Corrupção e pecado (2)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Caros amigos, continuando a reflexão do último artigo, gostaria de recordar a distinção que fizemos entre "corrupção e pecado”, utilizando, agora, palavras do então Cardeal Bergoglio: "Não devemos confundir pecado com corrupção. O pecado, essencialmente quando é reinterativo, conduz à corrupção, mas não quantitativamente (tantos pecados provocam um corrupto), e sim qualitativamente, por criação de hábitos que vão deteriorando e limitando a capacidade de amar, encolhendo cada vez mais a referência do coração a horizontes mais próximos de sua imanência, de seu egoísmo” (08/12/2005).

O que ocorre é que certa classe de pecados, quando repetidos, podem substituir sutilmente o objetivo de uma vida pela imanência deste mundo. No coração corrupto, onde antes havia altos ideais, agora acham-se migalhas de matéria, desejos mesquinhos e egoísmo.

Neste ponto acontece algo curioso, pois o ambiente corrupto não se esforça para esconder suas intenções reprováveis, mas reelabora tais conceitos de modo que o mal almejado por um grupo apareça como algo atraente ou justificável. Onde este ambiente se instalou, perdeu-se o parâmetro do bem.

No fundo, o corrupto terá sempre a necessidade de se autojustificar, talvez porque não se dê conta do que está fazendo. Para tanto, comumente explica o seu comportamento comparando-o a uma caricatura de outros males "piores”. Por exemplo, o corrupto pode alegar que é melhor desviar uma percentagem dos recursos de uma empresa do que vendê-la para o capital estrangeiro; ou então, que piores do que os que aprovam sem parâmetros o aumento do próprio salário, são aqueles tantos "companheiros” que desviam ilicitamente recursos, mas não cumprem com suas obrigações. Estas ideias nada mais são do que versões bem elaboradas do lamentavelmente popular ditado: "rouba, mas faz”. Em outras palavras, são atitudes corruptas socialmente justificadas.

A corrupção traz consigo este duplo mal: as consequências negativas de seus atos, pois busca diretamente um bem egoísta, e, por tanto, um mal para outras tantas pessoas; e também a criação de um ambiente atraente que facilmente corrompe os que dele se aproximam.

Nosso Senhor também denunciava este mal: "Guardai-vos dos escribas que gostam de circular de toga, de ser saudados nas praças públicas, e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes; mas devoram as casas das viúvas enquanto simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa”. (Mc 12, 38-40).


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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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