Xô, cinza e frio! Chegou chegando a estação mais aguardada do ano

Primavera vem quente para aposentar de vez os casacos e, apesar da "louca" no clima, ainda é um marco para o florescimento de muitas plantas
sábado, 23 de setembro de 2017
por Ana Borges
Chegou chegando a estação mais aguardada do ano, a temporada das cores, dos aromas, das formas, do amor, enfim! A primavera desabrochou precisamente às 17h02 da sexta-feira, 22, colorindo os contornos das montanhas, as margens dos rios e córregos. É também a melhor época para visitar os hortos quando os brotos das mais variadas espécies começam a desabrochar.

Despertamos, saímos de nossos casulos, prestamos mais atenção a tudo o que nos cerca
Por outro lado, a elevação da temperatura tem provocado aqueles comentários típicos, como “A primavera ainda nem chegou e já tá esse calorão?!”, ou “Já pensou como vai ser no verão?”.

Todo ano é a mesma coisa. Essa invasão de uma estação na outra não é mais tão incomum. Os cientistas alertam há anos: a temperatura do planeta está subindo, os icebergs estão derretendo, a água dos oceanos, esquentando. Então, cada vez mais a atmosfera dá sinais desse desequilíbrio.   

Segundo o climatempo.com.br, a temperatura para este fim de semana deverá variar de 11 a 24 graus no sábado e de 12 a 26 graus no domingo, com sol e algumas nuvens, sem chuva. A previsão até o momento é que uma frente fria traga chuva para o Estado do Rio e para outras áreas do Sudeste nos próximos dias, rompendo o bloqueio da forte massa de ar seco que atua sobre todo o país. Tomara.

Voltando ao tema, enquanto a tragédia anunciada para o planeta Terra não se concretiza, vamos aproveitar ao máximo o que a natureza tão generosamente insiste em nos oferecer, a despeito de tudo.

Nossas riquezas multicoloridas

Entre hortos, jardins, praças, clubes, distribuídos por toda a cidade, sobram motivos para Friburgo ser, de verdade, uma cidade-jardim, ou cidade-parque, ou cidade-flor. Até porque um pedaço significativo da Mata Atlântica ainda resiste em nosso município, o que nos torna moradores privilegiados desse bioma, que praticamente já desapareceu do resto do país.

A poesia - e como não poderia deixar de ser, as trovas também - toma conta da atmosfera, inspirada pela presença de flores como margaridas, copos-de-leite, rosas, girassóis, jasmins, hortênsias, hibiscos, lágrimas-de-Cristo, crisântemos, narcisos, violetas, damas-da-noite… .

Despertamos, saímos de nossos casulos, prestamos mais atenção a tudo o que nos cerca. E ,de novo, enxergamos jardins, flores, plantas, árvores, pássaros. Fica tudo tão mais intenso que até os animais se animam a encerrar seu retiro invernal.

A paleta multicolorida se esparrama pelos cantos e recantos, botando sorriso nos rostos mais severos e tocando os corações dos mais empedernidos. É a natureza despertando, se espreguiçando e renascendo e conquistando todo mundo. Neste período percebe-se mais claramente o caráter cíclico das estações do ano: se o outono remete ao declínio, e o inverno lembra a velhice, na primavera vemos o renascimento, a infância, a juventude, preparando a natureza para o auge de seu esplendor, no verão.

Friburgo, promessa de uma cidade-jardim  

Friburgo é o maior produtor fluminense de flores de corte e se destaca na produção de rosas, hortênsias, monsenhores, astromélias, copos-de-leite, crisântemos, lírios, gérberas, margaridas e muitas outras. O município concentra metade de toda a área cultivada na Região Serrana, a maior produtora do estado, com cerca de 500 floricultores. Segundo o IBGE, dos nove milhões de maços/dúzias de flores produzidos por ano na região, 4,5 milhões são plantadas pelos mais de 200 floricultores do município.

