Vai uma gelada aí?

Cresce produção de cerveja artesanal em Nova Friburgo, que deve ganhar indústria ainda este ano
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Vai uma gelada aí?
Vai uma gelada aí?

LÍVIA ASSAD / FOTOS: REGINA LO BIANCO

O grande aumento na produção de cerveja nos últimos tempos revela o nascimento de um novo mercado em Nova Friburgo. Há seis anos existia apenas um cervejeiro na cidade. Hoje, cinco produtores são responsáveis pela fabricação artesanal de mais de 3.300 litros da bebida por mês. Em breve o município ganhará sua primeira indústria registrada de cervejas. As expectativas são as melhores possíveis; e as promessas, de mais crescimento para o setor.

De acordo com os produtores, a cerveja artesanal cumpre o papel de fugir dos padrões de aroma e sabor das marcas tradicionais, e permite explorar ao máximo o paladar. Os profissionais da área revelam, porém, que ainda existem desafios a serem enfrentados. Entre eles, a alta carga tributária, os elevados custos de produção e a concorrência das empresas tradicionais.

O que agora é um negócio em expansão nem sempre foi encarado como profissão para os produtores. Todos eles se dedicaram a ofícios diferentes antes de ingressar no novo mercado e a maioria ainda concilia a produção de cerveja com outras atividades. Dentro do ramo, encontram-se, por exemplo, um advogado, um eletricista industrial, um engenheiro e comerciante. A cerveja, para quase todos, começou apenas como divertimento na cozinha de casa. Depois vieram os estudos, os cursos, as palestras e, finalmente, a experiência.

Gustavo Ranzato entrou no setor produzindo 20 litros da bebida por mês. Atualmente lidera a produção de cerveja na cidade, com cerca de 2.500 litros mensais. Ele anuncia que, em menos de um ano, registrará a primeira indústria de cervejas de Nova Friburgo. “O negócio cresceu bastante. A princípio eu trabalhava sozinho e vendia meu produto na minha loja, em Lumiar. Com o tempo passei a fornecer para restaurantes e bares que têm o perfil da minha cerveja. Trabalho cerca de dez horas por dia e conto com a ajuda de duas funcionárias. Seguramente, Nova Friburgo terá, em breve, uma ‘nanocervejaria’, e este deve ser o primeiro passo na ampliação do mercado”, comenta ele.

No caso de Daniel Azevedo, produtor de cerveja há três anos, a ideia de fazer sua própria bebida surgiu de uma brincadeira. Ele conta que por muito tempo colecionou garrafas. Um dia, para presentear os amigos, resolveu testar uma receita. “Eu gosto muito de cerveja e, por isso, guardava vários tipos de garrafa. Foi aí que pensei em fazer rótulos com a minha foto para dar aos amigos. Pesquisei na internet, descobri um site da Austrália que personalizava os rótulos, achei legal e encomendei. Foi aí que tive a ideia: por que não fazer minha própria cerveja? O melhor é que deu certo, os amigos aprovaram. No momento tenho uma loja virtual (www.emporiofribourg.com.br), onde vendo não só meu produto, como dezenas de marcas de cerveja”, diz ele.

Daniel Rocha trabalha há menos de um ano com produção de cerveja e já fornece para um bar em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele afirma que, embora o mercado esteja em crescimento, faltam incentivos e propaganda para tornar as cervejas artesanais mais conhecidas. “Percebo que o público ainda tem preconceito com a nossa bebida, pois ela costuma sair mais cara, tanto para quem produz, quanto para quem compra. Mas acho importante que as pessoas percebam que nós somos capazes de fabricar cervejas tão boas ou melhores do que as populares. A gente consegue criar sabores e aromas muito diferentes entre si. É essencial formar um público específico para este tipo de bebida”, defende o cervejeiro.

O produtor mais antigo da cidade, Cosme Leandro da Silva Dutra, ressalta outra dificuldade encontrada pelo setor. Para ele, os impostos e custos de produção inviabilizam um crescimento mais rápido do negócio. “A carga tributária em cima de uma cervejaria de pequeno porte é a mesma aplicada às gigantes. Isso, obviamente, dificulta que a gente faça um investimento para elevar nossa produção. Fora isso, os equipamentos são bastante caros, não é todo mundo que pode investir meio milhão em uma máquina”, analisa ele.

Daniel Rocha acrescenta que, com tantos gastos, é difícil viver apenas com o lucro gerado pela produção de cerveja. “Os investimentos são bastante altos, e demora até que a pessoa consiga se sustentar apenas com essa renda. Com uma produção de menos de dois mil litros, por exemplo, fica praticamente impossível. Mas, ainda que não tenhamos lucro logo de primeira, a cerveja não dá prejuízo”, destaca ele.

O veterano Cosme Leandro contextualiza o movimento cervejeiro no Brasil como parte de um cenário de busca por novidades. Ele percebe que a unificação de sabores e aromas é uma tendência nas bebidas e nas comidas, de um modo geral. Há cerca de sete anos, no Rio de Janeiro, iniciou-se uma tentativa de mudança deste quadro. “A consolidação das cervejas artesanais é fruto do processo de negação dos padrões. Antigamente, havia poucos cursos sobre cerveja, não se falava nisso. Algumas pessoas trouxeram matéria-prima dos Estados Unidos e possibilitaram que a gente começasse a fazer cerveja aqui”, explica.

Dentro desse processo de valorização das cervejas artesanais, Daniel Azevedo observa que Nova Friburgo está atrasada em relação a outras cidades da Região Serrana. “Petrópolis possui uma microcervejaria e uma fábrica de grande porte. Teresópolis também tem sua microcervejaria. Por enquanto, nossa cidade não tem nada. É claro que temos que reconhecer que o mercado vem crescendo bastante. Mas ainda está faltando que algum empresário patrocine a criação de uma cervejaria”, argumenta o produtor.

Gustavo Ranzato está mais otimista. Ele acredita que o município está entrando com força total no mercado. “Não importa se ainda estamos um pouquinho atrasados. Tenho absoluta certeza de que, neste caso, os últimos serão os primeiros”, conclui.

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