Vila Nova: tranquilidade, praticidade e ... problemas

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Vila Nova: tranquilidade, praticidade e ... problemas
Vila Nova: tranquilidade, praticidade e ... problemas

Texto: Henrique Amorim / Fotos: Lúcio Cesar Pereira

Morar no bairro Vila Nova sempre foi um privilégio, principalmente para os mais antigos, que viram a localidade crescer e progredir. "Sou do tempo em que a Rua Prudente de Morais era de terra batida, tinha poucas casas e todo mundo se conhecia. Hoje tudo mudou e, infelizmente, convivemos com muitos problemas, mas ainda é um bom lugar pra se morar. É pertinho do Centro. Dá para ir e voltar a pé", observa um morador que valoriza a funcionalidade do lugar, mas, ao mesmo tempo, lamenta a demora na reconstrução dos graves estragos da tempestade de janeiro de 2011. Na Rua Prudente de Morais, imóveis atingidos por deslizamentos de encostas ainda permanecem em escombros, embora já estejam marcados para demolição. 

"Já passa da hora dessas casas serem demolidas e o bairro ganhar contenções e um novo aspecto. Aqui é bom para morar, mas essas cenas de abandono assustam", conta a moradora Maria do Carmo Dias, apontando para diversos apartamentos com placas de "vende-se" e "aluga-se" nas janelas. Antes de 2011, conseguir um imóvel no Vila Nova era uma questão de sorte. As casas vazias seriam então uma consequência da tragédia ou do alto preço? Com a proximidade do campus local da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no imponente casarão amarelo da antiga Fundação Getúlio Vargas, e do saudoso Colégio Nova Friburgo, muitos imóveis eram ocupados por estudantes. O Vila Nova tinha mesmo a alegria da juventude. 

Com a transferência da Uerj para a fábrica Filó devido à tragédia, a movimentação no bairro foi reduzida e a esquina da subida da fundação, como é conhecido o pórtico na entrada da Rua Alberto Rangel, já não fica mais cheia de jovens à espera de caronas para chegar à faculdade. Aliás, a via permanece abandonada, com a queda de parte do trecho com o deslizamento de uma encosta. Sobra mato e abandono por lá. O fato inviabiliza o retorno da Uerj.   

 

Bem próximo ao Centro, o bairro Vila Nova é bem tranquilo e algumas casas antigas

garantem o charme do lugar. Edifícios dão o contraste da modernidade

 

Bastante atingido pela tragédia de 2011, o bairro está com diversos imóveis demarcados

para demolição. Na fachada deste, a indignação dos antigos moradores que viram seu patrimônio ruir

 

Na subida da antiga Fundação Getúlio Vargas, já não se vê mais a movimentação dos

estudantes. O campus da Uerj foi transferido devido à queda de um trecho da ladeira Alberto Rangel

 

Bairro já não é mais tão residencial assim. Sinal do progresso?  

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No entanto, nem tudo no Vila Nova é só lamentação. O bairro aos poucos vai mudando de cara. Sua via principal, a Prudente de Morais, já abre espaço para um novo nicho de mercado até então não explorado por lá, e que já colabora para a quebra da característica residencial do bairro. No final da rua, já próximo ao trevo de Duas Pedras, antigos galpões vazios que davam uma cara de abandono ao lugar já começam a ser ocupados. Um deles, por uma casa noturna que movimenta as noites dos fins de semana com eventos, bailes e shows. Ao lado, outro galpão é ocupado por uma casa de festas. A rua residencial e que funciona ainda como alternativa aos congestionamentos quase diários da via paralela, a Avenida Presidente Costa e Silva, se transforma em um grande estacionamento de veículos. Um terceiro galpão desocupado já está disponível para locação.  

"À noite, essa rua era uma tranquilidade só. Agora, já tem grande movimento em dias de festas. É bom por um lado, pois não fica tão deserto. Por outro, já se tem mais barulho de carros", diz um comerciante que critica a demora nas obras necessárias no Vila Nova. Segundo ele, o entupimento de bueiros prejudica muitos moradores em dias de chuva forte. Mesmo sediando o "complexo de segurança" de Nova Friburgo – no local estão baseados os quartéis da PM e dos bombeiros, a Delegacia Legal, o Instituto de Polícia Técnico e Científica, o IML e a Corregedoria Regional de Polícia Civil -, alguns moradores sentem-se inseguros no bairro, principalmente à noite. "A Rua Prudente de Morais é bem deserta e tem trechos com árvores que facilitam pequenos furtos. Mais rondas seriam bem-vindas", sugerem alguns moradores, que torcem pelo desenvolvimento do bairro e têm necessidade urgente das cicatrizes da tragédia serem, enfim, apagadas.

"O saudoso Chico Faria, fundador da metalúrgica Stam, era um defensor ferrenho do Vila Nova. Foi morador do bairro por muitos anos e nele montou seu primeiro galpão, que depois transformou-se na grande fábrica de cadeados e fechaduras. Era figura marcante nos bares da Rua Prudente de Morais, onde não dispensava a cervejinha com os antigos vizinhos e amigos", relembra outro comerciante. "Hoje muita gente mora aqui, mas não se conhece", completa ele. 

 

No Vila Nova, onde outrora era quase impossível achar imóveis vazios, hoje sobram ofertas

para venda ou aluguel. Será medo de uma nova tragédia no bairro?

 

Casas de shows e de festas ocupam galpões antes abandonados na Rua

Prudente de Morais. Uma nova característica do bairro

 

A Av. Presidente Costa e Silva, importante via de acesso ao centro

da cidade pelo eixo rodoviário, também integra o Vila Nova



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