Colunas
Saúde pública, um sofrimento que tem cura
É uma grande ironia da vida o que ocorre com o sistema de saúde nacional.
Em grande parte o que acontece está intimamente ligado ao jeito brasileiro de ser, com improvisação e falta de planejamento.
Na verdade nos acostumamos a viver apagando incêndios. A cada dia que passa nós apagamos um.
Hoje apagamos este, no dia seguinte combatemos outro e por aí afora. Apesar de possuirmos um dos maiores programas de atendimento em saúde pública do mundo, o sistema SUS, destinamos para ele apenas oito por cento do que o país arrecada e ele funciona mal na maior parte do Brasil.
Mesmo países do chamado primeiro mundo, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França, entre outros, não possuem um regime de atendimento às suas populações com tamanha abrangência. A diferença é que lá funciona.
Infelizmente, utilizando uma expressão dos chineses quando se referiam aos EUA, nos tempos da “guerra fria”, o nosso sistema de saúde ainda é um “tigre de papel”.
Gigantesco e impressionante para quem abre as páginas nas quais ele se encontra escrito, mas uma tragédia na vida real.
Nem é preciso tentar explicar este fato, pois todos nós estamos mais que cansados de assistir nas emissoras de televisão de todo o país, todos os dias, a cenas que retratam o sofrimento e as dificuldades do cidadão comum em obter um mínimo de atenção médica dos sistemas públicos.
A assistência médica vem se tornando uma coisa extremamente cara. O abandono das antigas técnicas de medicina de evidências, quando primeiro se faz um bom exame clínico no paciente e no que ele relata sobre o que está acontecendo com ele, e somente depois disto se parte, ou não, para a utilização de exames sofisticados e caros.
Em pesquisas realizadas a respeito destes exames, auditores concluíram que mais de sessenta por cento deles foram dinheiro jogado fora. Eram desnecessários, pois nada mostraram de importante. Isto é fruto de uma formação médica deficiente, que torna o médico escravo de tais recursos e também de uma população que só acredita em tais exames, ou seja, só fica tranquila se o exame nada mostrar de errado.
Na Europa se dá mais atenção ao atendimento médico primário, aquele que é realizado nos pequenos postos de saúde. Somente depois deste procedimento é que o paciente é encaminhado para um exame mais sofisticado ou então é medicado e volta para sua casa. Apesar de sermos a sétima economia do mundo, estamos colocados no quesito qualidade em saúde no centésimo décimo lugar. Estamos atrás de Tonga, Serra Leoa e Senegal. Aqui na América Latina, só estamos na frente do Peru, Guiana e Bolívia.
Um eficiente sistema de pequenas unidades de saúde, distribuídas nas periferias das cidades, dispondo de especialistas em áreas básicas como pediatria, clínica geral e ginecologia-obstetrícia, aparelhado para exames mínimos de laboratório efetivamente funcionando todos os dias, dispondo de uma pequena ambulância para remoção de casos graves, resolveriam oitenta por cento das necessidades da população e deixariam os hospitais livres para cumprir sua função de atender pacientes de urgência ou emergência. Os programas de Saúde da família, uma ideia genial, atendendo a contento, evitariam que a população rural, principalmente, se deslocasse para a cidade.
Dr. Norberto Louback Rocha
A Saúde da Mulher
O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário