de ensino e as famílias. Os pais precisam retomar a participação na prática educativa dos filhos revendo os valores morais, humanos e religiosos que lhes são ensinados.
O Papa Francisco adverte que “Se a educação familiar encontra o orgulho do seu protagonismo, muitas coisas mudarão para melhor, para os pais inseguros e para os filhos desiludidos. É hora dos pais e das mães retornarem do seu exílio – porque se exilaram da educação dos filhos – e reassumirem plenamente o seu papel educativo” (Papa Francisco, Audiência Geral, 20 de maio de 2015).
Esta mudança de conduta permitirá aos pais verem com os próprios olhos a realidade escolar de seus filhos, compreendendo melhor as angústias e sofrimentos dos profissionais da educação. E, a partir disso, protagonizarem ações para um projeto educativo mais humanizado e consciente.
A construção de um mundo mais justo e fraterno é responsabilidade de todos. Por isso, vale lembrar que não mudaremos nossa realidade se ficarmos alojados em nosso comodismo, reivindicando somente os direitos e esquecendo-nos por completo dos deveres (cf. Pacem in Terris 30).
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
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