Com o passar dos anos, várias tradições antigas deixaram de ser seguidas, mas os costumes da Semana Santa parecem imunes ao tempo. A maioria das famílias ainda respeita os ensinamentos religiosos e não consome carne vermelha, optando pelo peixe principalmente na sexta-feira santa.
O fato pode ser comprovado pelo aumento na comercialização do pescado durante o período de páscoa. As duas tradicionais peixarias da Vila Amélia, por exemplo, calculam alta de 50% nas vendas este ano. Nesta semana da sexta-feira santa os estabelecimentos recebem peixes frescos todos os dias para atender a demanda.
A comerciante Lania de Souza Marreto comemora o maior movimento e ressalta a continuidade da tradição. “A cada ano as vendas aumentam e temos que nos preparar para receber uma maior quantidade de produtos. A variedade de peixes vendidos também aumentou bastante e o uso do cartão de crédito facilitou bastante. Mesmo sendo no fim do mês as pessoas podem fazer as compras”, revelou.
O peixe favorito dos consumidores ainda é o bacalhau. O preço do lombo dessalgado sofreu uma redução em torno de 10% nos últimos anos e está custando R$ 35 em média, cerca de R$ 15 a menos que em 2009. “O preço sempre varia de acordo com a oferta e a procura dos consumidores. A maioria dos valores se manteve em comparação ao ano passado e pode sofrer uma redução”, disse Oslain Carvalho, proprietário de uma das peixarias do bairro Vila Amélia.
A possibilidade de queda dos preços se deve à redução de impostos e a liberação da pesca da sardinha e da cavalinha, dois peixes bastante consumidos nesta época, especialmente pelas pessoas que não gostam de bacalhau. Além destes, a corvina, o filé de cação e o peixe-espada são procurados com frequência. “Esses tipos de peixes são menos salgados e custam menos. Às vezes a questão financeira influencia na hora de decidir qual tipo comprar”, destacou Oslain.
Outro fator que influencia no momento da escolha são as calorias. Apesar de ser menos prejudicial à dieta do que a carne vermelha, a dica dos especialistas é optar pelos peixes de carne clara. Quanto mais escura, maior a concentração de ômega 3, um tipo de gordura necessária, mas que deve ser consumida com moderação.
De qualquer forma, seja pela tradição ou por preferência culinária, o peixe continua presente no cardápio dos brasileiros nesta e em outras épocas do ano.
Opiniões
“Eu sigo as tradições de comer peixe nas sextas-feiras santas por conta da religião. Eu sou católico e acho muito importante. As pessoas ainda seguem e respeitam esse costume antigo.”
Moacir Zavos, 50, lavrador, Duas Barras
“Acho importante seguir esse costume, principalmente porque eu sou católico. É uma questão de respeito e tradição. Eu acredito que a maioria das pessoas que não seguem essa religião também respeita a data.”
José Gonzaga, 75, aposentado, Duas Barras
“Sem dúvidas eu respeito essa tradição, apesar de nesses anos os preços estarem um pouco salgados em relação ao ano passado. Primeiro por eu ser católica e achar certo, seguindo a história bíblica. Mas nem todas as pessoas que não acreditam no catolicismo cumprem esse costume.”
Suenir Moraes, 69, aposentada, Vila Amélia
“É um seguimento antigo, que passa de geração para geração e vem desde a época dos meus avós. Nós tivemos esse ensinamento de respeitar e temos que cumpri-lo. Não podemos perder essa tradição, é crucial. Ainda vou fazer uma pesquisa com relação aos preços para saber se estão acessíveis, mas de um jeito ou de outro eu vou seguir o costume de comer peixe, principalmente na sexta-feira santa.”
Valcir Berriel, 60, construtor de obras, Chácara do Paraíso
“Minha família segue esse costume, mas eu nem sempre. Eu normalmente evito comer carne e prefiro comer peixe. Sou de Recife, moro em Macaé de Cima e venho até a peixaria da Vila Amélia para comprar. Fui acostumada a comer peixe e na sexta-feira santa consumo pela questão da preferência e dos costumes dos meus familiares, e não necessariamente pela tradição.”
Flávia Helena Silveira, 37, psicóloga, Macaé de Cima
“Eu procuro comer o peixe que está mais barato na hora de comprar. Às vezes o dinheiro é curto e compro até mesmo outra coisa. Nem sempre tenho condições financeiras para comer salmão, por exemplo. Eu não acho tão importante seguir essa tradição, pois lá em Portugal, onde morei durante muitos anos com o meu marido, nem todos os católicos têm esse costume e comem até mesmo carne vermelha.”
Roselina Vaz, aposentada, Perissê
“Normalmente não como carne, já há muitos anos. Na sexta-feira eu como peixe ou outra coisa, mas não faço isso todo ano. É uma questão de gosto mesmo, sem levar em conta a tradição. Aliás, eu vejo poucas pessoas seguirem esse costume nos dias de hoje.”
Lucy Sanchez, 65, jornaleira, Vila Amélia
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