Para os persas, o vinho foi descoberto pelo grande rei Yamshid. Acredita-se que ele adorava uvas e, para lhe agradar, as mulheres de seu harém lhe ofereciam muitos cachos. Como não conseguia consumir todos frescos, mandou guardá-los em uma ânfora para desfrutar aos poucos. Os grãos, no entanto, romperam-se e acumularam líquido no fundo do recipiente, que fermentou. Sentindo o cheiro estranho, o rei ordenou que o frasco fosse jogado fora, advertindo que era veneno. Uma de suas concubinas, que havia sido banida de sua convivência, pensou em se matar e decidiu provar o líquido proibido no intuito de se suicidar. Logo, percebeu que, em vez de causar qualquer mal, a bebida lhe deu prazer, especialmente quando ela acariciava seu próprio corpo, tornando-a voluptuosa e desinibida. Ela, então, decidiu ir aos aposentos do rei e se oferecer para ele. Satisfeito com a noite de prazer, mas intrigado, Yamshid foi averiguar e percebeu que o comportamento lascivo da moça era resultado da bebida. Pediu então uma taça e retomou seu momento de prazer. A partir daí, criou uma adega em seu palácio.
Outra crença persa, do tempo do profeta Zaratustra, criador do Zoroastrismo, a religião monoteísta da antiga Pérsia, diz que um dos deuses criadores também estava ligado ao vinho. Ahura Mazda, cujo nome pode significar sabedoria, mas também pode evocar a embriaguez, aparece na iconografia quase sempre em oferendas com vinho.
Ainda na Ásia, o taoísmo também possui uma divindade “vínica”. Sua versão de Baco se chama Lan Tsai Hou, ou Lan Caihe. Era um deus beberrão, que vivia nas praças cantando – e falando sempre a verdade – e vestido com remendos de uma túnica azul. Ele faz parte do grupo dos “oito imortais” da mitologia chinesa e foi alçado aos céus em um dia de cantoria e bebedeira.
Enfim, assim como o gênio de Aladim está encerrado dentro da lâmpada aguardando ser despertado para realizar seus desejos, o deus do vinho aguarda dentro da garrafa, esperando alguém para libertá-lo e, com isso, também libertar a mente de quem o consome.
A pedra de Baco
Para os enófilos que creem em mitos, a pedra ametista é um poderoso amuleto. Diz a lenda que uma bela ninfa estava sendo cortejada por Baco e, para que o deus não mais pudesse lhe assediar, ela foi transformada em um cristal. Alguns acreditam que o nome deriva da fusão de “a” (não) mais “methuskein” (intoxicar) e, por isso, ela impediria seu portador de ficar embriagado. A mitologia aponta ainda que Baco, então, pegou a pedra e a mergulhou no vinho, daí a cor avermelhada do líquido. Outra versão diz que foi a pedra quem deu sabor à água, transformando-a em vinho.
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