A situação é muito difícil também porque o estado se planejou mal lá atrás
O senhor foi o vereador mais jovem a ser eleito na atual legislatura municipal, e após dois anos de mandato já foi eleito para o cargo de deputado estadual. Como foi a adaptação a esta nova realidade? A experiência política acumulada em Nova Friburgo foi importante?Sim, valeu demais a experiência de dois anos como vereador. Fiz um mandato de vereador acelerado, e igualmente estou fazendo um mandato de deputado bastante acelerado. É claro que aquele palácio, aqueles caciques políticos, e o convívio com as pessoas que decidem os rumos do estado do Rio são coisas que assustam. Mas depois de duas semanas eu já estava me sentindo em casa, vi que não era nenhum bicho de sete cabeças. A facilidade de comunicação ajudou bastante, e já no começo do mandato, me tornei um dos deputados que mais usou a tribuna. Cheguei ao fim de 2015 na condição de um dos cinco deputados que mais discursou, e é bom observar o respeito que foi adquirido num curto espaço de tempo. O mais interessante nisso tudo é que este respeito não é direcionado apenas a mim, como indivíduo, mas é um respeito regional. Até porque sou sempre citado com o deputado da região serrana, o deputado de Nova Friburgo. E o próprio presidente da Alerj (Jorge Picciani) já falou que eu sou o futuro daquela casa, o melhor deputado da região que já passou por lá em toda a história. Ele sempre me incentiva a continuar firme e forte. Tanto é que neste curto espaço de tempo fui escolhido para coordenar o projeto mais importante da Alerj, que é o Parlamento Juvenil, e a avaliação do trabalho foi extremamente positiva, considerada amplamente como a melhor edição já realizada. E me colocaram também na vice-presidência da CPI que investiga os homicídios cometidos por ações policiais. Essa CPI é atualmente a mais importante da casa, e tenho me destacado neste trabalho. Ou seja: a CPI e o Parlamento Juvenil servem para resumir o destaque e o espaço que a gente acabou conquistando dentro da Assembleia Legislativa. Sua eleição acabou encerrando um período em que Nova Friburgo estava sem representação na Alerj. Na sua avaliação, essa carência pode ter sido um fator na forma como os outros deputados te acolheram?
É verdade, Friburgo estava sem representação, e é claro que essa representação é importante. Mas eu penso que o mais importante não é ter a representação, mas que ela seja de qualidade. Não adianta ter por ter, porque aí não faz diferença. Ter um deputado apenas para atender a interesses individuais, ou apenas para a ocupação do cargo, não adianta. A representação tem que efetivamente ser a ponte para atender aos anseios da Região Serrana, e do Centro-Norte especialmente, com o Executivo estadual. Esta é a obrigação do parlamento. Principalmente quando se é um representante que tem a característica de uma região. E para representar, todos os instrumentos são fundamentais. Os projetos de leis nem sempre são voltados só para a região, pois é preciso ter uma visão de estado também; de requerimentos de informação, audiências com secretários... Eu conversei praticamente com todos os secretários de estado, quando não telefonei para tratar de temas específicos, como foi o caso dos ônibus intermunicipais. O secretário de transportes, Carlos Osório, cansou de me atender. O presidente do Detro, Carlos Luiz Martins, também. E a condução de programas importantes. Enfim, não adianta ter um deputado só por ter. O Parlamento Juvenil acaba sendo em alguma medida um termômetro do que vem pela frente na política estadual. Sendo um político jovem, qual é a leitura que o senhor faz desse programa?
Esse programa sintetiza o jovem como protagonista. E também essa percepção do jovem de entender que todos nós somos políticos, e por isso a recusa à política é, acima de tudo, uma recusa a si mesmo e à vida em sociedade. Afinal, as transformações acontecem pela política. O Parlamento Juvenil teve a oportunidade, não de formar políticos de cargos eletivos, mas sim cidadãos mais políticos. Alguns projetos interessantíssimos foram apresentados pelos jovens. Projetos que inclusive eu vou adotar, e tenho feito força para que outros deputados ligados a essas pautas possam adotar. Mas o mais importante do Parlamento Juvenil é a demonstração que ele faz da diversidade do Rio. É um estado que tem sotaques, que tem grandes diferenças. Que, apesar de ser geograficamente pequeno em comparação a outros, tem uma multiplicidade que tem que ser aproveitada. O programa me deu uma visão estadual. Mas é super interessante ver todos os 92 municípios representados dando destaque a Friburgo e ao deputado de Friburgo. É muito interessante essa ligação com a cidade, e também o pedido para que eu possa estar representando a juventude e as necessidades dos seus municípios. Como foi a sua relação com o governador ao longo de 2015?
