Fones de ouvidos no volume máximo, sirene dos bombeiros, ambulâncias e carros de polícia, veículos e seus motores, escapamentos e buzinas potentes. Indústrias, bares e a britadeira na obra vizinha ao trabalho, liquidificador e até mesmo o inofensivo secador de cabelo. Eis aqui alguns dos vilões da era moderna.
O mês de novembro está chegando ao fim e com ele a Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido. Criada em 2009 pelo Instituto Ganz Sanchez, a ação — conhecida também como Novembro Laranja — tem como objetivo chamar atenção para um tema pouco falado na mídia e considerado irrisório pela maioria dos brasileiros: trata-se do zumbido.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, o sintoma acomete mais de 28 milhões de brasileiros entre crianças e adultos, chegando a atingir entre 10 a 15% da população adulta no mundo. Pensando na dimensão do problema, a reportagem de A VOZ DA SERRA conversou com o otorrinolaringologista Waldir Costa. Além de alertar sobre as causas, o especialista falou sobre o diagnóstico, a importância da prevenção e tratamento.
O que é o zumbido?
O zumbido é uma sensação auditiva sem estímulo externo, isto é, não há nenhum som, mas o indivíduo tem a percepção de barulho. Ele pode ser chamado também de acúfeno ou tinnitus auricular.
Segundo Waldir, ele pode ser percebido de diversas formas. “Normalmente os pacientes percebem o zumbido como o escapamento de uma panela de pressão, uma cigarra, o canto de um grilo, entre outros. Ele pode estar também em sintonia com a batida do coração, é o chamado zumbido pulsátil”, disse ele, explicando que “o sintoma incide em várias faixas da população, mas tem uma incidência maior entre indivíduos acima de 65 anos”.
Quais são as causas?
O zumbido tem diversas causas que vão desde hábitos nocivos — como ouvir som alto e abusar de cafeína — a doenças relacionadas a alteração do metabolismo da glicose, do colesterol, da tireoide, problemas digestivos e neurológicos.
“Há causas simples como um tampão no ouvido, uma inflamação, uma otite e outras mais difíceis de tratar. Em geral, a maior parte dos casos de zumbido está relacionado à exposição a ruídos. Antigamente, o mundo era mais silencioso, agora, basta caminhar por dez minutos na rua para verificar o alto de nível de ruído a que estamos expostos. A faixa limite para o ouvido humano é de 85 decibéis. Se ultrapassar essa medida, o ruído pode ocasionar lesões no ouvido interno”, afirma o especialista.
Segundo Waldir, além das alterações hormonais e circulatórias, o uso de alguns medicamentos também pode causar zumbido. “Drogas chamadas de ototóxicas são medicamentos e substâncias lesivas ao ouvido interno. É o caso da cafeína, alguns tipos de antibióticos, anti-inflamatorios, diuréticos e o ácido acetilsalicílico (AAS). Mas, isso não quer dizer que todos que usarem estes medicamentos terão zumbido”, exclama ele.
Ainda conforme Waldir, alterações emocionais como estresse, causas neurológicas e tumores também podem levar ao zumbido. Além destes, existe ainda a presbiacusia, que é a perda de audição com a idade, que muitas vezes é acompanhada de zumbido.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do zumbido pode ser feito através da anamnese, exames físicos e/ou complementares. “A anamnese é uma espécie de entrevista para levantar o histórico do paciente; como o sintoma surgiu, a intensidade, se é persistente, intermitente e se tem características pulsáticas. Depois é feito também um exame físico, que é um teste do conjunto auditivo, do tímpano: a otoscopia.
Entre os exames complementares, o mais importante é a audiometria. Através dela é possível ver o perfil da audição do paciente, medir a frequência do zumbido e verificar se ele está acompanhado de perda de audição. Existem também os exames de imagens, isto é, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética.
Outro fator que também pode ocasionar o zumbido são alterações na ATM, isto é, na articulação temporomandibular, responsável pelos movimentos da mandíbula (fonação, mastigação). Ou seja, há uma ampla margem de patologias e causas para o zumbido”, disse o médico.
A importância da prevenção
Não ficar exposto a ruídos. Esta é a primeira e principal recomendação do otorrino Waldir Costa em relação à prevenção do zumbido. “Assim que comecei a trabalhar em Nova Friburgo, fazia exames de audiometria para indústrias, principalmente a metalúrgica. Na época, quase 50% dos operários tinham lesões do ouvido interno, acompanhada do zumbido. Hoje, os funcionários são obrigados pelas empresas a usar o protetor auricular, exatamente porque o indivíduo é exposto a ruídos excessivos, acima de 85 decibéis”.
O médico conta também sobre o caso de um paciente que tinha audição normal, foi a uma festa de casamento, ficou cerca de duas a três horas em frente a uma caixa de som, exposto a um ruído de mais de 100 decibéis e, no dia seguinte, apresentou zumbido. “Após uma situação específica como esta, caso o zumbido permaneça, é preciso procurar um médico para fazer avaliação”, disse ele.
Segundo Waldir, muitas pessoas convivem com a doença e não procuram por ajuda especializada. “Quando se trata de um zumbido de pequena intensidade a pessoa convive com ele. O problema é que, dependendo da causa, o sintoma pode se agravar ou ser originário de um tumor, por exemplo.
Da mesma maneira que fala-se da prevenção do câncer de mama e de próstata, o Novembro Laranja chama atenção para o zumbido e para a importância da conscientização sobre o sintoma, que pode ser algo inocente, mas também pode representar gravidade”.
Tipos de tratamento
De forma geral, uma vez feito o diagnóstico, o tratamento do zumbido pode ser feito com o uso de medicamento. Mas, conforme explica Waldir, depende da causa. “Se o indivíduo tem um problema de ATM, por exemplo, ele tem que procurar um dentista para analisar a posição da arcada dentária. Se ele tem uma otite, ele terá que tratar a otite. Então, depende do diagnóstico”, diz.
Conforme o otorrino, dentro do percentual de 10% a 15% da população que tem zumbido ou já teve, cerca de 1% a 2% tem o chamado zumbido incapacitante. “Este caso, especificamente, pode levar o paciente à depressão, estresse, entre outros, sendo recomendado uma psicoterapia e/ou um tratamento de habituação, para que o paciente aprenda a conviver com o sintoma”, disse acrescentando que “há zumbidos que não têm tratamento, pois trata-se de uma lesão da cóclea, que é o órgão responsável pela captação da audição no ouvido interno. Desta forma, o zumbido não pode levar a perda de audição por si só, mas é um sinal de que há algum problema”.
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