Henrique Amorim
As tristes e chocantes imagens da tragédia das chuvas não saem da lembrança de ninguém. Encostas deslizaram, rios e córregos transbordaram na fatídica madrugada do último 12 de janeiro, levando casas, bens materiais, vidas e sonhos... Oficialmente mais de 420 moradores de Nova Friburgo morreram soterrados e, para muitos, este número pode ser ainda bem maior. Um mês após a catástrofe, o município luta para tentar se reerguer. Frentes de obras e de recuperação são vistas por vários locais com o intuito de reconstruir Nova Friburgo.
Aos sobreviventes da maior catástrofe natural já vista no país, resta agora a esperança e a força para recomeçar, mas esse povo guerreiro não esqueceu dos que se foram e no último sábado, 12, rendeu homenagens aos que perderam suas vidas na tragédia com homenagens e manifestações de dor, tristeza, saudade e, principalmente, esperança numa nova vida, em eventos marcados pela emoção, que atraíram uma multidão às praças do Suspiro e Dermeval Barbosa Moreira, no Centro.
No Suspiro - um dos principais cartões-postais friburguenses, hoje maculado pela ferocidade das chuvas e que serviu de símbolo da catástrofe para o mundo -, membros de diversos segmentos religiosos promoveram na manhã do último sábado um momento de fé e oração em intenção à memória dos mortos na tragédia. Na ocasião, o prefeito em exercício, Dermeval Barboza Moreira Neto, emocionado, definiu o momento como um “marco na história de Nova Friburgo”.
Segundo ele, a população deve tirar da tragédia uma lição: “A hora é de igualdade, de vestir a mesma camisa todo dia. E a camisa é Nova Friburgo”, disse. Em seguida, após a população ser convocada a fazer um minuto de silêncio em reverência aos mortos na catástrofe, o radialista Pedro Osmar lembrou que os primeiros momentos após a tragédia foram de dor e tristeza, mas que, agora, “o coração dos friburguenses voltou a bater mais forte diante de tantas demonstrações de solidariedade, força, fé e esperança na reconstrução de suas vidas e da cidade”, ressaltou, ao som da música “Farol”, de autoria de Marcus Viana, criada para estimular a população friburguense a se reerguer. Para incentivar o reflorestamento, o movimento Renova Friburgo distribuiu 500 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.
Um momento emocionante do sábado de homenagens foi a soltura de centenas de balões coloridos, simbolizando a saudade dos familiares dos mortos na tragédia. Na maioria dos balões, soltos durante a oração coletiva do Pai Nosso, em frente à Capela Santo Antônio, foram escritos os nomes das vítimas fatais, com mensagens de saudades. A aposentada Ernestina Barroso perdeu o filho Elias no soterramento de sua casa, no distrito de Campo do Coelho. “Sinto muita falta dele, mas Deus me deixou aqui para criar agora o meu neto. Foi uma vida inteira de luta para construirmos nossa casa, que foi levada pelas barreiras”, lembrou, em lágrimas.
Na Praça Dermeval, um grande abraço em homenagem aos que não estão mais entre nós
Após a celebração inter-religiosa no Suspiro, uma grande multidão se aglomerou na Praça Dermeval Barbosa Moreira, numa cena marcante: de mãos dadas, famílias, amigos e desconhecidos se uniram num momento de fé e muita emoção em homenagem às vítimas da tragédia das chuvas de janeiro. Exatamente ao meio-dia, ao badalar dos sinos da Catedral de São João Batista, a população rezou unida o Pai Nosso e fez novamente um minuto de silêncio, ao toque de instrumentos. O radialista Marcelo Merecci também lembrou a necessidade de oração pelos sobreviventes e leu uma carta sobre a oportunidade e a responsabilidade dos que escaparam da tragédia, de autoria de Marco Madeira da Cunha (confira a íntegra da mensagem nesta edição).
Os bombeiros, que perderam três integrantes da corporação, mortos ao tentar salvar vítimas na queda de um edifício na Rua Cristina Ziede, se abraçaram ao fim do evento e, tomados pela emoção, rezaram pelos colegas de farda e pediram forças a Deus para continuar a salvar vidas. O momento foi encerrado com o coro de “muito obrigado” e uma calorosa salva de palmas da população. “Esses bombeiros são mesmo gloriosos. Pude ver isso de perto ao acompanhar o resgate de vítimas, ao lado da minha casa. A cada pessoa retirada da lama com vida, eles se emocionavam como se estivessem salvando seus próprios filhos”, observou o aposentado Eleutério Barroso, 67 anos.
Na Praça Dermeval Barbosa Moreira, a população pode ainda expressar sua dor e saudade dos mortos na catástrofe com mensagens expostas no Varal da Dor e do Amor, uma iniciativa da ONG Viva Rio. Entre inúmeras mensagens de carinho, esperança, fé e saudade, uma delas emocionou voluntários e populares. O menino Marcus Vinícius, de 8 anos, desenhou um sol encoberto por uma grande montanha e escreveu: “Papai, estou morrendo de saudades de você”. Uma voluntária conseguiu apurar com acompanhantes do menino que os pais dele morreram soterrados no bairro Córrego Dantas.
No fim da tarde, o padre Antônio Leão Ferreira celebrou uma missa em intenção aos mortos na catástrofe na igreja de São Francisco de Assis.
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