Um senador friburguense

quarta-feira, 15 de outubro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Girlan Guilland 

Faltando 75 dias para findar 2014, 290° dia do ano, este 17 de outubro registra, entre outras datas, um acontecimento que teria tudo para passar tão despercebido quanto seu personagem central. Ou seja, totalmente esquecido nas últimas seis décadas.

Em meio à efervescência político-partidária da campanha eleitoral em segundo turno, a data celebrada também tem raízes no campo político e reconduz à cena atual a figura histórica de Mozart Brasileiro Pereira do Lago.

Mesmo escrito com todas as letras de seu nome completo, é preciso esclarecer quem foi o friburguense Mozart Lago. Sua extensa biografia merece e precisa de muito mais espaço. Mas, apenas para não deixar passar em branco por mais um ano esta trajetória tão interessante, seguem alguns registros.

Sim, friburguense! Mozart Lago nasceu em Nova Friburgo a 17/10/1889, há exatos 125 anos. Um dos cinco filhos de Américo Vespúcio Pereira do Lago e de Emília Carneiro Pereira do Lago, era irmão do maestro Sérvio Túlio Pereira do Lago, um dos autores do Hino de Nova Friburgo, composto para o centenário da cidade, em 1918.

Secundarista do Colégio Anchieta (1901), foi para o Rio, então Distrito Federal, em 1907, para cursar a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Paralelamente, ministrou aulas particulares (de português e de aritmética) no Externato Santo Inácio. Revisor e redator de jornais e revistas, bacharelou-se em Direito, em 1911.

Ainda nos tempos universitários, participou do que terá sido seu primeiro ato na seara política estreando uma de suas muitas atuações em momentos marcantes da época: integrou-se à Campanha Civilista (1909-1910), lançando a candidatura de Rui Barbosa à Presidência em oposição ao marechal Hermes da Fonseca, eleito em março de 1910.

Em 1914, ingressa na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e publica "As últimas dele”, volume de sátiras reafirmando sua oposição ao marechal Hermes da Fonseca. Em maio de 1917 inicia, pela imprensa, oposição a Nilo Peçanha, que acabara de assumir o Ministério das Relações Exteriores. Em 1921, quando Peçanha se candidatou à Presidência da República, apoiado pela Reação Republicana, Lago aderiu à coligação fluminense apoiando o candidato oficial Artur Bernardes e publicou "A convenção nacional”, criticando o candidato oposicionista. Bernardes vence o pleito de março de 1922, e em dezembro Mozart se elege deputado estadual pelo Rio.

Secretário do ministro da Justiça Afonso Pena Júnior (fevereiro de 1925 a dezembro de 1926), por indicação do senador Sampaio Correia, é eleito, em março de 1930, deputado federal pelo Distrito Federal; assumiu em maio, mas, em outubro, com a vitória da Revolução de 1930 e a supressão dos órgãos legislativos, perdeu o mandato. Com a morte de Miguel Couto (julho de 1934), assumiu a vaga na Câmara Federal.

Após promulgação da nova Carta (16/7/1934) e com a Constituinte transformada em Congresso ordinário, teve mandato prorrogado até maio de 1935. Em maio de 1937 participou da convenção de seu partido que lançou a candidatura de José Américo de Almeida, apoiada por Vargas, às eleições presidenciais marcadas para janeiro de 1938. Entretanto, com o golpe de 10 de novembro de 1937 e a implantação do Estado Novo, conferindo poderes ditatoriais a Getúlio, o Legislativo foi fechado e Mozart Lago perdeu o mandato mais uma vez.

Foi eleito senador pelo Distrito Federal em outubro de 1950, na legenda do Partido Social Progressista (PSP), assumindo em fevereiro de 1951. Obteve menos votos que Napoleão Alencastro Guimarães, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), coube-lhe um mandato de apenas quatro anos — e não oito, como habitual — para completar o de Luís Carlos Prestes, cassado em janeiro de 1948, após decretação da ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB).

Embora tenha tentado reeleger-se, ainda pelo PSP, em outubro de 1954, foi derrotado pelo general Aguinaldo Caiado de Castro, candidato do PTB, e por Gilberto Marinho, lançado pela coligação dos partidos Social Trabalhista (PST) e Republicano Trabalhista (PRT). Em janeiro de 1955, concluído o mandato, deixou o Senado Federal.

Mas não restringiu suas atividade à política, onde teve destacada atuação em defesa das mulheres. Presidiu o Círculo de Imprensa, integrou o Instituto dos Advogados do Brasil, secretário e depois diretor da Escola Normal de Artes e Ofícios Venceslau Brás; inspetor escolar da Prefeitura do Distrito Federal, inspetor de seguros e tabelião do 20º Ofício. Exerceu intensa atividade jornalística, em "A Notícia”, "Gazeta de Notícias”, "Jornal do Comércio”, "A Noite”, "A Manhã”, "A Esquerda” e "A Batalha”.

Durante 59 anos integrou a ABI, exercendo cargo de diretor em diversas administrações, sendo seu consultor jurídico até o início da década de 1970. Faleceu no Rio, em 3 de abril de 1974, um ano após enfermidades consequentes de um atropelamento por táxi em Copacabana, onde morava.

Casado com Maria Pereira do Lago, teve um filho. Nome de rua em Coelho Neto (Rua Senador Mozart Lago) e de escola pública da rede municipal, em Oswaldo Cruz, também no Rio, que atende estudantes do Maternal II e Educação Infantil (do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental), em Nova Friburgo, sua terra natal, o senador sequer é lembrado que existiu um dia.


Fonte: Site do SENADO Federal; Almanaque Abril; ASSEMB. NAC. CONST. 1934. Anais;

CAFÉ FILHO, J. Dosindicato; CÂM. DEP. Deputados; Câm. Dep. seus componentes; CISNEIROS, A. Parlamentares; CONSULT. MAGALHÃES, B.; Diário de Notícias, Rio (26/5/1937); GODINHO, V. Constituintes; Grande encicl. Delta; Jornal do Brasil (4/4/1974)


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