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Parto normal ou cesariana?
Todos os dias temos assistido nas TVs e lido nos jornais, pessoas de diversas profissões dando suas opiniões a respeito do grande número de cesarianas realizadas em nosso país. Na verdade este assunto já vem sendo tema de debates há muitos anos, não só aqui, mas em muitos países do mundo. Aguardando um voo de conexão no aeroporto de Frankfurt, Alemanha, ao passar por uma das bancas de revista, uma manchete de um jornal dos Estados Unidos me chamou a atenção, e de imediato comprei um exemplar. Dizia a notícia que a associação de médicos obstetras daquele país, depois de muitos anos de discussão, resolvera colocar a vontade da mãe como uma das indicações para o parto por cesariana. Até aquela data, o desejo materno não era levado em consideração a respeito de qual o tipo de parto que ela teria, logo a mãe, a pessoa que iria passar pela experiência de ter um filho, não tinha a possibilidade de opinar e decidir. Os tempos mudam e também os hábitos e comportamentos sociais. Milhões de crianças nasceram dentro de suas casas por este mundo afora, em meio a muitos sofrimentos de suas mães, e ainda continuam nascendo, em regiões longínquas sem acesso a qualquer tipo de assistência médica ou de enfermeiras, ajudadas apenas por mulheres mais idosas da família ou vizinhas, algumas até chamadas de parteiras, com práticas adquiridas ao longo do tempo. O número de mulheres que ficaram com sequelas vaginais, lesões graves que até hoje lhes trazem grandes sofrimentos, como lesões da bexiga e queda do útero, e ainda outras também graves permanece desconhecido, assim como o número de recém-nascidos mortos ou com lesões neurológicas importantes. Muitas e muitas jovens passaram boa parte de suas juventudes ouvindo relatos de suas avós e tias, e também de suas mães, a respeito dos enormes sofrimentos por que passaram durante os partos normais que tiveram e que duraram horas e até mesmo dias. Estas histórias lhes causam medo. Por mais estranho que possa parecer, um dos países que menos cesarianas realizava, a Holanda, produziu um excelente trabalho mostrando que para os bebês a cesariana trazia menos riscos, por ser o nascimento mais rápido, enquanto as longas horas de duração do parto vaginal davam mais riscos de má oxigenação cerebral. Estive ao lado de centenas de mulheres durante o momento do parto. Muitas com parto vaginal e outras tantas com parto cesariana. Houve as que detestaram o parto normal e as que acharam a cesariana ruim. Mas o contrário também aconteceu. Em relação a acidentes ocorridos, as duas formas de parto estão muito próximas. Podemos realizar partos vaginais sem dor, com analgesia feita por um anestesista treinado, dentro de um hospital com todos os recursos e com médicos que estejam de plantão. Da mesma forma podemos realizar cesarianas com toda a segurança, com medicamentos que afastam qualquer tipo de dor, todo o tempo, e as mães só precisam permanecer internadas por quarenta e oito horas, retornando a seus lares. Deixar que a escolha da forma do parto seja decidida entre o obstetra e a futura mãe é a melhor solução e também oferecer aos médicos as condições que lhes permitam exercer com toda a liberdade a nobre arte da medicina. O melhor parto é aquele em que a mãe e seu bebê retornam cheios de alegria e saúde para casa!
Dr. Norberto Louback Rocha
A Saúde da Mulher
O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.
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