Uma canção para Nova Friburgo

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 29 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Qual é a canção de Nova Friburgo? Não, não é falta de assunto não, a pergunta tem uma razão de ser. Senão vejamos: o Rio de Janeiro tem o samba, a bossa nova, o funk, mas para mim, a cara da Cidade Maravilhosa é exatamente a marchinha do mesmo nome, de autoria de André Filho, que toca fundo os corações cariocas.

São Paulo vem com a sua Ronda, do Paulo Vanzolini, retratando os desencontros de uma cidade muito grande e populosa. Mas ainda sou mais “Trem das Onze”, clássico do Adoniram Barbosa, que nem tem muita coisa a ver com a terra da garoa, mas marca pela sua singeleza e por tudo que o autor, um palmeirense doente, representou.

Salvador, talvez a mais musical das cidades brasileiras, comparece com não apenas uma, mas várias identidades. Minha preferida é uma bem lenta, “Tarde em Itapoã”, do Toquinho e Vinícius de Morais, que remete sempre para um momento mágico que hoje não existe mais.

Montevidéu é Carlos Gardel. Cresci ouvindo os tangos que meu pai tanto amava e fiquei surpreso quando lá estive e descobri que todo mundo, em todos os lugares e a qualquer hora do dia ou da noite, adora um bom e trágico tango. De Carlos Gardel, por supuesto!

Não, a coisa é complicada. Uma identidade musical não significa que, obrigatoriamente, a cidade terá o mesmo astral de sua música, longe disso. A falta dessa identidade também não quer dizer que sua população é um zero à esquerda. Pensando bem, o fato de ter uma música símbolo não é nada assim tão importante, não é mesmo?

O friburguense gosta de música, tanto quanto um carioca, um suíço ou um japonês! A diversidade cultural e musical dos povos que formaram a cidade está aí para comprovar. Nesse caldeirão somos todos brasileiros e, como já estamos carecas de saber, adoramos música, de qualquer tipo.

Nova Friburgo tem, com muito orgulho, duas bandas centenárias, a Euterpe e a Campesina, ainda em plena atividade. Por aqui se formam músicos e os projetos Banda na Praça, com a apresentação aos sábados de cada uma das duas centenárias bandas, prova que cultivamos boa música. Por aqui se faz samba, rock, forró, jazz, axé e até, para meu desespero, funk!

Mas continuo sem resposta para minha pergunta: qual a nossa música? Talvez a incapacidade de ouvi-la esteja apenas em mim, pelo pouco tempo de convivência com os ares da serra e o espírito ainda carioca, vá lá saber!

Na verdade, o que me incomoda mesmo é o silêncio, a cabeça baixa, o desânimo e a falta de esperança. Depois de 12 de janeiro, a musicalidade desapareceu e um vazio doloroso tomou lugar em nossos corações e mentes.

Como pensar em música quando você está em uma fila tentando receber o aluguel social? Ou tentando fechar a folha do mês sabendo que seu negócio foi destruído e nem tem perspectiva de retomada? E aqueles que perderam a família, amigos e todo o ânimo para sobreviver? É difícil, quase impossível.

Qual a canção de Nova Friburgo? Realmente eu não sei, mas gostaria muito de voltar a ouvir as pessoas rindo à toa, o ruído de crianças simplesmente brincando e a balbúrdia das bobagens discutidas nos bares. A canção mais doce seria ouvir a população mobilizada cobrando nada menos do que ação, seriedade e transparência, especialmente nessas horas tão difíceis de reconstrução da nossa cidade.

Pois é, meus amigos, a canção de Nova Friburgo ainda vai ser cantada!

Carlos Emerson Junior (cejunior@gmail.com)

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