Wanderson Nogueira: Palavreando

sexta-feira, 18 de abril de 2008
por Jornal A Voz da Serra

Mudando de verbo

O agora é o que muda o mundo! Mas é raro perceber. O pior é sempre o que a gente vive hoje e o melhor é sempre o que a gente viveu ontem. E o amanhã é sempre uma resposta às nossas frustrações do que não buscamos nesse momento. Tudo o que temos é esse momento. Não há garantia alguma de que o depois virá! Você é tudo o que tem nesse instante!

Às vezes, passamos a vida nos lamentando daquilo que temos e não temos ou daquilo que o outro tem e não tenho... O grande vício desse mundo doente é a desgraça do verbo ter. Quando o ser deveria ser o mais importante.

Ser é a soma de tudo o que nos circunda: das pessoas, manias, sonhos, desejos, medos, infância, adolescência, juventude... É o resultado da nossa história em construção. Ter é superficial, delimitado e ganancioso. Ter aquela pessoa, mania, sonho, desejo, medo, infância, adolescência, juventude, missão... Ser é libertador e evolutivo. Eu sou este amor, eu sou este sonho, eu sou esta juventude que se houver amanhã será uma juventude mais madura, transformada. Eu sou esta missão! E a mais dura e real afirmação: eu sou este mundo!

Somos críticos em potencial deste mundo que aí está, mas nos esquecemos de que somos os responsáveis por ele. Criticamos a nós mesmos sem saber. É fácil jogar a culpa para os outros, difícil é admitir a nossa parcela de sujeira nisso tudo. Tudo o que germina é semente do que plantamos. O que nós temos plantado?

Já acreditei que nós nascemos bons e o mundo nos torna maus e continuo acreditando, por auto-piedade, talvez, mas o que me indigna é a nossa fraqueza para pender para o mal e nossa falta de força, por preguiça ou seja lá o que for para fazer o bem. Quando falo em bem é o bem puro e ingênuo, desgarrado de qualquer interesse mesmo que oculto nas fortalezas de nossos corações. É o verdadeiro amor, aquele que esquece o ter e apenas pensa no ser. Quando isso acontece o tempo torna-se inócuo e irreverente.

O tempo não é apenas o ontem, o hoje e o amanhã, mas o que você faz com o ontem, o hoje e o amanhã. Como você tem sido com o instante ido, com o agora e com a promessa do momento seguinte. Às vezes somos como o vento, mas não somos o vento. Na maioria das vezes somos folhas que se deixam levar, mas também não somos folhas. Há vezes que somos ambos, vento e folha, mas não somos nem um, tampouco outro. Somos seres responsáveis por seu próprio destino e pelo destino do tempo-espaço que ocupamos.

se esse instante é tudo o que temos e esse momento é tudo o que somos faça agora e não amanhã. Chore pelo hoje e não pelo ontem, mas aprenda. Não fique esperando o sorriso futuro, nem a luz no fim do túnel, comece a procura nesse minuto. E ao procurar, talvez perceba que a diversão está na procura e não na descoberta em si. Fale o que tem pra falar sem medo de que depois seus pensamentos e sentimentos mudem e decerto vão mudar, mas fale. Se você é esse instante e este momento pode ser tudo que tem, por que privar-se? As alegrias ou tristezas de uma resposta, mesmo que não em palavras, libertam e essa é a única possibilidade que você terá para provar o que é voar sem ter que estar dentro de um avião, helicóptero, asa-delta ou qualquer dessas parafernálias tecnológicas. Voar com suas próprias asas, capa ou mesmo sem qualquer componente desses que serve aqui, nos filmes e nas poesias somente para glorificar a cena. As pessoas nos influenciam e não há problema nenhum nisso quando se está ao lado das pessoas certas. Como os iguais se juntam, por mais que os opostos se atraiam, a tendência é você se tornar uma pessoa melhor ainda.

Seremos tristes e felizes, mas que sejamos essa tristeza e essa felicidade no ápice de cada uma delas. Estaremos vivos e mortos, essa é a lei, mas que não morramos sem sequer ter vivido, ou melhor, sem sequer experimentar ser vida!

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