Uma boa relação. Uma relação de respeito às individualidades ideológicas - eu tenho uma ideologia, o governador tem outra -, e eu gosto de algumas características do governador Pezão, como a simplicidade e a inteligência. Mas também não se pode negar, e eu tenho dito isso em muitas oportunidades, que essa herança maldita, entre aspas, é fruto também de gestões das quais ele participou. Então ele fica numa situação difícil, por não poder falar de algo que ele fez parte. Hoje o estado do Rio está numa crise econômica e financeira gigantesca, mas graças ao espírito agregador de alguns deputados considerados independentes, como é o meu caso, foi possível evitar que esta crise econômica viesse a sofrer um agravamento por conta de uma crise política. A crise política que se vê em Brasília não se sente no Rio de Janeiro, graças à parceria que a Alerj estabeleceu. Eu lidei com projetos que, em outro contexto, eu não teria votado de maneira favorável. Mas, reconhecendo o momento de dificuldade enfrentado pelo estado, votei de forma favorável para que se pudesse garantir o pagamento aos servidores, pensionistas, aposentados, e para que o estado pudesse honrar seus compromissos. Não fosse pela aprovação desses projetos a situação do governo estadual estaria muito mais difícil. Agora, noutros casos não é possível votar de forma favorável, e aí vai um pouco da minha crença também. O aumento do IPVA foi um bom exemplo. Eu disse isso na tribuna, e fiz força. Conseguimos reduzir, porque o governo queria um aumento muito maior do que o que foi aprovado. Através de emendas - inclusive minhas - nós conseguimos diminuir o valor das alíquotas Ainda assim votei contra, porque eu não acho que aumento de imposto sempre vá gerar aumento de receita. Ao contrário, aumento de imposto pode gerar também aumento de evasão fiscal, porque muitas pessoas vão emplacar seus carros no Espírito Santo ou em Minas Gerais, cujo IPVA já era mais barato que o nosso, e também pode gerar aumento de inadimplência. Aumentar imposto não significa que irá aumentar a receita. Sou insistente nessa posição e acho que o tiro pode sair pela culatra. Aumento de ICMS? Voto contrário. Agora, empréstimo de R$ 6 bilhões do Fundo do Judiciário, que salvou o estado no fim de 2015, eu votei favorável por reconhecer a dificuldade e perceber que não havia outra saída. Qual a sua leitura em relação às perspectivas da economia fluminense neste ano de 2016?
Será um ano muito pior do que foi 2015. Eu tenho estudado muito, acompanhado muitos seminários, tenho ouvido bastante, tenho colhido muitas informações, e já no início de agosto de 2015 eu sabia que a crise seria grave. Mas a nossa previsão - minha e dos estudiosos que ouvi - era de que essa crise iria chegar definitivamente em abril de 2016. E infelizmente ela chegou bem antes, em dezembro. A situação é muito difícil também porque o estado se planejou mal lá atrás, estabelecendo toda a sua política financeira em cima do petróleo, que é um bem findável. E há também os fatores externos, que são importantes para compreender o agravamento da crise, uma vez que o barril do petróleo custava US$ 120 e despencou para menos de US$ 50. As projeções para este ano não são muito diferentes. O dólar alto, e boa parte das dívidas do estado são em dólar. E há ainda o problema da Petrobras, mas a crise da Petrobras não foi o fator mais importante, e sim a própria lógica de planejamento do estado. Como resolver essa crise? Existe uma grande união de esforços, mas há a necessidade de que seja feito um enxugamento da máquina administrativa, com cortes de cargos comissionados, e mesmo isso não será suficiente. O Estado precisa agir com mais inteligência nos seus gastos, mas também nas suas prioridades. Eu acho que as prioridades - e aí vem minha crítica ao governo Pezão -, elas estão equivocadas. Uma diferença grande que existe entre a Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa é a de que os deputados lidam também com a segurança pública de uma forma muito mais pesada, inclusive enfrentando milícias, crime organizado e tudo mais. Como está sendo a experiência de participar de uma CPI que investiga justamente possíveis crimes cometidos por policiais?
