Contemplação e ação

terça-feira, 23 de julho de 2019

Caros amigos, pensemos por um momento sobre a missão da Igreja. Nosso Senhor quis, indubitavelmente, fundar a Igreja, conforme ele mesmo disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 15, 16); e, como ensina o Concílio Vaticano II: “o Senhor Jesus iniciou a Igreja pregando a Boa Nova, isto é, o advento do reino de Deus prometido nas escrituras há séculos: ‘Porque completou-se o tempo, e o reino de Deus está próximo’ (Mc 1, 15; cfr. Mt 4, 17)” (LG 5).

Assim, é dado à Igreja a missão de continuar a obra de Cristo no mundo. Uma missão que “não é de ordem política, econômica ou social. Pois a finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa” (GS 42), mas “é ao mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana” (Idem, 76).

Sem dúvida, Nosso Senhor veio ao mundo para anunciar o reino de Deus e a salvação dos homens, e a Igreja é sinal e cumprimento paulatino deste reino de amor, que não se faz a partir do visível e material, mas se manifestará sensivelmente quando “atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo“ (Ef 4, 13).

Cada homem na face da terra é destinado a esta plenitude e vive esta tensão em direção ao reino de Deus consumado. Em auxílio a todos os homens de boa vontade, a Igreja é missionária e incessantemente celebra a eucaristia, pois atualiza a obra de nossa redenção sempre que o sacrifício da cruz é oferecido sobre o altar (cf. LG 3).

A experiência da fé precisa ser vivida na integralidade, englobando todos os aspectos da existência humana. Na cruz de Cristo, contemplamos os dois eixos da vida cristã – um eixo vertical, de relacionamento com Deus, e um eixo horizontal, de corresponsabilidade fraterna e social.

A prática religiosa que se volta exclusivamente a uma relação sobrenatural com Deus, é desencarnada e mentirosa. Pois, como adverte São João, “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4, 20).

Quando nos atentamos para a resposta de Jesus ao ser questionado sobre qual seria o maior mandamento, compreendemos que o amor a Deus e o amor ao próximo são exigências básicas para o cristão. Não se pode olhar somente para o alto e esquecer-se de olhar para o lado, e vice-versa.

O papa Francisco, ao refletir sobre o evangelho em que Jesus é acolhido em Betânia, na casa de Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42), afirma que a sabedoria do coração está em saber conjugar a contemplação e a ação. “Marta e Maria nos indicam o caminho. Se queremos desfrutar a vida com alegria, devemos associar essas duas atitudes: por um lado, o ‘estar aos pés’ de Jesus, para ouvi-lo enquanto nos revela o segredo de todas as coisas; por outro, estar atentos e prontos para a hospitalidade, quando ele passar e bater à nossa porta, com o rosto de um amigo que precisa de um momento de descanso e fraternidade” (Angelus, 21 jul. 2019).

É missão da Igreja levar a todos os homens este admirável modo de viver autenticamente a fé em Deus. Assim, repetindo as palavras do santo padre, pedimos que a Virgem Mãe da Igreja, nos conceda a graça de amar e servir a Deus e aos irmãos com as mãos de Marta e o coração de Maria, a fim de que permanecendo sempre na escuta de Cristo, possamos ser artesãos da paz e da esperança (idem).

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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