Vilage: um bairro em extinção?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Vilage: um bairro em extinção?
Vilage: um bairro em extinção?

Leonardo Lima

Em entrevista publicada recentemente em A VOZ DA SERRA, o secretário municipal de Obras, Hélio Gonçalves Corrêa, afirmou que o bairro Vilage é a pior área da cidade em termos de consequências da tragédia. Como as barreiras não podem ser mexidas, sob o risco de novos desabamentos, os moradores estão se vendo obrigados a deixar o local. E, ao contrário do que se possa supor, tal decisão não envolve apenas aspectos financeiros, mas também emocionais. “Moro aqui há 40 anos e é muito triste deixar um bairro que aprendi a gostar. Na minha rua a maioria dos vizinhos já foi embora. Eu e minha família só estamos esperando uma resposta da Secretaria de Assistência Social para saber onde iremos morar”, revela a aposentada Ana Maria da Silva, uma das centenas de pessoas que tiveram suas residências condenadas após a tragédia de 12 de janeiro.

Moradora da Rua Izair Pires, na parte alta do bairro, ela revela que questões que até pouco tempo eram apontadas pela comunidade como os maiores problemas do bairro Vilage hoje estão em segundo plano. “Hoje ninguém comenta mais sobre a falta de tampas nos bueiros ou sobre os carros que estacionam irregularmente próximo à Universidade Candido Mendes. Quem continua morando na Vilage, principalmente na parte alta, está tendo muito problema de acesso. Se você vai ao Centro, faz uma compra e não tem carro, sofre para conseguir um taxista que aceite fazer uma corrida até aqui em cima. Linha de ônibus também não tem mais”, lamenta.

Com tantas dificuldades, o jeito é improvisar e contar com a boa vontade dos vizinhos que permaneceram no bairro. “Deixamos as compras no pé do escadão e os moradores trazem até aqui, aos poucos. Temos problemas também com idosos e acamados. Está muito difícil viver aqui. Se Deus quiser, quando chegar novamente o período de chuvas já estarei em outro lugar”, afirma Ana Maria.

Viva Rio desenvolve um projeto no bairro

Como muitos trechos continuam interditados ou estão com passagem para apenas um veículo por vez, os próprios moradores têm se unido para liberar o acesso. “Minha sogra tem 80 anos e tenho que abrir essa rua para que possamos levá-la até o hospital de carro. A Vilage sempre sofreu com quedas de barreiras, mas nunca foi tão atingida como desta vez. Muita gente foi embora, mas as pessoas precisam saber que quem está aqui ainda precisa de atenção”, queixou-se Alexsandro Verly, enquanto tentava abrir uma passagem na via com uma enxada.

Coincidentemente, enquanto a equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA apurava a matéria, integrantes da Ong Viva Rio faziam o cadastramento de acamados, deficientes e idosos que continuam morando na Vilage – iniciativa do projeto de proteção e preparação das comunidades contra desastres naturais. Além disso, tomavam notas das casas marcadas para demolição e um biólogo estudava possíveis pontos de fuga no local. De acordo com uma funcionária do Viva Rio, cerca de cinco famílias ainda moram nas casas próximas ao escadão, sendo que algumas pessoas passam apenas o dia nas residências e dormem em outros locais.

Engana-se quem pensa que apenas a parte alta do bairro foi afetada. Segundo o coordenador da Defesa Civil, coronel João Paulo Mori, a Vilage registrou 16 deslizamentos na tragédia e, desde então, 71 casas foram interditadas. O saldo de mortos foi de sete pessoas, e só não foi maior porque muitos moradores deixaram suas residências no início da fatídica noite.

Uma encosta na Rua Coronel Sarmento também é motivo de preocupação no bairro, conforme noticiou A VOZ DA SERRA na edição do último dia 6. Não bastasse a quantidade de terra que pode desmoronar, a existência de pedras e eucaliptos no local deixa os moradores ainda mais em alerta. “Ficamos muito preocupados e não temos como saber o que vai acontecer. Vivemos com insegurança. Além de removerem terras e entulho, nada mais foi feito no bairro”, comenta a moradora Silvana Figueiró, dizendo que as casas abandonadas vêm sendo alvos constantes da ação de meliantes. “Estão invadindo as residências condenadas. Na última semana mesmo roubaram um botijão de gás de uma casa na Rua Andrade Neves”, relata. Insegurança e preocupação classificam o que boa parte dos moradores da Vilage sente há mais de oito meses.

Em dúvida, moradores questionam se a única saída é remover mesmo as famílias das (muitas) áreas de risco e reflorestar o bairro. O que todos esperam ainda são respostas e soluções para o bairro. E, consequentemente, para suas vidas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade