Uma questão de respeito

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Uma questão de respeito
Uma questão de respeito

O cidadão nasceu e mora em Nova Friburgo, sabe que de abril a setembro as chuvas somem, a umidade do ar cai, florestas esturricam e mesmo assim não titubeia: junta o lixo ou seja lá o que for e põe fogo, sem dó. As chamas crescem, lambem a mata, as chamas se espalham e começa mais um incêndio florestal de consequências imprevisíveis.

Fico em dúvida se quem faz uma coisa dessas é um criminoso irresponsável ou um perfeito idiota. O problema, como sempre, é a falta de educação e a certeza de impunidade. A Lei Federal nº 9.605, de fevereiro de 1998, no seu artigo 54, prevê reclusão de um a quatro anos, além de multa para quem causar poluição de qualquer natureza em níveis que resultem em danos à saúde humana ou que provoquem a mortandade de animais e a destruição significativa da flora.

E mais: causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas ou que cause danos diretos à saúde da população dá cadeia de um a cinco anos, mesma pena para quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

O que acontece anualmente em Nova Friburgo chega a doer no coração: são cerca de 20 chamadas diárias ao Corpo de Bombeiros para conter focos de incêndio em áreas de mata nativa, a maioria delas de difícil acesso. A grande incidência de incêndios levou o Inea—Instituto Estadual do Ambiente—a criar uma força-tarefa de combate às queimadas, com o apoio da Coordenadoria de Combate aos Crimes Ambientais—Cicca—da Secretaria Estadual do Ambiente e do Parque Estadual dos Três Picos, cuja parte da extensa área ardeu em chamas no auge da estação.

Os danos provocados pelas queimadas, principalmente nos morros de Nova Friburgo, são um completo desastre. Segundo especialistas da Universidade Federal do Tocantins, estado que tem o segundo maior número de incêndios florestais no Brasil, o impacto ambiental pode ser “medianamente grave ou irreversível, como a mortalidade da biodiversidade, incluindo a vegetação e a fauna, que pode ter entre os animais atingidos pelo fogo espécies ameaçadas de extinção”.

Uma área destruída por um incêndio florestal fica extremamente vulnerável, sujeita a desabamentos e cheias. Com a destruição da camada vegetal, o solo fica exposto e, se chover, essa encosta queimada pode escorregar, provocando uma nova tragédia de proporções já bem conhecidas pelos friburguenses.

Os danos que as queimadas provocam não ficam só nos morros. Segundo a Universidade de Campinas, em São Paulo, as queimadas urbanas contribuem para a degradação da qualidade do ar, provocando reflexos imediatos no atendimento dos Centros de Saúde e Prontos Socorros, principalmente de crianças e idosos.

As queimadas geram material que contém, além do carbono, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, muitos deles com propriedades carcinogênicas (geradoras de câncer), bem como gases tóxicos. Como consequência do agravamento da poluição atmosférica, constata-se maior ocorrência de diversas patologias como asma, rinite, pneumonia e tumores malignos.

Resumindo a ópera, as queimadas, uma técnica primitiva de limpeza do terreno para agricultura ou pasto, provocam mais danos do que benefícios e, não à toa, são objeto de fiscalização e leis rígidas.

O combate a esse verdadeiro desastre ambiental só será possível com muita educação e a efetiva aplicação da legislação.

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A primavera finalmente deu o ar de sua graça, pelo menos no calendário e, graças ao nosso clima de altitude e a Mata Atlântica, vamos ter companhia sempre bem-vinda de flores, enfeitando a nossa tão complicada rotina. A temperatura começa a subir e os dias ficam mais coloridos, emoldurados pela natureza, sempre deslumbrante.

No entanto, não há prazer algum sair de casa e dar de cara com uma encosta coberta de belíssimas flores silvestres misturadas com garrafas de plásticos vazias, embalagens de papelão, papel velho, puro lixo, enfim.

É uma preocupação recorrente deste cronista e de muitos outros amigos e moradores de Nova Friburgo: lugar de lixo é na lixeira e não nas matas, rios e ruas de nossa cidade. Tal qual as queimadas, jogar o lixo em qualquer lugar é falta de educação, cidadania e humanidade.

Nova Friburgo é a nossa casa e merece todo o nosso amor e respeito.

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O trágico desabamento de uma pedra na Terê-Fri, matando uma pessoa e ferindo outras duas, expõe a fragilidade de nossos morros. Não importa se a tal pedra rolou por causa de uma obra ou das chuvas de Janeiro. Perdeu-se uma vida e a sensação de insegurança e impotência aumenta cada vez que constatamos que as encostas ainda estão nuas e rios assoreados.

A primavera chegou, sempre linda, mas não podemos nos esquecer que a próxima estação é o verão, trazendo, como sempre, suas temidas chuvas.

(*) - carlosemersonjr@gmail.com

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