Uma justa homenagem aos heróis da tragédia de janeiro

segunda-feira, 26 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

A difícil missão de trazer

a água e a vida de volta

Concessionária Águas de Nova Friburgo lança documentário e livro com relatos dramáticos de seus funcionários na árdua luta para restabelecer o fornecimento de água após a tragédia das chuvas de janeiro

Henrique Amorim

Sem água não há vida e, ironicamente, após tanta água despejada sobre Nova Friburgo na fatídica madrugada de 12 de janeiro - que culminou num dos maiores desastres naturais da história mundial - a população, maculada pela perda – oficialmente, quase 500 vidas perdidas -, enfrentou incontáveis contratempos, entre eles, a interrupção de serviços básicos, como o fornecimento de água. Contudo, menos de uma semana após a catástrofe foi possível restabelecer a chegada da água potável nas torneiras de todo o município, permitindo aos friburguenses iniciar a difícil batalha da reconstrução, começando-se pela limpeza. Essa retomada dos costumes básicos do dia a dia foi possível graças a um empenho invejável de uma enorme força-tarefa dos funcionários da concessionária de águas e esgotos do município, a Águas de Nova Friburgo, e de suas coligadas, que integram o grupo Águas do Brasil.

O tamanho esforço desses funcionários foi reconhecido desde então, tanto pela empresa como pela população e também por eles próprios, mas a direção do grupo decidiu reverenciar os heróis da retomada dos serviços em tempo recorde, com o lançamento, na última quinta-feira, 22, no Teatro Municipal, do documentário “O desafio das águas” e do livro “Tragédia e reconstrução – O desafio das águas”. Em ambas as obras, que marcam na memória o triste episódio das chuvas de 2011, o grupo Águas do Brasil destaca, além de momentos marcantes da tragédia, o trabalho que requereu um esforço sobre-humano das equipes para restabelecer o serviço ante às inúmeras dificuldades operacionais até mesmo de acesso às redes e estações de tratamento de água (ETAs), todas elas mergulhadas em lama e escombros.

“Não era possível nem chegar à sede da empresa e os funcionários se desdobraram, deixando entes queridos de lado, pensando no coletivo”, observa o superintendente da Águas de Nova Friburgo, Christian Portugal. E tudo isso em meio à dor de toda a equipe com a morte do colega de trabalho, o calceteiro Artelino Derrihu. “No início se pensava que nada mais poderia ser feito. Parecia um bombardeio. Nós só conseguimos porque ignoramos que era impossível”, destaca o diretor do grupo Águas do Brasil, Alexandre Bianchini, que exaltou a garra da equipe em prol da retomada de Nova Friburgo, linda por natureza e que se restabelece graças ao esforço coletivo. “Exemplos disso são a nossa indústria de moda íntima a todo vapor, a rede hoteleira aquecida e a concentração dos melhores restaurantes do país”, enumerou, em convite aos executivos do grupo, que participam até este fim de semana de um congresso em Nova Friburgo a voltarem sempre, incrementando a economia e o turismo locais.

O presidente do conselho administrativo do grupo Águas do Brasil, José Carlos Sussekind, exaltou a necessidade de homenagear os funcionários que se desdobraram numa exaustiva missão de trabalho, como também a toda a sociedade friburguense que deu exemplo de solidariedade para o mundo. “Anualmente realizamos um encontro de acionistas em Niterói. Este ano, ainda em janeiro, devido ao terrível episódio, transferimos o evento para Nova Friburgo com a ideia de reverenciarmos esses heróis. Não queremos glorificá-los, mas reconhecermos justa e honradamente a participação de todos eles nessa reconstrução”, disse na solenidade de lançamento, que contou ainda com a apresentação do Coral das Águas, integrado por funcionários da concessionária, e a cantora Denise Pinaud.

Um documento

para ficar na história

O documentário em DVD disponibilizado para os funcionários do grupo Águas do Brasil, autoridades, órgãos públicos e historiadores é fruto da garimpagem de mais de 70 horas de gravações brutas dos departamentos de jornalismo do SBT Interior e da TV Zoom, que produziu o material, com 30 minutos de duração, e ainda diversas reportagens e fotos de A VOZ DA SERRA sobre a catástrofe climática. O documentário “O desafio das águas” reúne uma série de depoimentos de funcionários da Águas de Nova Friburgo, executivos e colaboradores das demais concessionárias do grupo que narraram as dificuldades para restabelecer o sistema de abastecimento em meio a deslizamentos de encostas, soterramentos e mortes de parentes e amigos, alagamentos e destruição de equipamentos.

Também são exibidos trechos de reportagens que relembram a triste madrugada de 12 de janeiro, o pânico com o boato do rompimento de uma represa inexistente, a difícil missão do resgate de corpos, depoimentos de bombeiros, técnicos da Defesa Civil, vítimas do desastre e uma análise técnica do coordenador de hidrologia da UFRJ, Paulo Canedo, que avalia as causas da forte pancada de chuva com 32 horas de duração, além do depoimento emocionado do cabo bombeiro Ronald Lopes de Oliveira que sobreviveu ao soterramento na Rua Cristina Ziede, onde três colegas da corporação morreram.

Já no livro “Tragédia e reconstrução – O desafio das águas”, a jornalista Aline Erthal reúne em 64 páginas todo o drama das vítimas, a luta dos funcionários do grupo Águas do Brasil e tentativa da cidade em renascer. Ilustrado com fotos, algumas delas chocantes, o livro contém ainda depoimentos de autoridades e executivos do grupo Águas do Brasil com personagens marcantes que destacam as difíceis missões de salvar vidas, resgatar corpos, atravessar o caos, retomar o abastecimento, enfim, sobreviver. “Consegui mesclar relatos de dor, sofrimentos e tristeza, mas, ao mesmo tempo, de uma coragem infinita. Foi impressionante o pânico na sede, o atendimento médico improvisado às vítimas, o inicialmente quase impossível restabelecimento da ETA Rio Grande de Cima, entre tantos outros episódios. São histórias de muitos heróis. A água é um bem precioso e num local devastado é mais primordial ainda”, declarou a autora.

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