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História 1:
Paulo e Marina são pais de Mateus, um lindo menininho de quatro anos. Sem poderem dar um irmãozinho ao garoto, adotam Gustavo, de um ano e meio. No começo tudo vai bem, até que o filho adotivo começa a tirar a paciência do casal: chora muito, vive doente, dá muita despesa. Numa noite Paulo e Marina tomam uma decisão radical. Vão colocar o menino numa calçada. Quem sabe uma pessoa mais paciente resolva acolhê-la?
História 2:
Alberto e Maria não têm filhos. Moram numa casa alugada, com dois quartos. Adotam uma criança. Um dia, eles são obrigados a se mudar para um apartamento bem pequeno, mal dá para colocar os móveis da moradia anterior. O que fazer com a criança que, ainda por cima, estava crescendo? Mesmo com o coração apertado, optam por deixá-la numa praça, debaixo de uma árvore.
Qual a sua opinião a respeito das duas histórias:
a) Os dois casais tiveram boa vontade, mas as circunstâncias fizeram-nos optar por uma solução radical.
b) Eles cometeram um erro, não pensaram bem antes de adotar as crianças, mas quem não erra?
c) Os quatro cometeram um crime e têm que pagar judicialmente por isso.
As duas histórias acima são fictícias. Mas se você optou pela letra "C”, faça uma troca: ao invés da adoção de uma criança, pense em um cãozinho ou gato. Você manteria a sua resposta?
Deus, sim. Animais, não!
Um dos grandes problemas dos animais – de qualquer espécie e raça – é a visão que muita gente tem de que os bichos são seres de segunda categoria, dispensáveis, criados apenas para nos servir. Mesmo que a maioria dessas pessoas seja religiosa e acredite, piamente, que "Deus criou todas as coisas”, como narrado logo no começo da Bíblia, em Gênesis. Mesmo que essa "superioridade” do homem esteja descrita no mesmo livro, quando narra a criação do homem ("Então Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra”), nada justifica a maldade cometida diariamente com os animais, em todo o mundo.
Em Nova Friburgo, por exemplo, não é raro vermos cães e gatos abandonados pelas ruas, muitas vezes doentes e famintos. Também é comum a exploração de cavalos, mal cuidados, submetidos a trabalhos indignos e humilhantes e depois soltos pelas ruas para conseguirem o próprio alimento, com risco de atropelamento. Pássaros em gaiolas, muitas vezes mínimas para o tamanho da ave já faz parte da paisagem, seja na área rural, nos bairros e até mesmo no centro da cidade, em lojas de revendas de animais, com CNPJ etc.
Se a maldade de uma parte dos seres humanos desfila a olhos vistos no nosso dia a dia, muitas pessoas dedicam a vida para a proteção e cuidados com os animais. Projetos públicos ou privados, organizações não governamentais e pessoas físicas, comuns, com emprego e família fazem o que podem. Geralmente com pouquíssimos recursos. Mas é preciso ter cuidado. O Brasil inteiro está cheio de casos de mau uso de recursos, seja por incompetência ou por pura roubalheira. Mas isso não pode ser motivo para se cruzar os braços e deixar os animais à própria sorte. Quem não quer ou não tem condições de adotar um bichinho – e mantê-lo de forma adequado até o fim da vida (de quem for primeiro, lógico), pode colaborar com a causa de várias maneiras: fazendo doações financeiras ou de alimentos, remédios e materiais necessários, apadrinhando um bichinho, fiscalizando (indignando-se) e denunciando os casos de maus tratos, divulgando os trabalhos sérios e participando dos eventos etc. Vale lembrar que existem muitos exploradores de animais, então, o certo é checar o trabalho realizado pela pessoa ou organização.
Para conhecer mais sobre o assunto, entrevistamos Celina Müller, do projeto Amicão e Amicat; Maria Cristina Pacheco, que abriga, com dificuldades, 360 animais em sua casa; e Luiz Fernando Oliveira Caetano, coordenador da Cobea (Coordenadoria do Bem-Estar Animal).
Amicão & Amicat – organização e seriedade em prol dos cães
A tragédia de janeiro de 2011 fez muitas vítimas, como se sabe. Além de seres humanos, a catástrofe atingiu duramente os animais. Celina Müller sabe muito bem disso. Desde essa época ela vem resgatando e cuidando de cães abandonados. Começou quando se tornou voluntária num galpão, no bairro da Vilage, que recebia animais que perderam seus donos por causa da catástrofe. "Fui a última a sair de lá. Percebi que o trabalho tinha que ter um prosseguimento e criei o projeto Amicão e Amicat, que atualmente conta com 150 cães das classes A, B, C e D”, diz Celina, ressaltando que todos vivem livres, indo para o canil só para dormir.
Para dar uma qualidade de vida ideal para os animais que cuida, Celina afirma que o ideal é manter tudo na mais perfeita ordem, desde a chegada do animal: "Logo que os recebo, faço uma ficha com nome, local onde ele foi encontrado, ficha clínica – porque vacino, vermífugo todos eles. Quando não são filhotes, passam por castração”. Ela mantém ainda todos os registros do projeto em dia. Essa organização e padrão de qualidade do abrigo têm gerado muitos elogios e reconhecimento, inclusive da esfera governamental, segundo ela: "O problema é que elogios não se transformam em verba. Não recebo nada do poder público. Vivo de doações. E tudo vai para os animais. A gasolina gasta por mim nem entra nos meus registros, sai do meu bolso mesmo”, reclama ela.
