Violência no Rio aquece mercado imobiliário em Nova Friburgo

Centro ainda tem o m2 mais caro: R$ 5.135 em média. Cascatinha é o bairro que mais se valorizou: 6%
domingo, 22 de outubro de 2017
por Karine Knust
Um dos apartamentos à venda no Centro da cidade (Foto: Henrique Pinheiro)
Um dos apartamentos à venda no Centro da cidade (Foto: Henrique Pinheiro)

Foi para fugir da violência do Rio de Janeiro que Ana Luiza Roussoulieres, de 51 anos, trocou um belo apartamento no Posto 6, em Copacabana, por uma casa em um tranquilo condomínio no Cônego, em Nova Friburgo. Para fazer essa mudança de vida, a jornalista e publicitária conta que vendeu um dos imóveis da família. Se houve arrependimento nessa troca? Nem um pouco, ela garante.

“Vinha procurando uma casa em Friburgo desde agosto do ano passado. Estava cansada de acordar todos os dias com tiroteios. Não conseguia mais ter paz para andar tranquilamente pela cidade. Não dava mais para viver naquela tensão”, afirma Ana Luiza, que hoje quer distância do Rio. “Mesmo com mais oportunidades na capital, minha filha também resolveu vir com a gente, está estudando numa universidade aqui e amando tudo. Não poderíamos estar mais felizes. Meu único arrependimento é de não ter me mudado antes".

Ana Luiza (foto) faz parte de um grupo que tem crescido cada vez mais: o de pessoas que trocam o caos das grandes cidades pela tranquilidade de municípios do interior. E, embora o ano de 2016 tenha sido ruim para o mercado imobiliário local por conta da crise, em 2017 o cenário começou a mudar. Prova disso é o aumento constante dos que buscam adquirir imóveis para primeira moradia e não mais para ocupação sazonal - as chamadas casas de veraneio.

De acordo com pesquisa recente do Sindicato da Habitação do Estado do Rio de Janeiro (Secovi Rio), a valorização de imóveis na Região Serrana superou os 10% em alguns municípios, ao passo que a capital do estado registrou queda de 6%. De olho nesse mercado em expansão, construtoras têm investido ainda mais, principalmente em imóveis no estilo condomínios-clube, considerado preferência da maioria dos cariocas que escolhem a região para viver.

No Cônego, por exemplo, um condomínio de luxo está em fase de construção. Com casas de 200 a 300 metros quadrados, que custam em média R$ 1,5 milhão, o empreendimento contará com salão de festas, sala com lareira, piscina com deque, sauna, espaço gourmet, espaço fitness e quadra de tênis. “Apostamos nesse empreendimento acreditando na melhora do mercado, que é o que está acontecendo agora. A procura tem aumentado, tanto que o principal empreendimento que estamos trabalhando no momento ainda não foi lançado, mas já tem dez casas vendidas”, afirma Murillo Figueira, diretor da construtora responsável.

Apesar do alto custo do imóvel para o padrão de Nova Friburgo, quem mora na Zona Sul do Rio e planeja se mudar para a Serra encontra uma bela oportunidade nessas construções. Isso porque, também de acordo com levantamento do Secovi, os imóveis com essa estrutura localizados nos bairros nobres da capital fluminense superam facilmente os R$ 2,5 milhões. Leblon, Ipanema e Lagoa, tradicionalmente os bairros mais caros da região, têm o metro quadrado custando R$ 21.567,76, R$ 20.216,10 e R$ 17.808,51, respectivamente. Isso sem contar as taxas de condomínio.

Valorização

Se em 2016 Nova Friburgo viveu um ano não muito positivo para o mercado imobiliário, já que muitos consumidores adiaram a compra da casa própria por conta da crise, este ano o município vem apresentando uma leve recuperação. De acordo com dados do Secovi, o metro quadrado, por exemplo, teve uma valorização superior a 5% em alguns bairros.

