Gabriel Joaquim dos Santos, filho de uma índia e de um ex-escravo africano, foi uma pessoa simples, com um sonho grande: construir sua própria casa. Negro e pobre, trabalhava na retirada de sal [em salinas] na Região dos Lagos, mas nem mesmo toda a dificuldade foi capaz de impedir que ele construísse uma bela e original arquitetura, que se tornou um dos pontos turísticos mais visitados em São Pedro da Aldeia. Gente de todas as partes do Brasil e do Exterior visita a pacata cidade litorânea para conhecer de perto a Casa da Flor, como ficou conhecido o humilde lar de Gabriel.
Em 1923 Gabriel teve um sonho e viu sua casa toda adornada por enfeites. Com os poucos recursos de que dispunha, o pobre construtor não desanimou e foi buscar no lixo tudo o que precisava para compor sua obra-prima e dar vazão àquele sonho. A casa, erguida em pau a pique, recebeu cacos de cerâmica, lâmpadas queimadas, tampas de metal, conchas da praia, velhos faróis de automóveis e tudo o mais que Gabriel garimpasse pelas redondezas. Todo esse material foi utilizado para decorar, em forma de flores, as paredes internas e externas de sua casa.
Embora a vizinhança estranhasse tal atitude, Gabriel Joaquim aliou em sua casa beleza e simplicidade, que o fez entrar para o seleto grupo de “Construtores do Imaginário”, artistas/arquitetos que fugiram dos padrões tradicionais, assim como Ferdinand Cheval (França), Antoni Gaudí (Barcelona) e Antonio Virzi (Rio de Janeiro).
Atribuindo a Deus o seu talento e a realização da obra, Gabriel costumava dizer: “O que é, não sei... Aí tem um mistério na minha vida que eu mesmo não posso compreender. Os homens fazem trabalho, mas precisam aprender... Um carpinteiro precisa aprender. Eu não aprendi com ninguém. Eu não tive escola. Aprendi no ar, aprendi no vento... Isso não é de mim. Deus me deu essa inteligência, vêm aquelas coisas na memória e fiz tudo perfeitozinho como sonhei”.
Gabriel, nascido em 1892, morreu em 1985, mas a Casa da Flor permanece de pé e conta com o apoio do projeto Sócio-amigo da Casa da Flor, cujos integrantes colaboram com uma taxa trimestral de R$ 50, a fim de manter a originalidade do imóvel e evitar a ação de vândalos e do próprio tempo. A casa está situada no bairro Parque do Estoril, antigo bairro do Vinhateiro, na Estrada dos Passageiros, 232, aberta à visitação. Atualmente o responsável e zelador do monumento é Valdevir Soares dos Santos, sobrinho-neto de Gabriel. Para saber mais ou agendar visitas basta entrar em contato pelo telefone (22) 2625-0719 ou acessar www.casadaflor.org.br.
(www.alexsandrofotos.blogspot.com)
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