Texto: Karine Knust / Fotos: Amanda Tinoco
Vestir uma roupa de veludo vermelho em pleno verão, colocar uma barba bem suntuosa e investir em uma barriga um tanto saliente para sair às ruas e fazer a alegria dos pequenos não deve ser uma tarefa tão simples, mas para os "bons velhinhos” o sacrifício vale a pena. Afinal, não há nada mais gratificante do que colocar um sorriso nos lábios de uma criança. Com direito a trenó, Julienn Scott Murray Breder é um exemplo de Papai Noel bem dedicado. Sim, o Bom Velhinho de que estamos falando é uma mulher, atriz, tem 23 anos, estuda Educação Física e em dezembro se dedica a representar um dos personagens mais famosos da festa natalina. A origem dessa iniciativa, o que levou Julien e sua família — sim, a família também — a se dedicarem à missão de levar alegria às pessoas e a experiência mais marcante do Papai Noel Scott Murray Breder estão nesta entrevista exclusiva ao jornal A VOZ DA SERRA.
A VOZ DA SERRA - Como funciona o trabalho de vocês?
Jullien Scott Murray Breder - Não temos horários nem dias certos para sair com o trenó. Deu vontade de ir para a rua? Nós vamos. Tem alguém precisando de um Papai Noel? A gente chega lá! É tudo muito simples, chamou, a gente aparece. Já temos uma galera cativa, que sempre nos procura. Minha família acabou se envolvendo. Meu pai é o principal responsável por tudo, ele tem as ideias. Eu sou o Papai Noel, minha irmã vira duende-ajudante e minha mãe nos socorre quando o assunto é roupa. Na noite de Natal ainda tem meu primo que topa tudo. Ele veste a camisa!
Como surgiu a ideia?
Quando eu era bem nova, todo mundo se reunia no Natal, na casa da minha avó, para esperar o cara da barba branca chegar. E ele sempre chegava, nunca nos decepcionou! Meu pai sempre foi o bom velhinho da família, ele sempre curtiu essa ideia, e aí nós embarcamos na aventura e passamos a sair para alegrar as crianças. Começamos a pensar em para onde ir e como viabilizar o projeto. Me transformei em Papai Noel e meu pai há anos é o motorista do bom velhinho. Adoramos ver as pessoas felizes na rua, acenando para o Papai Noel, rindo, mandando beijos. A energia que a gente recebe é incrível, impagável. É uma troca maravilhosa!
Realizar ações como essa deve ser muito gratificante...
É fantástico! Não posso definir com outra palavra. Eu sempre participei de ações para ajudar o outro. Digo que sempre recebo muito mais do que dou. Durante boa parte da minha vida escolar estive envolvida com a pastoral da juventude. Depois me envolvi em outros projetos que sempre me fizeram muito bem. Se todo mundo soubesse como ajudar o próximo é gratificante, com certeza o mundo seria muito melhor. Levar felicidade para outras pessoas é muito enriquecedor, é a melhor retribuição que podemos ter. Nós sabemos que em muitos lugares que visitamos, o nosso Papai Noel vai ser a única "festa” de Natal que vai acontecer.
Como vocês arrecadam os presentes?
É bem legal. As pessoas que nos procuram normalmente já têm as doações, deixam conosco e nós entregamos a uma instituição ou vamos a algum lugar distribuir os presentes.
Quais localidades o Papai Noel Scott Murray Breder costuma visitar?
Ele passa por todos os lugares! Normalmente saímos do Cascatinha e vamos passando pela cidade, andamos muito pelo Centro. Muitos não sabem quem somos, acho legal despertar essa curiosidade nas pessoas também. O mais distante que fomos foi à estrada Friburgo-Teresópolis.
Como surgiu o trenó do Papai Noel Scott Murray Breder?
Meu pai quem teve a ideia. Antes era só uma cadeira, até que em um Natal ele olhou pro carro e pensou: "Por que não ter um trenó pro Papai Noel?” e tem dado muito certo! O trenó é a parte mais divertida, é o que mais transporta as pessoas para a fantasia. As crianças ficam doidas. Pedem pra subir, tirar fotos, ficam olhando tudo pra tentar entender de onde veio aquilo. Depois do Natal dá um aperto no peito, pensando que vamos ter que esperar um ano inteiro pra viver tudo de novo.
Ao longo do ano, quando não está alegrando as crianças como Papai Noel, a que se dedica?
Eu e meu pai já pensamos em fazer algo parecido com o Papai Noel em outras épocas do ano, tipo um coelho da páscoa num ovo gigante (risos), mas por enquanto está só no papel. Além de ser atriz e gostar muito do que faço, sempre tive uma formação religiosa muito forte. Ser disponível para o outro nunca foi um sacrifício, meus pais nunca precisaram me ensinar isso. É algo que veio comigo. Mas tenho também bons exemplos em casa. Meu pai, além de ser um professor querido pelos alunos, é um cara que está sempre presente pro que der e vier e minha mãe não é diferente! Sabe o tipo de pessoa que faz questão de ajudar, sem precisar sair dizendo isso pro mundo? Acho que somos assim. Ajudamos e isso basta. O que me importa é que o outro saiba que eu to aqui por ele também.
Que experiência mais te marcou nesses anos de Papai Noel?
Uma vez, fomos a uma festa de fim de ano numa escola, num lugar muito carente. As crianças adoraram receber presentes do velho Noel. No final eu estava tirando fotos com as crianças. Eram muitas, e por um vacilo meu, um menino percebeu que se tratava de uma menina fazendo o Papai Noel. Ele estava um pouco sem graça, e eu mais ainda, não queria decepcioná-lo! Ele então pediu para eu abaixar, e me perguntou: "Papai Noel, você é menina?” Respondi que sim, fazendo sinal com a cabeça, não podia dizer o contrário, criança é criança né? Para minha surpresa, ele me olhou, me abraçou muito forte e me agradeceu. Disse que estava muito feliz por eu estar lá. Ele viu quem eu era e não se importou com o fato de o bom velhinho ser, na verdade, uma menina. E ainda agradeceu. Eu me emocionei muito! Nunca vou esquecer. Essas coisas dão a sensação de dever cumprido. Quantas pessoas no mundo já receberam um abraço tão cheio de carinho e gratidão como esse? Sou privilegiada! Agradeço sempre pelas pessoas nos receberem tão bem, e é claro, aquelas que são nossas parceiras, que nos procuram para proporcionar um Natal melhor para alguém. Aproveitando, desejamos um Natal lindo e um 2015 maravilhoso para todos nós!
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