Um presente para Nova Friburgo

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Está bom, eu confesso, nunca passei uma noite de Natal em Nova Friburgo. Para ser justo, nem em Paris, Buenos Aires, Barcelona ou Nova York. Noite de Natal sempre foi no mesmo lugar, desde que eu era criancinha e acreditava em Papai Noel: no Rio de Janeiro. A família era pequena e espalhada entre São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul e só nós, meus pais e minha irmã, morávamos no então Distrito Federal.

De lá para cá a capital federal foi embora, ganhamos várias Copas do Mundo, deixamos de votar em presidentes, protestamos, voltamos a votar em presidentes, não acreditei mais no Papai Noel, estudei, trabalhei, casei, a família aumentou e, no fim das contas, só a nossa Festa de Natal continuou forte e firme na Cidade Maravilhosa.

Uma de minhas filhas diz, com toda a razão, que temos uma verdadeira tradição natalina. Nos reunimos em volta de uma Árvore de Natal, comemos, bebemos, cantamos, dançamos e abrimos os presentes por volta da meia-noite, sempre distribuídos pelo familiar mais jovem, outra de nossas tradições!

Mas mesmo assim, nosso Natal está muito ligado à Nova Friburgo. Desde que definimos que iríamos morar aqui, passamos a tirar umas folgas no mês de dezembro para comprar os presentes da lista que minha mulher caprichosamente elabora ano após ano (mais uma tradição?), incluídos aí os da minha sogra e filhas, que costumam subir para ajudar na escolha. Aliás, o comércio, restaurantes e taxistas da cidade agradecem penhorados!

Pessoalmente deixo com o maior prazer essa tarefa com quem gosta de comprar no atacado. Sair com uma lista de nomes na mão, correndo loja após loja, procurando o presente ideal para cada um, não é para mim, não. Até faço companhia com prazer porque gosto de caminhar, conversar e carregar peso, ou melhor, pacotes, não necessariamente nessa ordem. E como Natal é tradição, lá vou eu todo mês de dezembro atrás da mulherada, com sacolas e mais sacolas de presentes.

Tanta correria e agitação quase nos faz esquecer que o Natal, muito mais do que uma festividade cristã, é uma oportunidade de rever tudo o que se passou no ano. E já que estamos falando de espírito natalino, essa é uma boa hora para lembrar dos mais necessitados, principalmente na nossa cidade, onde tanta gente perdeu tudo. Um pouco de caridade, no meio de tanto consumismo é uma ajuda importante, além de um belo gesto e prova de amor ao próximo.

Eu gosto de dar presentes e, se possível, de surpresa, sem motivo algum. Meus amigos já sabem e acho que nem se surpreendem mais quando recebem uma lembrancinha completamente sem razão de ser. Mas dá para explicar: como sou observador, tenho facilidade de associar alguma coisa a alguém, raramente errando. Não precisa ser caro e o que vale é ter importância para o presenteado.

E foi pensando nisso que quis deixar um presente para Nova Friburgo, uma cidade que me recebeu calorosamente, apesar do frio do inverno, que me ensinou que somos parte de uma natureza incrível que só quem mora aqui pode ver e ainda permitiu que eu fizesse amizades insubstituíveis. Puxa vida, qual seria o presente de Natal para Nova Friburgo?

Que o relógio voltasse para o dia 11 de janeiro deste ano e eu pudesse avisar que uma chuva terrível estava vindo seria ótimo, mas a física nos ensina que isso é impossível. Reconstruir a cidade, dragar e limpar os rios e providenciar a contenção de todas as encostas seria perfeito mas, infelizmente, não sou o homem mais rico do mundo. Ordenar a construção das casas de todos os desabrigados também não dá, não tenho uma caneta mágica nas mãos.

Dar esperança para a cidade, lutar pelo seu crescimento, cobrar atitude e seriedade de quem de direito, participar e compartilhar ideias e, principalmente, não atrapalhar, isso eu posso fazer mas, convenhamos, não é um presente e sim obrigação de qualquer cidadão consciente dos problemas de sua cidade.

O presente que vou deixar na Árvore de Natal de Nova Friburgo e de todos os meus novos conterrâneos é o amor que eu sinto por essa cidade e que me faz agradecer todas as manhãs, a oportunidade de recomeçar minha vida em paz e feliz. E não é pouco amor não, é paixão mesmo, daquelas que provocam taquicardia, risos e choros emocionados e vontade de ficar sempre junto da amada.

Eu sei, não é muito diante do que a cidade precisa mas, se cada um de nós fizer o mesmo, quem sabe o que um amor tão grande poderia realizar, não é mesmo?

Feliz Natal, Nova Friburgo! Feliz Natal, meus queridos amigos.

carlosemersonjr@gmail.com

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