Mudar do Brasil ou mudar o Brasil?

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Dentro de um hospital, os colegas médicos conversam de muitos assuntos, além da medicina, pois afinal são cidadãos como todos os outros e participam dos mesmos problemas. Por mais de uma vez, durante alguns momentos de descanso na sala do café, percebi que alguns temas das conversas volta e meia se repetiam. Um dos que mais polêmica causava entre nós era a questão de filhos dos próprios colegas ou de pacientes que no meio das consultas relatavam suas preocupações familiares. Resumindo, muitos destes jovens eram francamente desejosos de estudar fora do Brasil e até mesmo viver em outro país, queixando-se de que aqui não tem jeito, que nada funciona e que a desordem impera, assim como a corrupção e a criminalidade.

Eu mesmo, por diversas vezes, ouvi de pacientes do consultório que estavam passando por um drama familiar deste tipo. Uma paciente de muitos anos, de quem fiz os dois partos há muito tempo, já com os filhos adultos jovens, se dizia meio perdida, sem saber que rumo tomar na vida. O filho, depois de passar um ano fazendo intercâmbio com família canadense, deixou claro que não iria voltar a morar aqui. Que achou a vida naquele país uma experiência ótima e foi informado que se quisesse poderia pedir visto permanente lá. A filha, também depois de um período em outro país, Nova Zelândia, onde fez muitos amigos e arranjou namorado, praticamente repetiu as palavras do irmão. Me disse a mãe que as razões apresentadas pelos filhos eram muito fortes e que ela, no fundo da alma, concordava com eles, apesar de tentar mudar as ideias deles. Apesar de jovens, os filhos já tinham boa maturidade e argumentos sólidos. Diziam que mesmo com muito estudo e diplomas de nível superior não se sentiam valorizados profissionalmente e que muitos amigos, com diferentes profissões, acabaram por se conformar com trabalhos que nada tinham a ver com seus estudos e que isto não acontecia lá fora onde fizeram seus intercâmbios. Que podiam se deslocar pelas cidades a qualquer hora do dia ou da noite, sem correr os perigos que ouviam falar daqui. Que lá fora tudo funcionava melhor e que os cidadãos tinham mais importância e eram atendidos nos seus pleitos. Que se começavam e terminavam estradas e pontes nos prazos previstos, as escolas não levavam tiros, como aqui, enfim, falavam tantas coisas que ela não tinha como responder com segurança. Me disse que já estava se conformando em morar um tempo com o filho e outro com a filha, vivendo como uma cigana, mas se era para o bem deles que assim faria.

Esta triste realidade de grande parte da nossa juventude é inegável, principalmente daqueles cujas famílias não possuem condições de apoiá-los financeiramente para voos mais altos. Uma pergunta fica no ar: quando nos tornaremos verdadeiramente uma nação?

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

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