Você é contra ou a favor da legalização do aborto?

terça-feira, 26 de outubro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Dalva Ventura

O tema ganhou as ruas e voltou a ser debatido com ardor nas esquinas, nas rodas de conversas e na internet. E não sai de pauta, mesmo depois de toda a polêmica e dos candidatos José Serra e Dilma Roussef terem se pronunciado, garantindo que, caso eleitos, não encaminharão ao Congresso nenhum projeto regularizando o aborto.

Trata-se de uma questão espinhosa e que dá margem a grandes polêmicas. De um lado, aqueles que defendem o direito da mulher interromper uma gestação indesejada. Do outro, quem acha que o aborto põe fim a uma vida, ou seja, é uma forma de matar um ser humano. A discussão parece interminável. Os argumentos são os mais variados, envolvendo aspectos éticos, morais, médicos, científicos, jurídicos e religiosos.

No Brasil o aborto só é permitido se for para salvar a vida da mulher ou para interromper uma gravidez que resultou de estupro. E, embora estes casos estejam previstos no Código Penal desde 1940, só passaram a ser feitos na rede pública em 1997. Não é novidade, porém, que muitos outros motivos levam as mulheres a abortar. Muitas vezes – ou melhor, quase sempre – em condições precárias, inclusive correndo riscos. As estatísticas (ver quadro) refletem uma realidade dramática.

A VOZ DA SERRA foi às ruas para saber a opinião das pessoas sobre o tema. Confira.

“Sou radicalmente contra qualquer tipo de aborto. Até em animais. Não concordo com isso. Acho que quando Deus dá a vida, ninguém tem o direito de tirar. Não concordo com abortos nem em casos de estupro ou quando há risco para a mãe. Acho que a vida vem por alguma razão. Em minha opinião, ninguém engravida à toa e ninguém tem o direito de tirar a vida. Eu sou espírita, estudo isso e penso de acordo com minha religião”.

Geraldo Ventura Filho (Teleco), 56 anos, comerciante, Cônego

“Sou contra. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. E, por mais que a pessoa não deseje ter um filho naquele momento, ela fez por onde isso acontecer. Se decidiu fazer algo que pode gerar uma criança, tem que ter consciência para assumir seus atos. Sem exceções. Mesmo em casos de violência sexual, pois ela vai ter parentes e amigos para ajudar, até porque, nestes casos, é impossível alguém não se condoer. Então, eu não faria em hipótese alguma. Não critico quem faz, mas também não aceito. E se souber que alguma amiga está pensando em fazer um aborto, pode ter certeza, faria de tudo para ela desistir”.

Priscila de Oliveira Barcelos Valentim, 22 anos, vendedora, Olaria

“Acho que está mesmo na hora das pessoas se manifestarem sobre este tema, até por causa da polêmica causada pela campanha presidencial. Foi bom, porque o assunto, que normalmente fica assim meio esquecido, veio à tona. Quanto a mim, sou contra, em qualquer hipótese. Com convicção mesmo. Como católico, mas independente de religião. Nos casos permitidos pela legislação até pode se discutir, mas a rigor sou contra a legalização”.

Marcelo Pereira, 43 anos, servidor público, Cordoeira

“Apesar de saber que existem muitas pessoas que morrem porque vão procurar este tipo de intervenção em lugares clandestinos, sou contra a legalização. Acho que é preciso, antes de mais nada, educação. Quando o povo é educado, você pode legalizar tudo, porque as pessoas têm formação, educação, sabem se prevenir. Mas o nosso povo, infelizmente, não tem este preparo. Acho que se legalizarmos o aborto, os casos vão aumentar porque a população não é preparada para isso. Aí eu sou contra, porque sou espírita e minha religião me ensina que o aborto ceifa a vida. Eu sou a favor da vida e acho que ninguém tem o direito de tirá-la”.

Lúcia Helena Alves, 51 anos, musicista, Cônego

“Esta é uma questão muito complicada. Não sou a favor do aborto, mas sou a favor da mulher ter o direito de fazer o que quiser da sua vida e de seu corpo. Sou espírita e, de repente, não teria coragem de fazer, mas acho que a pessoa tem o direito de escolher o que quer, independente de religião ou de qualquer outra coisa. Se eu tivesse uma filha com 18 anos que estivesse entrando numa faculdade e engravidasse, certamente daria a ela a opção, a liberdade de escolher. Não iria interferir em sua vida, mas deixaria claro que, se ela resolvesse abortar, a responsabilidade seria dela”.

Renata Alves, 39 anos, representante comercial, Centro

“É complicado pra caramba. Porque agora teve este negócio da política, se tem que liberar, se não tem. O que eu acho é que abortar ou não diz respeito à opção de cada um. Tenho três filhas, lindas, maravilhosas. Já pensou se eu tivesse tirado uma delas? Agora, em caso de estupro ou de risco para a mãe, acho que nem se discute, mas liberar geral, não sei não. Minha tendência é achar que isso deveria ficar a critério de cada um, que deveria ser uma decisão pessoal”.

Marina Garlipp, 48 anos, comerciante, Mury

“Não sou a favor do aborto. Moro nos Estados Unidos, onde o aborto é liberado até os três meses. Basta ir numa clínica, não precisa nem dizer o motivo. Mas, eu não tiraria um filho em hipótese alguma. É perfeitamente possível se prevenir para não engravidar. Não tem por que deixar acontecer”.

Mayara Hottz, 21 anos, autônoma, mora atualmente em Ford Lauderdale (EUA)

“Sou contra e não faria, mas não condeno quem faz. A consciência é de cada um. A legalização que existe, permitindo o aborto em casos de estupro ou de risco de vida para a mulher, é mais que suficiente.”

Ruth Rezende Cunha, 52 anos, consultora de vendas, Centro

“Outro dia houve um debate na faculdade sobre este tema. Eu sou defensor da vida, mas não fecho questão. Muita gente defende a tese, mas só quando o problema é na casa dos outros. Quando ele passa a ser dentro de sua casa, a pessoa muda de opinião. Claro que é preferível não fazer. Ninguém acha isso lindo, maravilhoso, mas não se deve fechar questão. Até para não correr o risco de falar, falar, e depois ter que mudar de opinião quando o problema bate na nossa porta.”

Ricardo Pedretti, 55 anos, corretor de imóveis, Conselheiro Paulino

“É complicado, porque a gente sabe quantas meninas morrem nessas clínicas clandestinas. Por outro lado, quando se legaliza, muitas pessoas passam a achar o aborto uma coisa aceitável. A questão tem estes dois lados. Eu não faria, de jeito algum, mas sou a favor da legalização”.

Thaís Erthal, publicitária, mora atualmente no Texas (EUA)

“Sou a favor da legalização do aborto até o terceiro mês de gravidez, sim, pois, para mim, o que torna um embrião humano não é ter um rim funcionando ou um coração batendo, mas sim um cérebro em atividade. É só observar o seguinte: o critério para dizer quando uma pessoa morreu é a morte cerebral, e não a morte de outros órgãos. Isso deveria ser levado em conta para considerar o início do indivíduo, e não a fecundação. Até o terceiro mês de gestação, o embrião não percebe o mundo, não tem consciência, ou seja, é um punhado de células como qualquer pedaço de pele. Por isso não condeno as mães que optam por não continuar a gestação antes deste período. O argumento de que o embrião dará origem a um ser humano não vale, porque seria o mesmo que tentar proteger os óvulos que se perdem logo antes das menstruações em todas as mulheres, ou os espermatozoides que são jogados fora na masturbação masculina.”

Mariana Soares da Silva, 35 anos, médica, Centro

“Este número absurdo de abortos – mais de um milhão por ano – só ocorre devido à falta de uma regulamentação. Se fosse legalizado, o índice de mulheres que morrem em função de abortos clandestinos certamente cairia muito. Além disso, acho que o feto não pode ser considerado um ser vivo, até porque se fosse assim a gente teria que considerar que muitas crianças morrem quando os homens se masturbam. Portanto, sou a favor da legalização do aborto, sim, porque as mulheres têm o direito de decidir sobre seu próprio corpo.”

Lucas Gomes, economista, 40 anos

Dados que impressionam

Segundo estimativas do Ministério da Saúde, todos os anos ocorrem cerca de 1,4 milhão de abortamentos espontâneos e ou inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para cem mulheres de 15 a 49 anos.

Morrem no país no mínimo 250 mulheres em função de abortos. Um terço das mulheres procura assistência hospitalar devido aos transtornos causados por introdução de objetos na vagina para matar o feto, uso inapropriado de medicação abortiva ou expulsão incompleta.

Entre 18 e 19 anos, uma em cada 20 mulheres já fez aborto.

De cada cem mulheres entre 18 e 39 anos, 15% já fez aborto.

Entre 35 e 39 anos, de cada cinco, uma já fez aborto.

A região que registra o maior número de abortos é a Nordeste e a menor, a Sul.

Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 31% dos casos de gravidez terminam em abortamento (quase três em cada dez mulheres grávidas abortam).

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