Alguém morreu de vergonha

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Quando se diz que alguém pode morrer de vergonha, é um fato real. Recordo um caso que soube, ocorrido há muitos anos, de uma mulher ainda jovem, residente em zona rural do município e filha única de um casal já idoso. A jovem, depois de um namoro não muito longo e sempre na casa dos pais, marcou o casamento, que foi realizado na pequena igreja da localidade. Uma parenta da moça ensinou como usar a pílula anticoncepcional, mas a jovem não foi a nenhum médico: simplesmente  começou a tomar a pílula como lhe foi dito. 

Poucos meses após o casamento, a jovem esposa passou a se queixar de cansaço e perda do apetite e sua barriga começou a aumentar de volume. Sua mãe, muito animada, falou logo que a pílula havia falhado e que um netinho estava a caminho. A moça então parou de tomar a pílula e alguém comprou uma vitamina para mulher grávida, mas por vergonha ou falta de iniciativa, ninguém falou em procurar um médico. A jovem esposa foi piorando, emagrecendo, até que apresentou um grande sangramento vaginal. Só então correram em busca de socorro médico, indo direto para a maternidade. Internada e socorrida, foi informado ao marido e aos pais que ela não estava grávida, mas que tinha um tumor na barriga, junto ao útero. Transferida para um hospital geral, depois de uns dias foi submetida a uma cirurgia para retirar o tumor, o que acabou não sendo possível pois o tumor já havia se espalhado por toda a região do baixo ventre. Pouco se pôde fazer pela jovem esposa, além de aliviar as dores e alguns cuidados paliativos até seu falecimento. 

Sua morte foi causada por um tipo de câncer que não é muito frequente entre as mulheres, o câncer de ovário, mas que é tremendamente letal. Embora ele atinja mais as mulheres mais idosas, depois dos quarenta anos, ele pode afetar mulheres mais jovens. Infelizmente é uma doença silenciosa, o que só permite que a mulher atingida por ela apresente os sintomas quando a doença está numa fase mais avançada, o que reduz muito a possibilidade de cura. Assim como o câncer de próstata, este câncer de ovário também apresenta risco familiar. Se a mulher tem na família alguém com laços de sangue próximos, irmã ou mãe, por exemplo, seu risco de ter a doença é maior, por isto deve se cuidar mais. A ultrassonografia vaginal é um excelente método de descoberta da doença ainda em fase inicial. Um exame de sangue simples e rápido que também ajuda a fechar o diagnóstico é a medição de um marcador para este tipo de tumor chamado Ca 125. Nas pacientes com este tipo de risco familiar é possível retirar os ovários e reduzir completamente este perigo. Procure se informar a respeito se você está neste grupo de risco.

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

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