Na verdade eu nunca fui muito ligado à área de segurança. Havia mais de 30 deputados interessados em fazer parte desta CPI, e eu acabei sendo convidado a fazer parte dela. Os autores da CPI, deputados Rogério Lisboa e Marcelo Freixo pediram que eu participasse porque eles me identificavam como uma pessoa que poderia contribuir muito. E o presidente Jorge Picciani também quis que eu participasse dessa CPI. Então nós poderíamos dizer que eu fui convidado muito mais pelo destaque em outras pautas, e por isso me pediram que eu participasse também deste tema de segurança pública. Acabei sendo eleito vice-presidente da CPI, e já tive que presidir os trabalhos, tive a oportunidade de fazer quase que a tarefa do relator, durante a visita aos quatro policiais do crime de Costa Barros. E acabei tendo que mergulhar nessa especialidade, e mergulhar na realidade da cidade do Rio de Janeiro, porque a questão específica da CPI está muito enraizada na Região Metropolitana do Rio. Sobre a qual, confesso, eu não tinha muito conhecimento, e agora estou tendo que ter. Mas, para mim, o mais importante que esta CPI tem que concluir - e a gente está trabalhando para isso - é que está morrendo policial, está morrendo inocente... É preciso abordar também o tratamento judiciário com relação aos bandidos, nós precisamos negar a legitimidade dessas mortes. E o mais importante: o estado tem a sua culpa. O policial pode portar a arma, mas quem aperta o gatilho é o estado. Eu quero dizer que o estado tem que ser mais penalizado no arcar com as compensações legais - por mais que não existam compensações satisfatórias para quem perde um ente querido - mas também no que diz respeito às punições às pessoas físicas. Punição ao secretário, ao comandante que faz essas operações destrambelhadas, ao próprio governador. Todos têm que ser responsabilizados, ou então vão continuar morrendo pessoas e a situação vai ficando cada vez mais grave. O estado do Rio é o que mais mata, as operações policiais que mais matam são as realizadas aqui. E isso ocorre dentro de um recorte geográfico e racial muito contundente. É perceptível! Mas o estado não é o único culpado. O Poder Judiciário, o Ministério Público, também fazem ações que legitimam essas mortes. Só 1% das investigações são concluídas, e pior: há um grande corporativismo nessas investigações. Aí falham o Executivo e o Judiciário. É um absurdo isso acontecer, é isso que a CPI tem que resolver. É preciso mudar a lógica da segurança pública estadual. Sair de uma lógica de guerra, onde se mata e se morre, e passar para uma segurança pública que, de fato, não seja fundamental. A pasta de segurança recebe mais do que as secretarias de saúde e educação. Ou seja: estamos enxugando gelo, atacando as pontas, e esquecendo de prevenir, sobretudo através da educação. Essa é outra defesa que eu faço, embora seja ligada à esfera federal: a política pública de drogas no Brasil é um erro retumbante. A gente tem que ter a coragem de tratar usuários de drogas como uma questão de saúde pública, e a polícia não pode continuar gastando recursos e tempo com usuários de drogas. Ao contrário, é preciso focar na violência maior, nos assassinos e nos grandes traficantes. Só assim também a gente combate a corrupção que existe neste setor. Aliás, tratar de segurança só é tão complicado porque a corrupção é generalizada. Tanto na ponta, com vários policiais através do arrego, como nos políticos que são financiados por traficantes. E é preciso combater o discurso fascista, porque o discurso fascista também mata. E também existe na Alerj...
Existe na Alerj, representado muito bem por algumas figuras. Especialmente o deputado Flávio Bolsonaro, que defende esta pauta e tem gente que aplaude. Esse discurso mata pessoas, principalmente negros e pobres. Você sempre diz que seu mandato como vereador foi acelerado, e ele acabou terminando na metade, com uma candidatura bem sucedida a deputado estadual. Como seu discurso continua o mesmo, é possível que o mandato de deputado estadual também venha a ser interrompido por uma eventual candidatura à prefeitura de Nova Friburgo?
É importante dizer que o mandato é acelerado porque nós temos urgências e pressa na solução dos problemas, e a gente não pode esperar. Eu tenho sim o sonho de um dia ser prefeito de minha cidade, mas, como eu sempre disse, faço a defesa da candidatura do deputado federal Glauber Braga à Prefeitura em 2016.
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