Um filme de terror chamado: Alugar Casa em Friburgo

De preços a dificuldades burocráticas, conseguir um imóvel para alugar na cidade não é tarefa das mais fáceis
domingo, 05 de julho de 2015
por Jornal A Voz da Serra
De preços a dificuldades burocráticas, conseguir um imóvel para alugar na cidade não é tarefa das mais fáceis
De preços a dificuldades burocráticas, conseguir um imóvel para alugar na cidade não é tarefa das mais fáceis

Esta não é apenas uma reportagem sobre as dificuldades burocráticas, logísticas ou financeiras de se locar um imóvel em Nova Friburgo. A temporariamente sem-teto repórter que vos fala vem enfrentando esta pendenga, vagando de bairro em bairro atrás de uma choupana pra chamar de sua – bem, sua pelo menos por um período de trinta meses, previsto em contrato autenticado e assinado em cartório. Mas, principalmente, um texto de solidariedade para com aqueles que enfrentam ou já enfrentaram o mesmo problema.

Para sua própria segurança, uma boa parte dos proprietários entrega a chave de seus imóveis às corretoras imobiliárias. A essas empresas cabe a missão de ser o ponto intermediário entre o dono da casa (locador) e quem a aluga (locatário) ou compra, assim como lhes cabe a administração de taxas como condomínio, seguro, IPTU, etc. A imobiliária precisa ser credenciada no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) e é responsável ainda por realizar uma vistoria antes da ocupação do imóvel e quando da desocupação deste, resguardando, assim, direitos e obrigações de ambas as partes quanto as condições do imóvel negociado.

Aí começa o Santiago de Compostela friburguense. O candidato não pode ter restrição nos órgãos de proteção ao crédito (SPC, Serasa), deve apresentar dois fiadores que sejam proprietários de algum imóvel (devidamente registrado em cartório) e a renda familiar do pretenso locatário deve ser compatível com o valor do aluguel - segundo especialistas financeiros, o aluguel pode comprometer apenas até 30% da renda mensal familiar. Os fiadores também precisam ter renda compatível e não ter restrição, além de estarem obrigados a informar o regime de comunhão do casamento, se forem casados, bem como apresentar os documentos do cônjuge. Por isso, a maior dificuldade enfrentada pelo locatário é conseguir os dois fiadores.

Segundo Gabriel Ruiz, diretor de uma imobiliária na cidade, normalmente se pede dois fiadores a fim de dar maior garantia ao proprietário. Ele ressalta ainda que existem outros tipos de garantia locatícia, assegurados pela Lei 8245/91 (Lei do Inquilinato), como por exemplo o seguro-fiança - uma apólice emitida por seguradora ou instituição financeira, onde tal empresa fará o papel de fiador, recebendo do locatário uma quantia referente ao serviço (o valor pode chegar a duas vezes o valor do aluguel, mais as taxas embutidas) - e o caução, quando é depositado em caderneta de poupança o valor de - geralmente - três aluguéis, sendo esta quantia devolvida integralmente ao locatário ao término da locação, com os devidos juros. Vale lembrar que a imobiliária, de acordo com a Lei do Inquilinato, fica proibida de exigir mais de uma modalidade de garantia.

Não tenho fiador. E agora?

Eu tenho canhoto de passagem de quatro anos atrás para uma viagem a Belo Horizonte que eu nem fiz… mas fiador com imóvel e disponível pra me ajudar eu não tenho, não, quem dirá dois. Então parti para a ignorância e fui caçar o lar doce lar na raça. Tirei sábados e domingos para andar os recônditos mais escondidos nessa cidade – e como andei. Nessa, tropecei em outro problema: a distância, a dificuldade de locomoção entre os pontos. Como sabem, a sede do jornal é no centro de Friburgo, logo, alugando imóvel em localidade mais distante, o tempo gasto no trânsito, no ônibus, é um fator – bem pesado – a ser considerado, ainda mais com duas crianças e suas mochilas. Basta observar o semblante triste às seis da tarde de qualquer trabalhador que more no Belmonte e trabalhe no Paissandu, ou more no Sítio São Luiz e estude no Prado, ou que enfrente todos os dias a Conselheiro Julius Arp, a Roberto Silveira, e por aí vai, para pensar cinco vezes antes de ir para um bairro tão, tão distante.

