Fome de um lado, obesidade do outro

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O maior consumo de alimentos por parte das camadas mais pobres da nossa população é um dado muito positivo, sem dúvida alguma, pois desde muitos anos uma crítica que recebíamos das organizações sociais internacionais, e também das nossas, era a respeito do grande número de brasileiros expostos à fome, sobrevivendo com uma quantidade de alimentos insuficiente para manter um mínimo de saúde. Uma importante parte da população que vivia sempre com doenças ligadas à subnutrição, com desenvolvimento físico e mental totalmente prejudicados e passando boa parte de suas vidas internados por motivo de doenças como tuberculose, anemias, raquitismo e outras, relacionadas com privação alimentar. Olhávamos com inveja os documentários nas redes de TV mostrando como eram bem cuidadas as crianças de povos desenvolvidos e como tinham um futuro bem mais promissor que as nossas, das populações pobres. Apesar de sermos por natureza grandes exportadores de alimentos, não conseguíamos fornecer ao nosso povo alimentação que estivesse ao alcance de todas as camadas sociais, e não apenas daquelas de renda mais alta. Com o passar dos anos e com as melhorias na distribuição de renda, além do enorme aumento na oferta de alimentos, este quadro mudou da água para o vinho. Hoje podemos dizer que quase todos os brasileiros podem ter acesso a uma quantidade de alimentos diários suficiente para manter sua saúde em níveis adequados e também que o número de pessoas sofrendo de doenças causadas pela desnutrição diminuiu muito. Atualmente assistimos com preocupação a uma mudança no perfil das doenças, que assusta as autoridades da saúde em nosso país. Assim como os países ricos já sofrem há alguns anos de um grave problema de saúde pública que são as doenças causadas pela obesidade, principalmente diabetes e pressão alta, sem falar nos afastamentos do trabalho e todos os problemas familiares envolvidos, nós estamos começando a entrar nesta área de turbulência. O número de brasileiros, inclusive crianças, começando a sofrer das doenças ligadas ao excesso de peso só faz aumentar. Dez anos atrás o número de brasileiros acima do peso era de quarenta por cento e o de obesos era de onze por cento. Hoje estes números são respectivamente de cinquenta por cento e dezessete por cento. Um aumento perigoso. Temos diabéticos e hipertensos demais. Em breve vamos começar a assistir entre nós aos mesmos problemas que hoje afligem países ricos. Campanhas desenvolvidas pelas sociedade médicas e pelo Ministério da Saúde começam a fazer algum efeito. Escolas já proíbem que suas cantinas vendam alimentos nocivos para as crianças e os produtores de alimentos industriais já são obrigados a diminuir os teores de sal e gorduras e corantes em seus produtos. Vamos prestigiar estas campanhas e alimentar melhor nossas famílias.

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

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