Inimigos da vida

Muita gente comenta a respeito de um mesmo assunto. Seja em casa ou no trabalho, durante uma festa da família, num churrasquinho do time de pelada, dentro dos hospitais, em todos os lugares, enfim, comenta-se a respeito do câncer. Parece que estamos vivendo uma epidemia. Todo mundo tem algum caso conhecido. Colega de trabalho, parente próximo ou distante, algum amigo da mesma igreja, um vizinho. É claro que, com o aumento da população, também cresceu o número de portadores de várias doenças, o câncer inclusive. Algumas causas já são bem conhecidas. O do colo do útero, por exemplo, não restam mais dúvidas, é o vírus HPV, pois em noventa e nove por cento dos casos ele está presente. O do pulmão, muito ligado ao vício de fumar, também está bem definido, embora muitos não fumantes venham a sofrer dele. O da pele, muito relacionado aos raios solares, que em doses pequenas fazem muito bem à saúde, promovendo a produção de vitamina D, indispensável à boa formação dos ossos, mas em doses altas e sem proteção geram câncer na pele. E quanto aos demais tipos da doença? Quais são os culpados? Daí em diante surgem muitas explicações e teorias.

Na verdade, quando existem muitas explicações para uma mesma dúvida, é sinal de que nenhuma delas foi boa e não esclareceu a questão. Por exemplo: ninguém, em nenhum lugar deste planeta, tem dúvidas de que o fogo queima, pois é só aproximar a mão perto de uma chama e vai sentir que ele queima mesmo, então isto é uma verdade mundial. Ultimamente, uma ideia que vem ganhando força e sendo muito bem recebida pela comunidade médica é a que fala a respeito da poluição e do uso de centenas de substâncias tóxicas na conservação dos alimentos. Em relação a isto, dizem os especialistas em alimentos que seria impossível guardar comida enlatada, carnes, leite e outros produtos, pois todos estragariam e ninguém poderia comê-los. Muitos se perguntam por que o leite das caixinhas dura meses sem azedar e apodrecer. O que é que tem lá dentro? Por outro lado, o leite em sacos plásticos azeda em poucos dias, mesmo na geladeira. Será que os conservantes usados pela indústria foram bastante testados a ponto de provar que não causam câncer nas pessoas? Ou será que não foram? Como vamos saber? O cloro usado para manter a água que bebemos livre de germes faz mal ao nosso organismo? Uma jovem mãe, preocupada com a saúde do seu bebê, pergunta ao pediatra: será que o que meu filho ganha quando eu o levo para passear no carrinho pela manhã e tomar um pouco de sol vale o risco de respirar um ar cheio de fumaça dos carros, ônibus e motocicletas que passam o tempo todo pela rua? O médico ficou em dúvida sobre o que responder. Não apenas as crianças sofrem com o ar sujo que respiram. Todos nós sofremos. Uma afirmação que ouvi recentemente num debate na Rádio Friburgo foi a de que dentro de alguns anos nós vamos tratar os automóveis, motocicletas, ônibus e caminhões como estamos a tratar hoje o cigarro: como inimigos da vida. Serão feitas campanhas mundiais contra eles. Os veículos movidos a eletricidade, por exemplo, irão substituí-los. Recentemente, uma empresa norte-americana comprou uma firma brasileira de São Paulo que enlatava carnes para exportar. A agência de fiscalização de alimentos dos próprios EUA proibiu a entrada dos enlatados desta empresa por excesso de um vermífugo chamado Ivermectina, que nós, médicos, receitamos aqui e é muito útil para tratar certas verminoses e parasitoses em humanos — em doses corretas. Em altas doses, pode causar lesões no fígado das pessoas — e era o que estava acontecendo com aquela carne enlatada. O que vamos fazer?