No total, a região concentra 60% dos produtores de flores de corte do estado, posição que se mantém no quesito consumo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Flores (Ibraflor). Vargem Alta, distrito de São Pedro da Serra, a 10 quilômetros do Centro, é o principal polo de produção. Estes números colocam o município como o segundo maior produtor de flores do Brasil, atrás apenas de Holambra (SP).

Em 2014, o setor movimentou cerca de R$ 650 milhões em todo o Rio de Janeiro. Em 2015, 1.074 profissionais cultivaram uma área superior a 950 hectares, uma demonstração do pleno desenvolvimento do setor no estado. O montante gera 10% do total de faturamento no país, ficando atrás apenas de São Paulo, responsável por 35%. E a produção continua crescendo, ano a ano.

A história da Primavera brasileira

Sabia que Primavera é o nome de uma planta genuinamente brasileira, originária da Mata Atlântica? Pois bem, ela tornou-se mundialmente conhecida após ter sido coletada por Louis Antoine de Bougainville, almirante francês que navegou em volta do mundo no século 18 e andou por aqui. Mais precisamente, nas serras do Rio de Janeiro.

Reza a lenda que este francês, pirata, segundo as más línguas, teria se encantado com a planta natural destas plagas. Antes de partir, coletou alguns exemplares da nossa Primavera para presentear o Rei Luís XIV. Este, por sua vez, teve a generosidade de incentivar o seu cultivo por toda a Europa. Inclusive, uma preciosa amostra destas plantas encontra-se depositada no Museu de Paris, sendo a primeira referência formal à planta.

Em troca da descoberta, Bougainville foi homenageado dando o seu nome à bela planta brasileira, na forma latina: Bouganvillea, ou planta de Bouganville. Foi-lhe ainda acrescentado um segundo nome, glabra (latim), referente ao fato de a planta não possuir pêlos nas folhas, sendo lisa ou despida de pêlos.

De todas as trepadeiras, a nossa Primavera é, sem dúvida, uma das mais cultivadas nos jardins tropicais do mundo inteiro e também em vasos, nos países frios.

Com podas adequadas pode ser cultivada como uma pequena árvore, ou grande, neste caso  se possuir um tronco suficientemente forte que dispense apoios. Este formato, chamado de “escandente” ou “apoiante”, é comum para algumas plantas, que crescem “apoiando-se” em outras plantas até conseguir se sustentar sozinha. Através de podas bem conduzidas pode-se “moldar” a Primavera, obtendo praticamente a forma que se quiser dela.

No entanto, no Brasil, ela não é tão facilmente encontrada na forma de árvore de grande porte. Ela floresce abundantemente na primavera, e em menor escala, também no começo do outono. Já na Europa, ela floresce apenas na primavera.

Quando avistada pela primeira vez, a buganvile possuía flores roxo purpúreo. Posteriormente, outra espécie descoberta apresentou flores avermelhadas, recebendo então o nome de Bounganvillea spectabilis. Destas duas espécies obtiveram-se híbridos e muitas variedades de cor, desde o branco (variedade “branca-de-neve”) até o salmão (variedade “orange king”).

A espécie B. glabra possui folhas menores, lustrosas e lisas, caules mais curtos, poucos espinhos e floradas mais contínuas. Já a espécie B. spectabilis é mais vigorosa, com seus caules longos com grandes espinhos curvados, folhas maiores e aveludadas.

Características

A trepadeira lenhosa, muito vigorosa, pode atingir 20 metros de altura e seu tronco chega a atingir 40 a 80 cm de diâmetro. Em seu habitat, a Primavera cresce encostada em grandes árvores e utiliza-se delas como ‘tutores’, emitindo brotações muito vigorosas na vertical, até atingir o topo da árvore.

Aí, então, abre-se em copa e suas folhas e flores se confundem com as da própria árvore que serviu de apoio. Desenvolve longos ramos, com espinhos recurvados. Folhas pequenas, lisas, membranáceas, levemente alongadas e brilhantes de tamanhos variados.

As belas e coloridas “flores” da primavera não são exatamente as flores da planta: são brácteas (folhas modificadas) que envolvem as verdadeiras, e relativamente insignificantes. As verdadeiras flores são pequenas e projetadas, de coloração amarelo-creme.

