Amigos virtuais

Caros amigos, neste mês da Bíblia e junto a toda a Igreja no Brasil, nossas reflexões serão baseadas no Evangelho de São João. Estas palavras de vida eterna (Cfr. Jo 6, 68) que brotam cristalinas da fonte segura da tradição apostólica vêm em socorro de nossas necessidades hodiernas. Não é possível ser discípulos e missionários de Jesus Cristo sem o amparo da Palavra de Deus.

João nos apresenta o Evangelho da intimidade e do encontro. Nele, encontramos este versículo: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer a tudo o que ouvi de meu Pai”. (Jo 15, 15). Este texto expressa a importância que Jesus dá à amizade. Ela é o ponto avançado de um caminho de intimidade. Fruto da convivência, da partilha, das crises, da ajuda mútua, do amor.

Surpreendo-me quando escuto por aí: “Tenho mais de dois mil amigos na internet!”. Evidentemente, esta concepção de “amizade” é mais estreita que a anterior.

De fato, a comunicação virtual pode ser uma porta de acesso à amizade, mas ela não pode substituir o encontro interpessoal, onde a riqueza do outro se expressa – mais do que em palavras e imagens – nos gestos, no olhar, no timbre da voz e em tantas outras expressões que ajudam a apreender a comunicação, muitas vezes, para além das próprias palavras.

Os verdadeiros amigos são poucos. Eles nos exigem, são capazes de nos contradizer e alegrar, de nos ajudar e acolher. Obrigam-nos ao crescimento humano e espiritual. São de verdade. Diz o Eclesiástico: “Amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro” (6, 14).

Quando se substitui o contato pessoal por “mediações” impessoais, experimenta-se, na mesma medida, um decréscimo na qualidade de todas as outras relações, inclusive das relações com Deus. É o apóstolo São João que nos ensina: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (1Jo 4, 20).

São inúmeros os casos de jovens, e não tão jovens, que expõem a vida e a intimidade para os “amigos virtuais”, não percebendo o grande perigo que correm. Se até uma relação próxima pode esconder perigos, como a traição e a violência, o que diríamos das relações virtuais? Também estas situações precisam ser iluminadas pela Palavra de Deus.

Assim, hoje não podemos negar a facilidade de comunicação que as Redes Sociais oferecem, e é necessário que a Palavra de Deus nos recorde que o amor verdadeiro nos impulsionará sempre ao encontro e cuidado com o irmão concreto que está ao lado.