A experiência que se acumula com a idade pode transformar quem viveu em décadas passadas em mestres por natureza. Não digo mestres no sentido de professores escolares aptos a lecionar matérias como matemática, química, português ou ciências. Falo do sentido mais amplo da palavra. Isso porque, por muitas vezes, não há nada melhor do que aprender sobre a vida do que com quem já viveu muitas coisas e, sem dúvidas, tem muita história para contar. Darcely Emanuel Pombo é um exemplo. Com 76 anos, ele é figura conhecida na cidade e também em A VOZ DA SERRA, não só por ter trabalhado como operário nas Fábricas Arp e Ypu ou por ter servido à Marinha por anos. Seu Darcely é um exímio contador de histórias. Não apenas as dele, mas a de muitos, e de anos que nem mesmo ele esteve presente para vivenciar. E isso graças a uma brincadeira de infância que se transformou em estilo de vida.
Foi ainda pequeno que Darcely criou o hábito de guardar fotos. A esperança, segundo ele, era de que um dia os objetos poderiam ser úteis. E como recordações não seriam úteis, não é mesmo? Até então, o menino colecionava imagens sobre os mais diversos temas, mas foi com 26 anos, em 1965, que o pesquisador nato, nascido em Pedra Riscada, distrito de Lumiar, começou a construir um acervo da história de Nova Friburgo. O espaço para sua coleção era um cantinho na garagem. Só que com o passar dos anos, o lugar não conseguia mais comportar de forma conservada a quantidade de arquivos que só aumentava. Sem cogitar a possibilidade de se desfazer do acervo, Darcely construiu um sobrado destinado a expor tudo e receber visitantes também apaixonados por história.
“Comecei com dez a 20 imagens guardadas na garagem e hoje tenho mais de mil itens entre fotos, documentos e até mesmo jornais antigos. Sem contar com a coleção de notas e moedas”, conta ele, com orgulho. Como montou seu arsenal? Ele também explica: “Quando vou a um lugar e encontro uma foto antiga, eu compro, ou, às vezes, até ganho ou troco. Costumo tirar cópias de livros e documentos também”, revela.
O mais impressionante, no entanto, não é apenas o zelo que Seu Darcely tem com seus objetos, todos plastificados para conservação, ou a quantidade de seu arsenal histórico, mas sim a habilidade de nos contar a história de cada imagem exposta sem deixar passar nomes e datas. Uma verdadeira enciclopédia viva. Durante nossa breve visita à sua casa no bairro Olaria, o militar, entusiasmado, nos contou diversas histórias enquanto nos mostrava fotos, documentos e jornais da época. Dentre elas estava o surgimento das primeiras indústrias, principalmente a Fábrica Arp, que detém uma parede inteira de fotografias; a história dos bairros Olaria e Cônego; o primeiro casamento negro registrado em Lumiar em 1938; as primeiras eleitoras mulheres; a inauguração da Igreja Matriz; e muito mais. Perguntei a Darcely como ele fez para lembrar-se de tantas coisas, e eis a resposta: “Além de gostar das fotos também me interesso pela história delas, então quando acho algo que me interesse procuro ler sobre aquilo e me interar do assunto”, conta.
Além de nos receber com imenso carinho, Darcely doou algumas imagens de seu acervo para A VOZ DA SERRA, feito inédito já que, segundo ele, “não vende e nem doa seus arquivos”. Mas a ação foi por uma boa causa. O maior desejo do militar aposentado é que sua coleção seja preservada e faça sentido para as futuras gerações. “Gosto muito de história e estou doando a vocês algumas memórias porque sei que cuidarão delas. Queria que os jovens de hoje também se interessassem pelo assunto. Atualmente as pessoas têm se ligado muito em tecnologia e dado pouca importância para o saber histórico. Sempre disse e continuarei dizendo que feliz é aquele que tem uma história para contar e um pai e uma mãe para tomar bênção.”
O acervo de Darcely fica localizado na Rua Araguaia, em Olaria, e quem quiser conhecer a coleção, ele reintera: “Será muito bem-vindo”. Para marcar uma visita, basta entrar em contato pelo telefone 2528-0216.
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