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Solidão mata! - 14 de junho 2011
Por definição o homem é um ser gregário. Em bom português isto significa que ele precisa da presença de outros da sua espécie, de forma constante, para viver de modo satisfatório.
Apesar das guerras entre povos diferentes, e até mesmo entre habitantes de uma mesma nação, e ainda dos constantes atritos entre pessoas da mesma família, das diferenças aparentemente insuperáveis entre indivíduos das muitas denominações religiosas, o ser humano permanece social.
Vive em grupos, cuja base é a família. Esta condição não é nosso privilégio.
Diversas espécies animais como os elefantes, as hienas, os leões, os grandes macacos e muitas outras, apresentam um comportamento de vida em agregamentos familiares.
Mesmo entre as tribos encontradas nos locais mais distantes da chamada civilização, se percebe a existência dos grupos familiares, onde o parentesco de sangue é extremamente valorizado.
Um fenômeno, muito triste e lamentável por sinal, relacionado ao desmantelamento dos núcleos familiares dos indígenas brasileiros, causado pelos homens brancos, tem levado um numero cada vez maior daqueles indígenas a buscar no suicídio a solução para o seu enorme sofrimento. A Funai (Fundação Nacional do Índio), apesar de muitos esforços, não sabe mais o que fazer para interromper esta situação.
A nossa civilização, cada vez mais baseada na competição entre os indivíduos, também leva as pessoas a um afastamento. Da vida em pequenas localidades, onde a maioria dos habitantes se conhecia desde crianças e mantinha um relacionamento mais caloroso, o progresso e o crescimento das populações fizeram com que surgissem gigantescas cidades, com grandes edifícios, onde os relacionamentos foram se tornando cada vez mais superficiais. Moradores de um mesmo andar mal se conhecem e raramente se falam.
Se fizermos uma comparação com a nossa cidade, veremos que isto também se passa entre nós. O preço que pagamos pelo desenvolvimento econômico, o crescimento populacional, nos transformou em milhares de anônimos cidadãos.
Infelizmente, esta é uma realidade para a qual não temos, no momento, uma solução.
Uma das consequências desta situação, talvez a mais terrível de todas, é a solidão.
Ela violenta de tal forma a essência do homem, que o faz adoecer.
E este adoecimento se apresenta de modo confuso, disfarçado de muitas formas.
Os meus companheiros médicos, de todas as especialidades, concordam que muitas das queixas dos pacientes que os procuram são causadas por sofrimentos da alma, do afeto.
E na base da maioria deles ela está sempre presente a solidão.
Ela mata mais do que muitas outras doenças. Talvez mais do que muitas enfermidades crônicas, mesmo as mais conhecidas. O grande problema em diagnosticar este mal é que não existem aparelhos para medir solidão.
Dr. Norberto Louback Rocha
A Saúde da Mulher
O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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