Pode ser conduzida como arbusto, arvoreta, cerca-viva e como trepadeira, enfeitando com majestade pérgolas e caramanchões de estrutura forte. Resiste relativamente bem às geadas.

Um país tropical, bonito por natureza

As plantas da Mata Atlântica surpreendem por sua beleza, resistência, durabilidade, e as flores encantam pela beleza e forma exótica. Localizado em uma região tropical onde é comum as estações, vez em quando, se cruzarem ao longo de suas transições, o Brasil abusa de sua capacidade de ser exuberante.

Graças à sua rica fauna e flora, há neste país de dimensões continentais diversos tipos de vegetação, e uma que merece destaque, com certeza, é um dos nossos seis biomas:   a Mata Atlântica, que segue por uma parte significativa do litoral brasileiro. No momento, ocupa uma área de cerca de 100 mil quilômetros quadrados.

Devido à sua intensa biodiversidade, ela é uma das florestas tropicais mais importantes do planeta. Contudo, essa formação vegetal está passando por um momento delicado, em processo de extinção, aliás, gradual, mas constante, desde o descobrimento do Brasil. A extinção da Mata Atlântica começou com a chegada dos portugueses, em 1500, pois foi nesse momento que teve início a extração sem precedentes do pau-brasil, uma das principais árvores dessa floresta.

Hoje em dia existem ainda mais problemas que despertam a preocupação de quem deseja defender a biodiversidade dessa floresta. Entre os principais problemas que esse bioma enfrenta estão o corte ilegal de árvores, a poluição do meio ambiente e a degradação das áreas verdes.

As mais variadas de todo o mundo

Quase nunca uma estação termina com data e hora marcada. Não temos as quatro estações tão marcadas como em outros lugares do mundo, e não raro percebemos apenas dois períodos do ano: um frio e seco, e outro quente e chuvoso.

Apesar disso, a primavera ainda é um marco para o florescimento de muitas plantas, período em que o clima favorece o desabrochar, oferecendo também solo e temperatura mais adequados ao seu desenvolvimento. Essa época também é uma preparação para o surgimento dos frutos, quando os animais polinizadores estão em plena atividade.

Nos períodos mais quentes do ano, abelhas, borboletas e pássaros polinizam as flores, mas no inverno, por resistirem mais ao clima frio, só os pássaros continuam “trabalhando”. Quando a temperatura começa a subir, a atividade metabólica dos insetos também aumenta, realizando-se mais polinizações. Por isso o verão é caracterizado pela presença marcante também de frutos.

As plantas típicas da primavera, aquelas catalogadas como as de “dias longos” (maioria), são as que precisam de uma exposição maior ao sol. Nesta época, os dias já vão se tornando mais longos, até que chegue ao ápice no verão.

Não existe apenas um fator responsável pelo início do florescimento, porém podemos citar o aumento da temperatura, da umidade e das horas de sol do dia como os principais responsáveis.

As plantas da Mata Atlântica certamente são as mais variadas de todo o mundo, já que mais de 25 mil espécies comportam toda a fauna local, a maior diversidade em todo o mundo. Podemos encontrar plantas bem características e que fazem parte dessa fauna tão rica e poderosa, como nenhuma outra é capaz de ser igual.

Entre as milhares de plantas espalhadas por esse imenso país de solo fértil e clima propício para o desenvolvimento de espécies de variadíssimas condições, citamos apenas a mais ínfima porcentagem: manacá, guapuvuru, jequitibá-rosa, quaresmeira, palmito-juçara, manacá-da-serra, cássia, cedro, pau-brasil (quase extinta). E ainda: xaxim, palmito, paineira, figueira, angico, ipê-rosa, bromélias. E não acaba nunca...