O problema é que entende-se que um apartamento ou casa nos arredores do Centro facilite a vida de muita gente – e facilidade custa caro. Proximidade com centros comerciais, segurança, comodidade, metragem do imóvel, número de dependências, enfim, vários fatores podem encarecer o valor do aluguel. A imobiliária ou a corretora de imóveis, como dito, está obrigada a cumprir as determinações da Lei do Inquilinato, que rege todas essas questões e ampara locadores e locatários quanto a direitos, obrigações e valores devidos, mas como é feito este cálculo quando o acordo de aluguel é feito diretamente com o proprietário do imóvel?

Gabriel Ruiz me disse que quem faz o valor é o mercado, e que vários são os fatores que encarecem ou não um imóvel, mas a  impressão que estou tendo com a experiência – e que certamente é percebida por todos em igual situação, não só em Friburgo como em todos os cantos do país – é a de que o aspecto mais relevante na hora de alugar uma casa é o da proximidade com a área nobre, por assim dizer. Quanto mais perto de tudo, mais caro, independentemente até de outros fatores como tamanho ou condições do imóvel. No caso de Friburgo, o centro da cidade lidera a lista do “quem pode, pode”.

Além de andar pelas ruas sôfrega à procura das placas de “Aluga-se”, ingressei pelo vasto mundo dos grupos de informações sobre compra, venda e locação de imóveis nas redes sociais e li mil e um anúncios de aluguel nos sites estilo desapego. Descobri uma estratégia um tanto quanto maliciosa de alguns corretores: usam seus perfis pessoais em redes sociais para anunciar imóveis. O interessado entra em um grupo no Facebook, por exemplo, e descobre o anúncio de uma casa. Puxa papo, então, no inbox (mensagem privada) com o “dono” do anúncio, pensando se tratar de uma negociação direto com o proprietário, mas, no fim, era o perfil de um corretor ou de uma imobiliária. Igualmente, percebi que alguns anúncios colados nas janelas e portas de imóveis parecem “caseiros”, levando a crer que a negociação é direto com o proprietário, porém, são também anúncios de imobiliária. E volto eu, triste, triste, a procurar outro anúncio.

Quanto aos valores, parece não haver grande diferença entre os preços praticados nas imobiliárias - que sofrem correção anual, inclusive - e os ditados pelos proprietários. O que encarece, mesmo, é a localização do imóvel. Um apartamento de dois quartos no Centro, por exemplo, chega a custar R$ 1.500 mensais, excetuando taxas como condomínio, seguro contra incêndio e IPTU. Há taxas de condomínios que custam quase o preço do aluguel. Considerando que o salário mínimo hoje é de R$ 788, um casal cuja renda equivalesse a dois salários, R$1.576,00, não poderia exceder o limite de R$ 472,8 com um aluguel. Das duas, uma: ou o salário não combina com o mercado… ou o mercado esquece o salário que o trabalhador tem. Complicado.

Quanto a mim, sigo procurando. O último imóvel que me encantou tem lá as suas desvantagens, mas o meu padrão de busca foi mesmo ficando mais elástico conforme eu entrava e saía de casas vazias sem resposta e cheia de mágoa no coração. Ele fica na “Avenida da Morte”, que é como um leitor nosso, o Mario Guilherme, chama a Comte Bittencourt. 

No tarot, morte é, na verdade, renascimento. Tomara que seja uma previsão.

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TAGS: Aluguel | imobiliária | dificuldade | fiador
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