Por Max Wolosker
Lembram-se do Astrogildo, aquele morador de um pais distante chamado Lisarb e que tem um amigo brasileiro chamado Hermenegildo? Pois é, outro dia ele enviou um e-mail para o Brasil, onde narrava o seguinte fato com ele ocorrido e pedia ajuda ao seu amigo:
“Desde que me mudei para o Lisarb, há exatos trinta e três anos, que moro na mesma casa, no mesmo endereço e sempre tive dois cachorros, ambos fêmeas. Tais cães têm um canil que é aberto, ou seja, elas só ficam presas por alguma necessidade, e situado nos fundos da casa. A função precípua delas é defender a residência, dar sinal através de latidos quando algum estranho circula pela minha rua, seja durante o dia seja durante à noite. Lógico está que se o estado tivesse condições de dar a proteção que a população necessita, nos dia de hoje, não precisaríamos de cães de guarda.
Quis o destino que eu mandasse castrar uma das fêmeas e o veterinário o fizesse extirpando o útero do animal e deixando os ovários; resultado: quando o período do cio chega, o desejo surge e a pobre coitada virou sapatão, querendo se utilizar da outra fêmea para satisfazer seus desejos naturais. Tal comportamento fora do normal criou uma série de brigas entre as duas, o que me levou a deixá-las separadas, alternando liberdade e prisão no canil entre as duas. Como a presa da vez latia muito e incomodava os vizinhos, optei por soltá-las novamente e se brigassem, problema delas.
No entanto, a partir de 2006 tive a infelicidade de ter como vizinho de fundos um magistrado federal com toda a carga negativa que isso implica. Começa que sua residência é de dois pavimentos, sua varanda de fundos tornava meu quarto totalmente exposto correndo eu o risco de ser acusado de atentado ao pudor se mantivesse relações sexuais com minha esposa com a janela aberta. Resultado: fui obrigado a levantar meu muro em 40 cm para que pudesse namorar em paz.
Pois bem, ontem, terça feira, recebi uma notificação extrajudicial, impetrada pelo meu vizinho, que me dá um prazo de setenta e duas horas para adotar providências no sentido de fazer cessar o incômodo provocado pelos cães, sob pena de sofrer as medidas judiciais cabíveis, inclusive respondendo pelas perdas e danos. Nessa notificação é dito também que meus cachorros não são adestrados, portanto trata-se de cães mal-educados e que, em função do barulho que fazem, ele é obrigado a dormir na casa de seus sogros, nos finais de semana. O curioso é que durante todo esse tempo, uma vida inteira, nunca meus outros vizinhos reclamaram dos meus cachorros.
O que me deixa mais preocupado é que quando me mudei para Avon Ogurbrif , em 1977, o meu bairro apesar de residencial, tinha ainda características rurais, o que me levou a construir um galinheiro, que existe até hoje. O problema é que galinheiros são movidos a galos que têm o mau hábito de cantar com o sol raiando, sempre por volta da cinco da matina. Sera que eles também incomodam o sacrossanto sono do magistrado e terão de virar canja?
Desde há muito que Ogrubirf deixou de ser uma cidade interiorana, bucólica, onde as pessoas vinham passar os fins de semana com intuito de se desligarem do quotidiano dos grandes centros urbanos, em busca de silêncio e tranquilidade. Nosso trânsito é um caos, nossos índices de violência, proporcionalmente, em muito se assemelham aos de uma capital, portanto viver sem ruídos é utopia. Quem tem cães sabe que eles não latem o dia todo, o tempo todo, mas que, se seus ganidos de um lado incomodam, de outro nos colocam em alerta, pois indicam algo fora da normalidade. Um rosnar ou mesmo um latido de madrugada significa que um estranho está por perto, homem ou outro animal.
É um problema de difícil solução, pois querer que eu os abandone, nem pensar; mandar cortar as cordas vocais deles seria de uma violência extrema e, por ser legalmente proibido, me acarretaria sanções legais criminais, apesar disso ser normal em alguns países; me mudar contrariaria a norma de que ”são os incomodados que devem se mudar” e, finalmente, eu também me sinto incomodado, pois não é nada agradável ter um oficial de Justiça no seu encalço como se tivesse cometido algum delito. Na realidade, tal notificação não deixa de ser uma intimidação velada”.
O que fazer Hermenegildo, o que você sugere para resolver tal imbróglio?
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