Corria o ano de 1865. A Câmara da Vila de Nova Friburgo, como sempre, desde o seu nascimento em 1820, vivia às voltas com a permanente falta de dinheiro, mal que se transformou em doença crônica da Vila e que, com o advento da República, passou a ser doença da prefeitura da cidade. O fantástico clima de Nova Friburgo, que naquela época já era reconhecido até nas Minas Gerais, não fazia o dinheiro multiplicar. O dinheiro arrecadado era sempre curto para as muitas necessidades do município. E o pior é que, por estas serras, era comum o hábito de devedores ‘dependurarem’ as dívidas com a Câmara.
Em 12 de maio daquele ano o Procurador da Câmara, a pedido da Comissão de Contas, apresentou um relatório sobre os créditos que ela tinha a receber. Só de foros havia uma dívida de mais de um conto e quinhentos mil réis, muito dinheiro para a época, mas que ele não podia cobrar por desconhecer os endereços dos devedores que não mais residiam em Nova Friburgo. De multas provenientes do Júri havia um monte delas. Mas dívidas incobráveis. Algumas delas por terem os devedores se mudado da Vila e não se conhecer seus novos endereços e outras por não terem os devedores bens em que pudessem ser executados, e assim por diante. Enfim, a Câmara tinha muitos créditos a receber mas, irrecuperáveis. Um dos devedores, no entanto, Manoel José de Azeredo, era morador da Vila e, também, era possuidor de um terreno a ele aforado. Ele era devedor à Câmara da importância total de cento e setenta e sete mil, quinhentos e vinte réis, sendo: cento e trinta mil réis por multa do Júri e de quarenta e sete mil, quinhentos e vinte réis por foros do terreno que possuía. O assunto foi debatido e resolveu a Câmara levar o terreno a leilão. Alguns meses se passaram e correndo a execução do terreno, produziu o leilão a arrematação da importância total de 396$000. Desse valor foi feita a dedução de 249$017 réis de custas judiciais e 129$500 réis por procuratórios e petições, no total de 397$017 réis de despesas e o que restou dessa cansada operação, além de uma belíssima experiência, foi o prejuízo que coube à Câmara na importância de 1$017 réis. Um belo resultado. A Comissão respectiva deu o seguinte parecer: ”O mal está consumado e o que resta é uma lição. Que esta Câmara seja mais cautelosa para o futuro com as ações que tiver de intentar.“
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