Criada em 1993, por representantes de vários setores da sociedade civil como resposta à crescente violência da capital no início daquela década, o Viva Rio é uma instituição que tem como objetivo promover a cultura de paz e a inclusão social. Desde a sua fundação, a organização vem desenvolvendo diversos projetos e atividades em cidades do estado, entre elas Nova Friburgo, um dos municípios mais atingidos pela tragédia de 2011.
Recentemente, a instituição deu início a mais uma ação: o Projeto Socioambiental na Região Serrana, um trabalho social e ambiental nas áreas do entorno dos rios que foram mais impactadas pela forte tempestade de quatro anos atrás — o entorno dos rios Bengalas e Córrego Dantas, em Friburgo, Cuiabá, Carvão e Santo Antônio, em Petrópolis, e Príncipe, Imbuí e Paquequer, em Teresópolis. Como parte do projeto Rios da Serra, do governo estadual, a iniciativa tem como foco o envolvimento de moradores em ações de melhoria social e de proteção ambiental. Um trabalho que promete ir além da recuperação de margens e calhas dos rios.
Palestras, eventos, cursos e campanhas voltados para o desenvolvimento social, preservação ambiental e redução dos riscos de impactos em decorrência de eventos climáticos estão entre as atividades e temas educacionais previstos pela ação. Isso sem falar da participação dos moradores na produção de material jornalístico e campanhas educativas em escolas e nos diversos veículos de comunicação local.
Serão promovidos também debates para que a comunidade possa discutir com técnicos ambientais formas de ocupação das áreas ribeirinhas, além da participação de toda a população em campanhas e mutirões de reflorestamento. A conscientização sobre a importância de não se jogar lixo nos rios será também tema dos encontros.
Atendimento ao público
A sede provisória do projeto, em Nova Friburgo, fica na Avenida Nossa Senhora do Amparo, 1.600, Prado, no distrito de Conselheiro Paulino. No local, trabalham um coordenador, dois mobilizadores socioambientais, um agente administrativo, um técnico social e um supervisor de trabalho social. A equipe atende às pessoas da comunidade tirando dúvidas sobre os processos que envolvem as obras, fazem encaminhamentos e realizam reuniões com lideranças comunitárias e autoridades locais com o intuito de conhecer as demandas da população friburguense. Contudo, além desse ponto fixo de interação comunitária, o Viva Rio Socioambiental disponibilizará também o atendimento itinerante e domiciliar para ouvir, in loco, as demandas dos moradores.
Outro ponto que deve ser destacado é que, em cada cidade atendida, serão criados Centros de Educação Ambiental (CEAs) com o apoio das defesas civis municipais. Nestes locais serão oferecidas visitas guiadas a grupos interessados, que incluirão atividades de treinamentos de prevenção de desastres ambientais em áreas de risco, palestras e cursos de educação socioambiental e de sensibilização da população sobre questões de proteção ambiental e de desenvolvimento sustentável.
Em entrevista para A VOZ DA SERRA, o coordenador do Viva Rio e responsável pela área socioambiental, Tião Santos, além de destacar a importância da participação da comunidade na elaboração dos planos de educação ambiental falou sobre detalhes do ação. Confira mais sobre o projeto e tire suas dúvidas.
A Voz da Serra - Quando o projeto teve início?
Tião Santos - O trabalho começou formalmente no dia 4 de março deste ano e terá a duração de 38 meses. Pelo nosso plano de trabalho, os primeiros seis meses serão de diagnóstico e construção de planos de ações.
Quais serão as atividades desenvolvidas por esse projeto?
As linhas de ação do projeto são: desenvolvimento socioambiental, educação socioambiental e comunicação. As múltiplas ações que serão desenvolvidas nestes três eixos serão definidas após o diagnóstico e plano de trabalho construído com as comunidades.
Qual o objetivo desta ação e de onde partiu a iniciativa para seu desenvolvimento?
O objetivo maior, com as obras do Rio Bengalas, é melhorar a qualidade de vidas das pessoas, das comunidades e do ambiente no entorno do rio. Esse projeto faz parte das ações do PAC, uma parceria do governo federal e governo estadual, através do Inea.
O que funciona na sede provisória do Prado?
Estamos iniciando os trabalhos na região. Neste primeiro momento, o trabalho da equipe está concentrado no atendimento às pessoas da comunidade, tirando dúvidas sobre os processos que envolvem as obras, fazendo encaminhamentos, reuniões com lideranças comunitárias e autoridades locais. Já iniciamos também um processo de diagnóstico das comunidades. A proposta é fazer um levantamento minucioso da vida social e ambiental e construir, junto com a comunidade e o poder público, um plano de ações socioambientais.
Por ser um projeto recente, existe alguma estratégia para atrair a população?
O Viva Rio atua e sempre atuou em comunidades fragilizadas por algum tipo de violência, tragédia natural ou social. Estamos no Rio, no Brasil e no Haiti. Acreditamos sempre no trabalho junto às comunidades, ouvindo muito as lideranças e a população local e se colocando à disposição para ajudar no que for preciso, dentro das nossas competências.
O projeto Socioambiental na Região Serrana fala em participação da população atingida pelas chuvas de 2011. Como se dará esta participação?
Estivemos em Friburgo e Teresópolis durante a tragédia. Ficamos nas duas cidades por quase um ano, dando apoio às famílias atingidas, atuamos na área de saúde, ambiental e defesa civil. A proposta agora é atuar com as populações atingidas e seu entorno. Acreditamos que o diagnóstico que iniciamos, ouvindo as comunidades e o poder público, nos apontará, além dessa, as ações e a melhor forma de participação das comunidades.
Até o momento, quais são as principais demandas e quando acontecerão as próximas reuniões?
No diálogo que temos tido com as comunidades e suas lideranças, temos ouvido questões ligadas à realocação, aluguel social, indenizações, andamento das obras, segurança, saúde psicológica pós-tragédia, etc. Nossa proposta é criar um espaço de diálogo permanente, com reuniões mensais para manter o diálogo com todos os envolvidos.
Sobre o atendimento itinerante, quando terá início?
No próximo mês, mas já há atendimento na ouvidoria da nossa sede provisória. Além disso, a equipe local prestará informações, estimulará o diálogo e a troca de saberes sobre temas ligados às questões sociais e ambientais locais, em locais onde os moradores tenham maior dificuldade de acesso às informações e precisem ser ouvidos e acolhidos em suas reivindicações.
O que são os Centros de Educação Ambiental?
Eles serão construídos em parceria com a Defesa Civil do Estado. Haverá formação de agentes socioambientais para a prática de ações preventivas de educação ambiental no dia a dia da comunidade, mas também em situações de risco, junto à Defesa Civil. Deverão entrar em funcionamento dentro dos próximos seis meses.
Como você vê a importância de iniciativas como essa?
Nós que estivemos na Região Serrana durante a tragédia, acreditamos que projetos como esse que se propõe a melhorar a qualidade de vida das pessoas, em especial as que tanto sofreram na tragédia, têm uma importância singular. Contribuir para a superação de tantos traumas, acolher as pessoas e estar ao lado delas na resolução dos seus problemas é a nossa missão. É nosso compromisso.
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