Celina diz que o rigor é aplicado também nas doações dos cães. "Temos muitas devoluções. A pessoa pega um animal, vacinado, vermifugado, limpinho, bonitinho e, por impulso, leva-o para casa. Depois de certo tempo, percebe que ele é um ser que cresce, tem suas necessidades, aí desiste e quer devolvê-lo. Para minimizar isso, antes da doação eu faço uma entrevista com a família. Sim, família. Porque todos da casa precisam estar de acordo com a chegada de um cachorro. Faço uma pré-seleção, a pessoa responde a um questionário. Só depois decido se o bicho vai ou não sair daqui”, explica Celina, dizendo que, em Nova Friburgo, o Amicão & Amicat é o único a promover feiras de adoção de cães, já tendo realizado cerca de doze eventos.
A "escolha” de animais que são escolhidos para se adotar é outro problema apontado por ela. "Outro dia eu botei para doação um filhote que vale uns oito mil reais. Todos queriam e ele foi adotado rapidamente. Mas outros cães, sem valor comercial, não tão bonitos ou fora da moda, ficam aí, anos. Por incrível que pareça a moda também dita o número de adoções, o que é um absurdo”.
Sempre lembrando a importância de não se adotar um animal por impulso, Celina aponta o bem que faz um animal de estimação na vida das pessoas, inclusive para idosos e doentes: "Está provado que pessoas com Síndrome de Down e Alzheimer convivem muito bem com um bichinho, sendo até beneficiadas pela presença deles. Assim como grande parte dos idosos, que passam a ter um estímulo maior”, afirma ela. "Mas ajudar uma entidade requer atenção. Tem muitos exploradores por aí. Tem gente que pede um determinado valor para manter os cuidados aos animais, por exemplo, quinhentos reais, gasta duzentos e embolsa trezentos. Isso é muito comum em qualquer lugar”, avisa Celina.
Para colaborar com o projeto Amicão e Amicat, a pessoa pode apadrinhar um dos animais, doando R$ 25 por mês. Celina pede ainda a doação de jornais e toalhas usadas, ração e remédios, mesmo usados e de humanos (muitos servem para os cães). É só ligar para (22) 99289-5352 ou 98118-0334, ou acessar o facebook amicaoeamicat. Celina garante que não deixa ninguém sem resposta.
Cristina: muito amor e sacrifício para manter centenas de animais
Foi para pagar uma promessa, feita há cerca de 20 anos, que Maria Cristina Pacheco começou a se dedicar a cuidar dos cães. Atualmente são 360, número que ela não tem esperança de diminuir, por mais que consiga doar. "A quantidade de cães abandonados e maltratados é muito grande. As pessoas olham aquele filhotinho bonitinho e pegam levados pela emoção, sem pensar direito. E aí começam os problemas e as pessoas jogam o animal nas ruas, ou porque o bicho faz muito xixi, porque ficou velho, doente, ou por causa de mudança para um imóvel que não aceita animais. Outro dia peguei uma cadelinha na rua que só soube que era uma chow chow por causa da língua azul, ela era sarna pura”, conta Cristina, que além de duas filhas menores, ainda trabalha de cuidadora de uma idosa. "Numa semana peguei 30 filhotes nas ruas de Friburgo. É um absurdo. Conto com a ajuda de muita gente, mas a situação é sempre difícil. Por exemplo, não tenho carro e é comum eu sair para resgatar um cão atropelado ou que está dentro de um rio. Fico devendo até R$ 500 só de táxi”, conta ela que mantém, com sacrifício, o canil na Fazenda da Laje: vende rifas, faz campanhas, pede a colaboração de amigos, comerciantes e desconhecidos sensibilizados com a causa. Cristina ressalta também o apoio da Cobea (Coordenadoria do Bem-Estar Animal) que tem realizado algumas castrações em seus animais.
Quem quiser ajudar a manter os cães de Cristina pode comprar sacos de ração e deixar na loja (pedir para o dono entrar em contato com ela). Outra opção é contribuir com a caixinha que fica na banca de jornal em frente ao antigo Fórum, na Praça Getúlio Vargas. Para adotar um animal dela, ligar para (22) 99931-2009. Aviso: Cristina não está mais aceitando cães.
Cobea se estrutura para coibir maus-tratos de animais
A Cobea – Coordenadoria do Bem-Estar Animal – foi criada há seis meses. Nesse período, conseguiu realizar cerca de 180 castrações, entre cães e gatos, machos e fêmeas. Segundo Luiz Fernando Oliveira Caetano, coordenador da entidade, também foram feitas diversas vistorias após denúncias de maus-tratos, sendo que dessas apenas em três realmente se constatou a veracidade da situação.
"Na maioria das vezes, as denúncias são decorrentes de brigas de vizinhos, que não se caracterizam como maus-tratos ao animal”, conta Luiz Fernando ressaltando que, mesmo assim, a Cobea está recebendo um veículo para aumentar as vistorias. "Em breve faremos também um trabalho de conscientização nas escolas”, afirma ele.
Cobea – Avenida Vereador José Martins Costa, 163/110, Ponte da Saudade. Funcionamento: de segunda a sexta, das 11h às 17h. Tel.: (22) 2522-1356.
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