Três em um. Ou seria um por três? Quem decide ir ao show "40 Anos Sem Pixinguinha” pode pensar inicialmente que os vários talentos que sobem ao palco não vão conseguir uma unidade, uma homogeneidade. A suavidade e doçura de Vânia Bastos, a explosão e alegria de Maria Alcina e a criatividade jazzística do baixista Marcos Paiva e seu trio (Nelton Essi no vibrafone, Rodrigo Digão Braz na bateria e Rodrigo Ursaia no sax e flauta) parecem contrastar uns com os outros... Como juntar tudo isso numa homenagem a Pixiguinha? Aí talvez esteja o segredo: Pixinguinha, músico talentoso e versátil, que morreu durante um batizado há 41 anos (o show em sua homenagem começou no ano passado), é tão cheio de nuances que talvez seja mesmo necessário uma gama diversa de artistas para expressar toda sua riqueza musical.
A primeira parte do show — que foi realizado em Nova Friburgo na noite do último domingo, 17, no Sesc — contou com Marcos Paiva, que se apresentou como "contrabaixista de São Paulo”, e seu trio. O artista começou a apresentação com "Desprezado”. Uma das músicas que mais surpreendeu, no entanto, foi "Cochichando”, que Marcos apresentou de forma bastante diferente: "Foi inspirada em Radamés Gnattali”, esclareceu o músico.
Logo depois, Vânia Bastos entrou no palco. Começou elogiando Nova Friburgo: "Esta é a primeira vez que estou aqui e espero que seja a primeira de muitas. Estou adorando”, declarou ela, para iniciando então "Fala Baixinho”. "Lamento” — uma parceiria de Pixinguinha com Vinícius de Moraes — foi interpretado magistralmente por Vânia, acompanhada apenas por Marcos Paiva. Para finalizar essa segunda parte, a música mais famosa de compositor, "Carinhoso”, cuja letra é assinada por Braguinha.
O show então mudou completamente de tom. Maria Alcina entrou no palco com a alegria e energia de sempre, mostrando, com seu vozeirão, as músicas mais alegres do "mestre do choro”, incluindo "Gavião Calçudo”, que já fez todos da plateia baterem palmas acompanhando o ritmo. Com seus longos cílios postiços e forte maquiagem, Maria Alcina mostrou que não perdeu o dom da alegria e irreverência dos tempos de seu grande sucesso, a música ‘Fio Maravilha’, apresentada no Festival Internacional da Canção, em 1972, no Maracanazinho: "Gente, vamos cantar comigo. Vou até tirar o sapato (e tirou mesmo!). Só não tiro a roupa porque todo mundo vai cair duro”, brincou ela.
Encerrando o show — que tem a direção de Fran Carlos e produção executiva de Petterson Mello — Marcos Paiva e trio, Vânia Bastos, Maria Alcina e toda a plateia se uniram para cantar "Carinhoso”.
Após o show, Maria Alcina e Vânia Bastos deram uma entrevista exclusiva para A VOZ DA SERRA:
A VOZ DA SERRA – Como está sendo fazer este show, com talentos aparentemente tão diferentes?
Vânia Bastos – É um luxo cantar Pixinguinha, um desafio para qualquer cantor, qualquer músico de qualquer parte do mundo. As notas das canções parecem que são escolhidas a dedo. O show foi uma ideia de Fran Carlos, com a produção do Petterson (Mello), que tem dado muito certo. E tem ainda a Selma Reis, que também participa, se reveza conosco. Este trabalho é uma delícia.
Maria Alcina – Estou muito feliz de estar neste show. Esse trabalho, com esses arranjos do Marcos Paiva, para nós, cantoras, é realmente um desafio. O canto entra como um trabalho de músicos.
Fale um pouco da carreira de vocês.
Vânia Bastos – Tenho percorrido muitos lugares com vários projetos. Tem um sobre Dorival Caymmi, o "Quatro vezes Caymmi”, que fala sobre os quatro principais temas dele: mulher, mar, amor e Bahia. Tem o do Tom Jobim e agora o "Chega de Saudades do Poetinha”, que é só com músicas de Vinícius de Moraes. Gosto de projetos que a voz casa com a ideia do projeto.
Maria Alcina – Estou lançando agora o CD "De normal basta os outros” (ri) que comemora meus 40 anos de carreira. Na verdade gravei muito pouco nesses anos todos, mas sempre fiz muito show. Se não dá para a gente ir para um lado, a gente vai pelo outro. Sei que o meu grande sucesso, a minha "Conceição” (diz, se referindo à música de Chico Buarque, imortalizada por Cauby Peixoto) é Fio Maravilha e acho isso ótimo. É muito bom termos uma música que marca. O público tem me acompanhado todo esse tempo. Por isso não podemos perder a força, temos que entrar no palco com garra, com alegria. E é isso que eu faço.
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