Carlos Emerson Junior
Como assim, esse cronista quer vender o frio? Vai fazer que nem os espertalhões dos anos 70 que negociavam terrenos na Lua? Não, meus caros, nada disso, eu estou falando é do bom e tradicional turismo de inverno, alimentado pelos dias gelados que se estendem até meados de agosto.
Fui pesquisar. Nova Friburgo possui um clima tropical de altitude, com invernos frios e secos. A temperatura média é de 16º, havendo registros constantes de temperaturas negativas, o que todo friburguense está careca de saber, sentir e reclamar.
Na verdade, choramos de barriga cheia. O clima de altitude se caracteriza pela secura, pureza do ar e rarefação da atmosfera, favorecendo a respiração. É essencialmente tônico o que o faz indicado na maior parte dos quadros de debilidade orgânica. Não por acaso, até o surgimento de novos medicamentos em 1946, cidades como Nova Friburgo eram procuradas para o tratamento da tuberculose.
Pois é... e com esse frio todo, quando é que vamos voltar a investir nesse tipo de turismo, como Campos de Jordão, Gramado, São Joaquim, entre outras, que ficam entupidas de gente nessa época do ano?
Campos do Jordão, por exemplo, situada na Serra da Mantiqueira, em São Paulo, sobrevive quase que exclusivamente do turismo. E a cidade está bem preparada: uma boa rede hoteleira, restaurantes para todos os gostos e bolsos, eventos tradicionais como o Festival de Inverno, torneio de tênis oficial, festival de dança e ballet, além é claro, do badaladíssimo Shopping de Inverno, uma sacada genial reunindo todas as lojas de grifes do Brasil e do exterior para vender, durante um mês, seus caros produtos.
Apesar da diferença de tamanho, afinal somos quatro vezes maiores do que a Estância paulista, a comparação é pertinente até porque, durante o inverno sua população triplica, mostrando que está preparada e disposta a faturar com a estação. Os paulistanos, que sobem a serra em massa, que o digam!
Quando conheci Nova Friburgo, o que mais me chamou a atenção foi o frio, de intensidade incomum para um estado quente como o Rio de Janeiro. Inúmeras vezes subi a serra para para curtir um final de semana e sentir o prazer de dormir com temperaturas próximas de zero grau, a apenas duas horas de casa. Tudo bem, nós cariocas somos meio estranhos mesmo!
Decididamente, o frio friburguense é o maior diferencial entre nossa cidade e as demais localidades turísticas do interior do estado. Afinal, Conservatória tem as suas serestas, Petrópolis é a cidade imperial, Penedo homenageia seus finlandeses, Angra e Cabo Frio arrasam com sua praias e Paraty é história.
O Festival de Inverno, criado em 1998, foi uma grande sacada. Ficou a cara de Nova Friburgo. As atrações se apresentavam no palco flutuante do lago do Parque São Clemente para a plateia sentada nos gramados em volta, em pleno ar livre.
Infelizmente, em algum momento esse encanto do frio se foi... Falta de divulgação, interesse, dinheiro, sei lá. No entanto podemos retornar em grande estilo sediando algumas competições esportivas no período, inclusive as famosas provas de canoagem que aconteciam em Lumiar.
Organizar torneios de rúgbi e outros esportes com bola nos estádios da cidade. Provas ciclísticas e meias maratonas pelas estradas do município. Associar o inverno ao esporte, enfim.
Também é essencial incentivar a cultura local, criando um Festival da Cultura Friburguense, abrindo espaços para a música, dança, teatro, fotografia, pintura, poesia e outras manifestações dos nossos artistas e de municípios vizinhos. Fico imaginando como seria bonita uma exposição de quadros nos jardins do Parque Clemente.
E por falar em jardins, não dá para esquecer a Festa das Cerejeiras, organizada pela colônia japonesa, abrindo o Inverno. Uma grande comemoração poderia ser feita em Conquista ou até no mesmo Parque São Clemente, onde se encontram belos exemplares da árvore. Ah, sim, ainda temos os produtores de Vargem Alta e suas flores, um ótimo começo para vendermos também o turismo rural.
Manter e divulgar intensamente os tradicionais circuitos de alimentação, como o de Mury e o do Cônego, com pratos específicos em promoção. Uma ideia simples e simpática. O que não pode, de maneira alguma, é faltar o fondue nas noites geladas. Cariocas e paulistas adoram fondue!
Por que não fazer como as cidades europeias e oferecer, nem que seja apenas nos dias de eventos, ônibus especiais para os turistas que, comprando um passaporte, poderiam ir até Olaria, fazer suas compras, embarcar novamente para almoçar em São Pedro da Serra e retornar direto para um show de jazz no Centro? Circulei em Paris e Barcelona em ônibus desse tipo e é muito prático e seguro.
Aliás, vamos combinar que a cidade tem que estar devidamente limpa, bonita, perfumada e sinalizada, oferecendo segurança e simpatia para os visitantes. Ninguém gosta de viajar para ficar perdido, ser maltratado ou até mesmo assaltado. Placas de sinalização indicando bairros, locais dos eventos, linhas de ônibus e acesso ao Centro de Turismo são essenciais. E nem precisa gastar muito, basta espalhar banners e posters pelas nossas vias principais.
Vamos criar um nome, uma logomarca ou coisa parecida bem pegajosa que marque nosso inverno. Inundar a mídia nacional exaltando a cidade e seu clima frio. Temos um grande jornal, vários canais de televisão e rádios que, com certeza abraçariam a iniciativa. Eu mesmo já me ofereço para escrever minhas crônicas sobre os restaurantes e suas delícias. Huumm!
Tudo isso aí seria viável economicamente? Não sei, meus caros, mas, sonhar não custa nada e com vontade e adesão da população podemos, pelo menos, começar um debate, ouvir sugestões, aprender com as críticas. Nova Friburgo sempre teve um potencial turístico enorme e precisa retomar seu caminho. É nossa obrigação ajudar a reconstrução da cidade e apontar os rumos para o seu futuro.
Se fizermos o dever de casa direitinho, garanto que a turma do litoral vai subir em massa para curtir o frio!
Carlos Emerson Junior
(carlosemersonjr@gmail.com)
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