No ranking dos mais valorizados está o Centro, com apartamentos sendo vendidos a R$ 5.135 o metro quadrado. Ou seja, nesta região, um imóvel com dois quartos pode custar entre R$ 320 mil e R$ 750 mil. Ainda assim, o preço médio do metro quadrado de apartamentos no município é de R$ 4.297, o mais baixo se comparado às maiores cidades da região, Petrópolis (R$ 6.406) e Teresópolis (R$ 4.901).

Apesar de ter o imóvel mais caro da cidade, o Centro não foi o que apresentou a maior valorização do mercado nestes últimos meses. O bairro Cascatinha foi quem ganhou este título, com crescimento de 6% no valor do metro quadrado de apartamentos, com valores saindo de R$ 3.178 para R$ 3.371. O bairro das Braunes também ostenta o título de um dos mais valorizados de Nova Friburgo. O preço do metro quadrado de apartamentos por lá variou 5% de janeiro a setembro de 2017, indo de R$ 4.458 para R$ 4.691.

No que diz respeito as casas, a pesquisa apresentou valorização ainda mais expressiva, superando os 6% em quase todos os bairros pesquisados. Braunes, com 12%, e Centro, com quase 9%, estão no topo. Mury, que é a principal porta de entrada para a cidade e ponto de passagem obrigatório para quem se destina a Lumiar e São Pedro da Serra, outros distritos turísticos de Friburgo, teve a terceira maior valorização: quase 7%. No Centro da cidade, por exemplo, o valor do metro quadrado de uma casa pode chegar a R$ 3.901.

Comprando sem medo

Conheça  

Não compre por impulso, mesmo se encantando com a estrutura do imóvel, procure colher o máximo de informações, como o valor mensal do condomínio (inclusive cotas extras, se houver) e do IPTU. Além, é claro, de verificar se essas taxas estão em dia.

De olho em problemas

Não decida a compra sozinho. Leve um profissional junto com você para verificar se há problemas no imóvel, como infiltrações ou riscos estruturais. Caso seja necessário mudanças, faça orçamento prévio do custo das obras e examine as plantas e projetos para saber se há alguma obra irregular, como no caso de  ampliações não autorizadas na cobertura, por exemplo.

Registro

Todo imóvel, novo ou usado, tem que ter um registro no cartório. Para saber a situação da unidade a ser comprada, solicite a certidão de ônus reais do imóvel atualizada, que é um documento onde constam todas as informações, como área, titular, vaga de garagem e até pendências, como dívida, hipoteca ou alienação.

Atento aos prazos

Se você for comprar um imóvel na planta, não esqueça de verificar a idoneidade da construtora e, se possível, visitar alguns empreendimentos já entregues, conferindo se cumprem o prazo de entrega. Se for investir em um imóvel usado, vale verificar se ele está ocupado pelo próprio dono ou por terceiros, e como será a saída, para não ter surpresas na hora de receber as chaves.

Documentação

Os documentos obrigatórios do imóvel são certidão de ônus reais do Registro de Imóveis; certidões das Varas da Fazenda Pública (imóvel); certidão da prefeitura l (IPTU e situação enfitêutica); declaração de quitação do condomínio e certidão do Corpo de Bombeiros. Já os documentos obrigatórios dos vendedores são: certidões dos distribuidores cíveis; certidões de interdições e tutelas; certidão da Justiça Federal; certidão das Varas da Fazenda Pública (vendedores) e certidão de ações trabalhistas.

 

Sinal e taxa

Se, até agora, estiver tudo certo, é hora de firmar o acordo de compra e venda e pagar o sinal, que geralmente é de até 10% do valor do imóvel — que não é obrigatório e depende de acordo entre as partes. Na transferência do imóvel, há ainda a taxa municipal ITBI. Depois de regularizar esses detalhes, é o momento de marcar a assinatura da escritura. Vale ressaltar que a efetivação da compra só terá valor após o devido registro da escritura no Registro de Imóveis (RI).

Pagamento

O pagamento pode ser acordado entre as partes ou, no caso de financiamento imobiliário, os bancos liberam o pagamento oficialmente (porque já há uma autorização prévia), geralmente, após o RI. A compra de lançamentos é mais simples, pois a construtora já possui um banco financiador. Basta aprovar o crédito e assinar o contrato.

 

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