O professor, historiador e diretor da L’Art Produções Artísticas, e músico amador — por toda a vida e por opção —, Lauro Henrique Alves Pinto, tem muita história para contar. Nascido numa família onde a música pairava sobre todos os ambientes (a mãe tocava violino, as tias, violoncelo, flauta), seu sobrenome e parentescos não deixam dúvidas quanto à genética e riqueza de seu universo: é sobrinho da dona Lucília Guimarães (primeira esposa de Heitor Villa-Lobos, de quem foi aluno por dois anos na infância); primo do cartunista, chargista, escritor e jornalista Ziraldo Alves Pinto; e parente do cantor e compositor Ivan Lins. Durante anos produziu os concertos do pianista Arthur Moreira Lima, e tocou com os mais representativos nomes da música popular brasileira.
Em meados do ano passado, Lauro, aos 77 anos e viúvo, se mudou, definitivamente, do Rio para Nova Friburgo — cidade que frequenta há 50 anos como veranista. Não propriamente para “ficar” aposentado, mas para enriquecer, com sua experiência e contatos, a vida cultural friburguense. Aliás, seu amigo, o jornalista Girlan Guilland, é o responsável pela sua introdução na comunidade, no meio cultural da cidade, em particular, onde Lauro já circula com total descontração, conquistando novos amigos por onde passa.
“Eu me acostumei a chamá-lo de ‘o mais novo cidadão de Nova Friburgo’, uma pessoa que já está totalmente incorporada à cena e à paisagem friburguenses”, comentou Girlan. Simpático, falante e com ótima memória, Lauro tem se dedicado a planejar eventos para a cidade em 2017. E não tem perdido tempo: convidado, participou de diversos programas de emissoras de TV locais, relembrando fatos e contando histórias. Neste papo com A VOZ DA SERRA, esse novo personagem do cenário artístico-cultural friburguense contou um pouco de sua história.
Lições ao som de Gershwin, Glenn Miller e Rachmaninoff
Filho de militar, Lauro se preparou para seguir a carreira do pai e com 12 anos foi matriculado no Colégio Militar. Para sua sorte, lá tinha uma banda. E piano. Sentindo-se à vontade no novo ambiente estudantil, o menino percebeu que poderia continuar estudando música quando o diretor da banda o convidou para integrar o grupo, tocando instrumentos de sopro, os mais simples, até chegar ao clarinete, que é considerado o “rei da banda”, o instrumento responsável pelo solo.
Com três anos de banda, alcançou a posição de primeiro clarinete. Um feito e tanto para um jovem adolescente, nessa altura com 15 anos. Ele conta que fazer parte daquilo foi “como chegar na Disney!”, com satisfação. E foi com orgulho ainda maior que mais tarde passou a fazer pequenas viagens para apresentações da banda, em eventos como concursos, solenidades.
Gershwin (George, compositor e músico americano), Rachmaninoff (Sergei, maestro, compositor clássico russo), Glenn Miller (músico americano e líder de “big band”), entre outros grandes compositores faziam parte do repertório da banda do Colégio Militar. “Foi com essa diversidade de músicos e gêneros que eu expandi meus conhecimentos, através dos discos que o diretor da banda tocava pra gente ouvir, conhecer e aprender. Tínhamos aulas ouvindo grandes músicos e maestros e isso durou até eu me formar, aos 18 anos”, conta.
… com Arthur, Oscar, Márcio, Tim
Nessa sucessão de aprendizado, desde criança, com a mãe, tias, tios, e depois na banda militar, Lauro adquiriu um rico conhecimento do universo musical, através de um variado número de instrumentos e gêneros musicais. “Todo instrumento que chegava lá em casa, eu logo ficava de olho, curioso, querendo saber que som tinha, como tocava. Essa sempre foi a minha paixão e um dia, realizei o sonho de montar um conjunto, de rapazes do bairro. Eram amigos que também tocavam e ficaram animados com a ideia de nos juntarmos”.
E então começa a lembrar que alguns desses rapazes eram o Arthur Moreira Lima (pianista consagrado como um dos maiores intérpretes de Chopin), um adolescente na época; o músico e instrumentista Oscar Castro Neves, que fez carreira internacional e se estabeleceu na California (EUA), onde faleceu em 2013, aos 73 anos; e Márcio Montarroyos, famoso trompetista, também falecido, aos 59 anos, em 2007. “Às vezes, Tim Maia também comparecia, e era comum a gente se encontrar com Roberto e Erasmo Carlos, que cantavam nos mesmos bailes que a gente, ali mesmo na Tijuca. Éramos todos muito jovens, alguns com menos de 20 anos”, vai pinçando na memória.
O conjunto se chamava “Os Filhos da Pauta”, o que divertia os mais jovens e incomodava os mais velhos. Os instrumentos variavam, às vezes tinham dois clarinetes, outras, duas flautas. Nessa altura, ele já estudava na Escola de Música, onde conheceu Paulo Moura, maestro, compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista de choro, samba e jazz, considerado um dos principais nomes da música instrumental brasileira. Ao entrar para a Associação Cristã dos Moços (ACM), Lauro passou a viajar com o grupo musical da entidade para se apresentar em bailes de outras cidades, de norte a sul do país.
E assim seguiu como músico amador, por toda a vida, em sintonia com a carreira de professor. O magistério também foi outra paixão que abraçou, a partir de concurso feito aos 21 anos, nos anos 1960, pelo então Estado da Guanabara. A mãe, as amigas da mãe, as tias, todas o ajudaram nos estudos e ele se classificou entre os 10 primeiros candidatos, entre milhares de inscritos. Fez faculdade de pedagogia, e, munido de vários títulos, constou dos quadros do magistério estadual por mais de 50 anos, tendo inclusive produzido programas educativos para a TV Continental. Já na música…
Bem, agora, Lauro, como gestor de cultura, curso que fez em Barcelona, em 1992, está empenhado em trazer artistas do meio musical para apresentações em Nova Friburgo, como fez em tantas outras cidades, produzindo concertos, inclusive, com o pianista Arthur Moreira Lima. Seu objetivo para 2017 é colocar a serviço da cultura, aqui, todo o seu conhecimento e experiência adquirida numa vida dedicada à arte musical.
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