A literatura no Netflix

segunda-feira, 05 de agosto de 2019

O aplicativo Netflix ganhou a atenção do planeta porque todos nós gostamos de cinema e de acompanhar a sequência de histórias, como acontece nas novelas. Talvez porque estamos mergulhados na realidade existencial e queremos de ter contato com o desencadeamento de fatos que não protagonizamos, escutando narrativas de pessoas ou assistindo filmes e séries. A vontade de presenciar a resolução de conflitos que não são os nossos, as emoções que os personagens vivem e a observação da forma como eles reagem e tomam decisões, de algum modo, nos faz sentir amparados em nossas vivências diárias, carregadas de contrastes, incertezas e conflitos. As histórias sempre nos acolhem porque vemos em outras pessoas e nos personagens o que sentimos. Temos necessidade de compartilhar experiências.

O conteúdo do Netflix oferece um tempo prazeroso e divertido aos momentos de lazer. Seu conteúdo está fundamentado na literatura através dos roteiros, sejam eles adaptados ou originais, que exploram diferentes gêneros, como o drama, a comédia, a aventura, o documentário, dentre outros. Gosto não se discute, e o telespectador assiste o que satisfaz seus interesses. Há quem goste de suspense ou de histórias de amor. Há quem prefira as de humor, com enredos leves. Entretanto, seja qual for, a exibição de películas toca quem está na frente da tela, reagindo ao que acontece, deixando-se mergulhar de corpo e alma nas cenas, que atiçam os músculos e trejeitos, provocam risos e lágrimas, causam sustos e espantos. Não é comum a pessoa assistir filmes com os sensores emocionais desligados.

Volta e meia, penso no compromisso do escritor com a obra que constrói porque será assistida mundo afora por pessoas de diferentes culturas e idades.  Considero que uma obra literária é de qualidade quando provoca reflexões naquele que a assiste. Eu diria que os filmes ou as séries são rasos quando não fazem o telespectador perceber a humanidade que existe em cada um de nós. Ninguém é igual a ninguém, entretanto temos que cuidar do sangue que corre em nossas veias, dos afetos e da dignidade de existir. Acredito que o fazer literário deva guardar este princípio. 

Acarreta, também, na responsabilidade de quem clica no Netflix. O usuário, ao buscar diversão, pode estar predisposto a descobrir outras formas de perceber a vida. 

Salve a literatura que nos salva e diverte!

 

TAGS:
Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.