Localizado a poucos quilômetros do Centro, o visual de Varginha entrega duas possíveis hipóteses: ou é um bairro que falta ser totalmente descoberto ou é um bairro esquecido. Com uma extensão grande, o bairro aparenta ser um lugar pacífico, com muitos moradores e aparentemente amplo, tendo vários comércios e desde casas bastante humildes até casas grandes.
Muitos terrenos se encontram à venda na localidade, assim como casas disponíveis para aluguel. Ainda assim, quem visita o local pode ver grandes problemas: muitos matagais, lixos e buracos, entre outros problemas que incomodam a população.
Segundo Nilo Sérgio, morador do bairro há 22 anos, a única coisa boa de Varginha são os moradores. Nilo, de 52 anos, reclama dos problemas com água, esgoto e também da estrutura do posto de saúde do bairro, que, segundo o morador, não comporta a população, faltando especialistas como pediatras e dentistas.
Renata Teixeira e sua família têm uma longa história no bairro. A comerciante mora em Varginha desde que nasceu e sua avó, hoje aos 73 anos, foi a segunda moradora do bairro. A moradora reclama do transporte público, que às vezes demora um longo período para passar, do descuido com a Escola Municipal Juscelino Kubitschek, onde seus avós trabalharam por 30 anos, e também do policiamento que, segundo ela, deveria ser mais intenso. Por outro lado, ela diz ser a tranquilidade um ponto positivo de Varginha, onde não há grandes problemas com crimes ou tráfico de drogas.
BURACOS NA SAÚDE
O posto de saúde, localizado na Rua Francisco Lopez, apresenta necessidade de melhoras. Alguns funcionários, que optaram por não se identificar, revelaram que a unidade está precisando de maior atenção, pois na frente do prédio não há placa de identificação do lugar, os dois médicos que atendem no local precisam utilizar a mesma sala e a quantidade de remédios — que são distribuídos gratuitamente para a população — é pequena.
A principal reclamação é que o deslocamento dos pacientes é limitado, faltando um carro ou ambulância para o transporte — sendo necessário o uso de carro do próprio funcionário. Outro descontentamento dos funcionários é sobre os salários, com reclamações de que há defasagem do salário há cinco anos.
Rayner Corrêa, um comerciante da rua, diz que os principais problemas no posto são em momentos de emergência e também quando é necessária a consulta com um médico especialista. O morador também reclamou da falta de uma praça, uma vez que Varginha é um bairro grande, e dos problemas referentes à escola do bairro. Como ponto positivo do local, Rayner destaca o asfaltamento da estrada Catarcione-Varginha, que agiliza bastante o trajeto entre Varginha e o centro de Nova Friburgo.
Além desses problemas, a rua apresenta buracos muito perigosos. Segundo uma moradora, um buraco no meio da rua está com vazamento de água há 30 dias. Poucos metros a frente desse buraco, há um bueiro aberto, com a tampa de concreto apoiada entre a calçada e a parede de uma residência, impedindo o trânsito dos pedestres. Ainda na rua, uma moradora do bairro, que não quis se identificar, disse que gostaria de ver no bairro opções de lazer para os jovens, pois é muito difícil ter o que fazer aos fins de semana.
LUTANDO SOZINHOS
Os moradores da Rua Maria Batista Moliari sofrem bastante com o problema de iluminação nas ruas. Segundo Ângela Veloso, a Prefeitura havia dado aos moradores um prazo — já esgotado — de dois meses para a instalação, que não houve até o momento por falta de material. Daniel Lélis, também morador da rua, teve que pôr iluminação por conta própria, e reclama de ter que pagar taxa de iluminação da rua sem ver o serviço ser cumprido. Sobre a taxa, o morador ainda acrescentou: "A gente nem quer que esse dinheiro seja ressarcido, a gente só quer que haja luz na rua”.
Outros motivos de reclamação vindos dos moradores da rua são quanto à limpeza, pois não há esgoto na via — utilizam sistema de fossa — e muitas vezes precisam pedir a garis, que não são responsáveis pela via, para fazerem a limpeza. É preciso também contratar outros moradores para capinarem os matagais do local. Além dessas queixas, os moradores dizem que o serviço de transporte público tem os horários bastante imprecisos e que causam medo neles pessoas que entram nos matagais da rua para supostamente fazer uso de drogas.
RUA WALDIR RAMALHETE LEMOS
Adenilton Cunha, pedreiro, é morador da Rua Waldir Ramalhete Lemos e sofre com a falta de calçamento na via. Segundo Adenilton, ele já teve que realizar manutenções em seu carro por problemas causados pelos buracos e irregularidades do local. Apesar de também ter problemas com saneamento básico e com ratos na rua, o morador elogia o sistema coleta de lixos que passa, segundo ele, três vezes na semana.
Em 2011, no período da tragédia, a Rua Waldir Ramalhete Lemos foi usada como rota de fuga para aqueles que foram afetados pelo desastre, sendo uma das vias mais acessadas, segundo testemunha. A rua, que demonstrou ter grande importância nesse momento difícil da história da cidade, hoje parece ter sido abandonada.
RUA OSCAR SCHULTZ
A Rua Oscar Schultz aparenta ter muitos problemas em relação ao lixo. Várias lixeiras da via estão com o fundo danificado, fazendo com que grandes quantidades de lixo escapem, espalhando sujeira pelo chão da via. Zé Melo, que possui um bar na Rua Oscar Schultz, diz gostar muito do bairro, que considera o lugar tranquilo e vê poucos problemas no lugar.
Um pouco a frente do bar, há uma entrada para a cachoeira de Varginha, conhecida como "Bica”. Na entrada do acesso à cachoeira, há um bar, que mostra sinais de abandono. O acesso até a Bica não é muito fácil, é preciso atravessar uma ponte que está em péssimas condições e andar em uma trilha sem sinalização. Em contraste com a natureza, encontram-se diversos tipos de lixo, incluindo garrafas recicláveis, papéis e caixas de fósforo. Segundo depoimento de moradores do bairro, a Bica, que poderia ser usada como opção de lazer para quem mora em Varginha, é um lugar onde muitos usuários vão para se drogar.
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