Solidão mata

sábado, 06 de junho de 2015

Durante uma entrevista que fiz com uma jovem psicóloga, Camila, filha de dois colegas médicos em nossa cidade, Carlos Pires Leal e Miriam, abordamos temas bastante importantes relacionados aos idosos, assunto pelo qual Camila tem bastante interesse e segundo me disse já teve oportunidade de trabalhar em casas de convivência da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Entre os vários itens que abordamos, um ressaltou muito pela delicadeza e sofrimento que impõe ao idoso: a solidão. 

Na verdade, a solidão pode atingir qualquer pessoa, independentemente de raça e idade. Após a aposentadoria, inicia-se um lento processo de afastamento dos meios que a pessoa frequentava, na maior parte das vezes a renda diminui e o casal tem que exercitar um controle muito mais rigoroso sobre suas despesas. Este talvez seja o início do lento e progressivo recolhimento do casal, ou do idoso sem parceira. Infelizmente as aposentadorias brasileiras vão encolhendo ano após ano, e justo no momento da vida em que a pessoa mais necessita dela, ela está reduzida a um mínimo que não permite a frequência aos grupos de idosos sempre que isto signifique alguma despesa extra. Os idosos brasileiros em sua grande maioria, principalmente nas grandes cidades, permanecem reclusos em suas casas ou no máximo em suas ruas. Quando residem junto aos familiares sofrem menos, pois a presença constante deles e das crianças da família enche suas vidas de alegria, essencial a uma vida feliz. Sem acesso a qualquer forma de entretenimento, salvo o rádio e a TV, os idosos acabam por mergulhar lentamente num mundo cada vez menor e isto vai fazendo com que adoeçam. Um elemento de fundamental importância em suas vidas é a religião. A frequência a alguma igreja próxima a suas casas pode ser fator de enriquecimento emocional e crescimento pessoal. Reúne pessoas de diferentes condições e as torna amigas, os cânticos e as palestras dos padres ou pastores também representam um momento de enriquecimento de suas vidas solitárias, na maior parte do tempo. Mas nem todos os idosos têm esta oportunidade de acesso ao convívio social deste tipo. 

Deficiências físicas, como lesões nas articulações do quadril ou dos joelhos, perda da visão e do equilíbrio podem impedir que o idoso saia de casa sem ajuda de alguém e a maioria não dispõe deste alguém que possa ajudar. A prática médica mostra que a solidão pode matar, levando à depressão e ao desinteresse pela vida. Programas de convivência para idosos em seus bairros, evitando que se desloquem dali, são muito importantes e podem representar uma melhora vital em suas vidas.

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

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