A Unidos da Saudade foi a segunda a entrar na passarela para contar as muitas histórias que atravessam os quase três mil quilômetros de extensão do Rio São Francisco. E, assim como o rio, a Saudade abusou da grandiosidade para buscar o tricampeonato com seu enredo “Nas águas de Opará surge São Francisco, um rio de magia e integração nacional”, do carnavalesco Anilton Almeida, ex-Gaviões da Fiel, do carnaval paulista. O rio, que surge tímido numa nascente aparentemente insignificante na mineira Serra da Canastra, ganha corpo e majestosidade ao atravessar grande parte do nordeste brasileiro. Toda essa magia permeada por lendas, costumes e crendices ao longo de suas margens ganhou um brilho especial no carnaval da Saudade, que trouxe alegorias grandiosas, cheias de efeitos luminosos, sonoros e carrancas de assustar, mas que ao mesmo tempo deram um toque de muito luxo e capricho aos foliões empolgados com o desfile.
Logo em sua comissão de frente a escola representou os ancestrais tupinambás e o despertar dos maus espíritos, numa alusão aos grandes males que brotam da terra dourada junto ao São Francisco, o Opará, segundo os nativos. No abre-alas, a escola representou a chegada dos invasores ao imaginário paraíso dourado por onde o rio corre, atraindo navegantes sonhadores que buscavam tesouros. Em alas bastante coloridas e com caprichadas fantasias, foi representada a miscigenação de raças que margeia o São Francisco, cujo nome foi dado por Américo Vespúcio, que iniciou sua viagem pelas águas do rio no dia do santo. A alegoria “O vapor encantado e a terrível cobra grande” deu o toque da imponência do desfile da Saudade. Um dos maiores carros do carnaval friburguense, com direito a efeitos sonoros do rugido das feras que assustavam os navegantes segundo as lendas da época. Todo esse “horror” ganhou brilho especial na alegoria “A arte secular das carrancas”, que impressionou pela grandiosidade. O medo deu lugar ao brilho e luxo típicos do carnaval.
A agremiação roxo e branco ainda se infiltrou nos muitos costumes do Nordeste brasileiro banhado pelo Velho Chico. Em alas bem animadas tiveram destaque as mulheres rendeiras, os bonecos de barro, as cerâmicas, os pescadores, romarias a santos milagreiros, o maracatu, o boi-bumbá, as folias de reis e a tradição das festas juninas, que ganhou até uma alegoria réplica de um típico arraiá no carro “As festividades encantadas do São Francisco”. Os casais de mestre-sala e porta-bandeira enalteceram a chama da cobiça europeia cruzando o mar rumo à terra dourada e à corte do folclore, enquanto passistas representaram as muitas culturas agrícolas da culinária típica do Nordeste, como o feijão de corda, as frutas, legumes e o camarão na moranga. A velha guarda fez uma saudação especial a São Francisco, que ganhou alegoria própria.
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