(Fonte: blog viveirosabordefazenda.wordpress.com)

Chalet das Plantas: um pequeno bosque no coração da cidade

Uma tradicional família friburguense - os Dias - se dedica há mais de 50 anos ao cultivo de plantas, flores, jardinagem, ornamentação, decoração de interiores. Essa história começou com o patriarca Nelson Dias, que inaugurou a loja Nelson Flores, em 1967, e há tempos está sob o comando do filho Nilson, na Galeria São José. Sua irmã Araceli igualmente se dedica ao seu próprio empreendimento, o Chalet das Plantas, que funcionou por mais de 30 no anexo lateral da Catedral São João Batista.

Hoje a empresa ocupa 3.600 metros quadrados nas Braunes, um espaço que, à medida que o visitante vai percorrendo, descobre caminhos que se dividem em trilhas que lembram labirintos. É um sobe e desce cheio de surpresas. A atmosfera característica envolve o visitante de tal forma que o leva a acreditar que passeia em um pequeno e encantador bosque. O ar que se respira ali é puro oxigênio, trazendo uma sensação de frescor revigorante.

Por todo o sítio encontramos inúmeras estufas, canteiros, viveiros, pequenos barracos lotados de centenas de vasos de todos os tamanhos com plantas, flores, folhas, mudas de todas as espécies, muitas das quais nunca vimos ou ouvimos falar. Pena não ser possível reproduzir aqui os aromas, o cheiro típico de mata, o perfume das flores.

Em meio a tantas surpresas, encontramos galos e galinhas, ciscando à nossa volta, integrados àquele ambiente com jeito de zona rural. Mas, para deleite da imensa clientela formada de várias gerações, o novo Chalet das Plantas se reinventou bem pertinho do Centro e continua oferecendo serviços como paisagismo, implantação e manutenção de jardins, hortas e venda de grande diversidade de plantas ornamentais.

Os interessados ainda podem escolher em sua lista de prestação de serviço:  aluguel de plantas, mudas de árvores frutiferas (nativas e exóticas), mudas de árvores nativas, jardins comestíveis, implantação e manutenção de horta orgânica, e mudas de plantas alimentícias não-convencionais (PANCs).

Brincando no jardim

Araceli lembra que na infância, sua diversão preferida era brincar na terra, pegar as mudinhas e plantar, regar, podar, sempre em companhia do pai, com quem aprendeu tudo sobre botânica, meio ambiente, natureza. Era com ele que a menina passava seu tempo livre.

“Eu nem ligava para bonecas ou outros brinquedos. Depois da escola, minha brincadeira preferida era plantar flores, no nosso sítio. Eu nem percebia o tempo passar. É assim até hoje. Venho para essas estufas, ou tendas, e me distraio de tal forma cuidando dos vasos, mudas, e tudo mais, que nem sinto a hora passar”, comenta Araceli, que é professora formada mas nunca exerceu o magistério. “Fiz o curso porque era importante me formar, ter um diploma. Mas preferi contrinuar com as minhas plantas”.

Com ela está Dalva, há quase 40 anos, nutrindo a mesma paixão pela jardinagem. “Ah, lidar com a natureza é muito bom, não poderia fazer outra coisa. A gente aprende muito sobre a vida, convive com pessoas interessantes que têm uma ligação muito forte com a natureza, e que respeitam também os animais. Então, há muita afinidade entre nós e nossos clientes”, comentou.

Quanto à produção, Araceli explicou que o volume da colheita não varia tanto de uma estação para a outra. Segundo ela, a floricultura brasileira é tão farta, o solo tão fértil, o clima tão favorável, que cada estação tem sua floração característica.

“Temos flores o ano inteiro, umas mais outras menos, dependendo das temperaturas, mas de modo geral, há o que colher o ano inteiro. Na primavera, naturalmente, há mais cor, uma maior variedade de espécies, é uma estação mais cheia de atrativos. As rosas, por exemplo, se sobressaem muito mais nesta época. Já em relação às orquídeas, são tantas espécies que sempre têm algumas florescendo ao longo do ano. O mesmo acontece com outras plantas. Quer dizer, temos trabalho de janeiro a dezembro”, revelou, demonstrando seu imenso prazer com a profissão que escolheu.  

 

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TAGS: Clima | Meio Ambiente
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