Viagem para o Rio

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 09 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Viagem para o Rio
Viagem para o Rio

O Brasil produz 300 mil veículos por mês, entre carros, caminhões e ônibus, excluindo os que são exportados. No período de 2003 a 2010, a frota de automóveis da cidade do Rio de Janeiro cresceu 30%, passando de 1.842.374 para 2.365.350 e o número de ônibus saltou de 7.323 para 8.500, um aumento de 16%. Uma viagem que durava uma hora, hoje demora vinte minutos a mais e a velocidade média dos coletivos caiu de 21,76 km/h para 15 km/h.

Nova Friburgo não fica atrás. Segundo o nosso A Voz da Serra, entre os anos de 2005 a 2010 o número de veículos licenciados aumentou de 74.675 para 84.581, 13,26% a mais, sendo que os automóveis passaram de 43.451 para 56.142, um crescimento de 29,20% e o as motos inacreditáveis 93,12%, indo de 7.113 para 13.737.

Mas por que esses números todos? Bom, por necessidade de trabalho, tenho que descer toda a semana para o Rio de Janeiro, geralmente às segundas-feiras, por volta das 9 ou 10 horas da manhã. Seria tempo mais do que suficiente para quem pega no batente por volta das duas da tarde mas, como muito bem sabemos, as coisas nem sempre são simples assim.

A viagem segue normal até a Niterói-Manilha, na altura do shopping de São Gonçalo. Daí em diante engarrafa e nos arrastamos por uma longa hora até a Rodoviária Novo Rio, lá do outro lado da baía. E assim foi na semana passada, na retrasada, no mês de novembro... Qualquer usuário constante daquela rodovia conhece essa história de cor e salteado.

A Avenida do Contorno, que liga a Niterói-Manilha à Ponte Rio-Niterói é um gargalo com 36 anos de idade, 2,5 quilômetros de extensão sem acostamentos, que recebe diariamente cerca de 130 mil veículos, 60% dos quais provenientes da própria Ponte. Uma pane em um fusquinha provoca engarrafamentos colossais, em ambos os sentidos.

A prometida obra de duplicação nunca sairá do papel enquanto não forem resolvidas questões ambientais, localização de estaleiros e a transferência de um cemitério, ou seja, as promessas de desatar esse nó imediatamente não passam de mero blá-blá-blá político.

Ultrapassado esse obstáculo, caímos nas obras de revitalização do Porto do Rio. Diversas ruas estão interditadas e os desvios não comportam o excesso de veículos. O resultado é um só: trânsito completamente parado praticamente o dia inteiro, com reflexos terríveis para quem vem de outras cidades ou se dirige aos subúrbios.

Para piorar, a prefeitura carioca anunciou que a Avenida Perimetral está com seus dias contados! Em seu lugar será construído um túnel subterrâneo por baixo da Avenida Rodrigues Alves, com duas galerias, três pistas em cada, que funcionarão em mão dupla. As obras começam em 2013 e o atual elevado deverá ser completamente demolido até 2016.

Realmente, o quadro para quem trabalha ou precisa resolver um problema qualquer na capital não é nada animador. Opções de estradas existem, claro, mas quem disse que funcionam? Volta e meia, pelo smartphone, fico sabendo que amigos que vêm de Petrópolis e Itaipava estão presos em um gigantesco engarrafamento na Linha Vermelha. Ou seja, não há para onde fugir.

Imaginem então a situação de quem precisa se deslocar daqui da serra para trabalhar na Barra ou no Recreio, como alguns companheiros de infortúnio: além das três, três horas e meia diárias até a Rodoviária, ainda correm o risco de mofar por mais umas duas horas até chegar no batente. Se retornarem no mesmo dia, serão quase dez horas de viagem, um absurdo!

Infelizmente estamos pagando o preço de nossa imprevidência e irresponsabilidade, quando apostamos todas as fichas no transporte rodoviário. Como jamais investimos seriamente em infraestrutura, mais cedo ou mais tarde a conta ia chegar: nossas ridículas estradas e cidades com ruas estreitas não comportam mais o número de veículos que, todo dia, são colocados no mercado.

Minhas viagens ao Rio continuarão, é claro, não tenho como evitar. A qualidade de vida que eu tanto almejava encontrar quando me mudei para Nova Friburgo, vai ficando cada vez mais distante. Mesmo sem dirigir, voltar para casa em três ou quatro horas, às vezes em veículos sem o menor conforto, é cansativo e irritante.

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E já que estamos falando de trânsito, dois fatos merecem atenção: o primeiro foi o acidente com um ônibus urbano no Cascatinha, com sete feridos. Ao se desviar de um automóvel, o coletivo deslizou na pista e bateu em um muro. Seus pneus dianteiros estavam completamente carecas...

O segundo foi no ônibus intermunicipal que faz a ligação com o Rio. Tivermos que parar na rodoviária de Cachoeiras de Macacu porque chovia dentro do veículo! Depois de saber que a troca de carro demoraria mais de uma hora, decidimos seguir assim mesmo, improvisando uma proteção e contando com uma estiagem.

Falta de manutenção, fiscalização deficiente e desinteresse dos usuários podem explicar tamanho pouco caso. Já falei antes e repito: os acidentes de trânsito deveriam ser tratados tal qual os acidentes aéreos, suas causas estudadas e normas rígidas aplicadas. Mas, sem a participação de todos nós, inclusive cobrando responsabilidade dos órgãos competentes, nada irá adiante e absurdos como esses continuarão se repetindo.

Carlos Emerson Junior

carlosemersonjr@gmail.com

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