Colunas
Numa noite do inverno que passou
Neste inverno passado, conversando com um jovem religioso, homem de grande conhecimento das escrituras, que irradia fé por todos os poros, depois de uma palestra que fiz em sua igreja, para as senhoras e moças, fiquei sabendo por ele que naquele bairro, não vou citar qual, a fé estava levando vantagem contra o inimigo.
Inimigo, para quem não sabe é o nome dado por muitos cristãos ao demônio.
Curioso, perguntei qual era a vantagem que a fé estava levando. Respondeu-me o jovem pastor, com os olhos brilhando de satisfação :
Aqui no bairro, somos doze igrejas contra onze botequins.
Diante da sincera alegria daquele rapaz, creio que ele tenha por volta de trinta anos mais ou menos, perguntei por que tanta preocupação com os botequins, e até disse a ele que conheço muitos homens de boa conduta que frequentam ambientes de bares desde a juventude sem que isto lhes tenha sido tão nocivo como muita gente pensa.
Naquele ambiente apenas tomavam uma ou duas cervejinhas e jogavam conversa fora, além de darem boas gargalhadas.
O jovem religioso então me fez uma pergunta, teria eu um tempinho para um cafezinho no interior da igreja, coisa de alguns minutos?
Respondi na hora que sim, seria um prazer, ainda mais que estava um frio daqueles e um café quente seria muito bom.
No silencio do interior daquela casa de fé, ouvi daquele jovem idealista, estatísticas impressionantes a respeito do grande numero de rapazes que de cervejinha em cervejinha acabavam por se tornar dependentes do álcool, e dos muitos dentre eles que partiam para o uso de drogas mais pesadas.
Daí para a frente as vidas de suas famílias, pais, esposas e filhos e parentes próximos, viravam um inferno.
Procurou mostrar-me que, se para alguns os bares eram apenas locais de diversão sem compromisso, de falar de futebol, de jogar conversa fora, para muitos entretanto não era bem assim. Para estes, com sérios problemas pessoais e familiares, com espíritos fracos na fé, com personalidades inseguras e cheias de traumas, a maioria tendo vivido uma infância de sofrimentos, com pais que chegavam em casa embriagados e agredindo suas mães, aqueles locais eram uma porta aberta para um mundo de perdição, com o estimulo fácil e barato do álcool. Como ele disse num momento de raiva, uma entrada para o inferno!
Terminei o meu café, quente e saboroso, feito por uma das senhoras da igreja, e disse ao meu amigo que já se fazia hora de ir. Ele fechou a porta da sua igreja e levou-me até o meu carro, onde nos despedimos com uma forte dose de emoção.
Ali, naquela rua deserta de um bairro humilde da nossa cidade, já tarde da noite, liguei o motor e parti, olhando pelo espelho retrovisor aquele jovem que me acenava ficar para trás e desaparecer na primeira curva.
Fiquei refletindo sobre o que ele me havia dito a respeito das igrejas e bares do seu bairro.

Dr. Norberto Louback Rocha
A Saúde da Mulher
O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário