Um festival inesquecível

domingo, 10 de agosto de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Fotos: Hélio Melo e Liliana Sarquis

De 26 de julho a 10 de agosto, Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis foram "invadidos” por uma criativa e variada programação cultural: a 13ª edição do Festival Sesc de Inverno. Teatro, cinema, literatura, exposições, esportes urbanos, oficinas, programação infantil, espaço de cultura digital e shows com grandes artistas formaram uma talentosa gama de atividades oferecida ao público.

Em Nova Friburgo, depois da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, que abriu as atrações musicais, se apresentaram a roqueira Pitty, o pantaneiro Almir Sater, Mart’nália, Paulinho da Viola e, no último fim de semana, Hamilton de Holanda e Orquestra, com a participação de Pedro Luís, Beth Carvalho e Baby do Brasil.

A VOZ DA SERRA marcou presença no festival, divulgando diariamente a programação, contando um pouco sobre os shows e demais atrações e entrevistando alguns artistas. Confira as apresentações de Hamilton de Holanda, Beth Carvalho e Baby do Brasil e as entrevistas com os dois primeiros (a assessoria de Baby comunicou que a artista não daria entrevistas pessoalmente para poupar a voz e que as perguntas poderiam ser enviadas por e-mail, o que foi feito por nossa equipe no sábado, 9. Até fecharmos esta edição, às 18h de ontem, 11, não obtivemos as respostas). 

 

Beth Carvalho: um show de força, talento e emoção

Quem foi ao show de Beth Carvalho no último sábado provavelmente mal se lembrou que a cantora passou por sérios problemas de saúde, ficando um grande período internada em um hospital. Pouca gente sabe também que ela ainda não está totalmente recuperada. Claro que havia sinais, óbvios: quando as cortinas foram abertas, Beth entrou num pequeno palco rolante, passou boa parte sentada, assim como sua banda e, quando se levantava, permanecia apoiada. Ah, e o que poucos viram: o Sesc precisou instalar uma rampa para que Beth chegasse até o palco. 

Nada disso teve importância perante ao brilhante show, que relembrou seus vários sucessos, esquentou o frio, fazendo o público cantar e sambar e mais: comprovou a grandeza de uma artista talentosa, generosa e  atenciosa com o público e com a cidade que a recebeu, além de ser uma grande descobridora e incentivadora de talentos. 

Toda de branco, Beth reclamou do frio e disse que cantaria sambas "para esquentar”. E foi isso que fez. De "Andanças” a "Coisinha do Pai”, a cantora mostrou um rico repertório formado por músicas dos mais diversos compositores, uns bem conhecidos, como Cartola e Zeca Pagodinho, e outros, nem tanto. Cantou uma música em homenagem a Benito di Paula, contando que o conheceu num bar em São Paulo. Chamou um senhor que sambava num canto da plateia para ir a frente do palco e se emocionou ao cantar "Volta por cima”, de Paulo Vanzoline.

Após o show, Beth Carvalho recebeu a equipe do Sesc, que realizou uma filmagem com ela sobre o festival, e o jornal A VOZ DA SERRA para uma entrevista exclusiva. Ao entrarmos no camarim, Beth descansava, deitada num sofá coberto pelas cores verde-e-rosa de sua mangueira. De meias de lã e luvas de couro. No chão, pantufas. Estacionada num canto, uma moderna cadeira de rodas motorizada. Não, ela não precisaria dar a entrevista, mas depois de um show de cerca de uma hora e meia, ela respondeu às três perguntas que haviam sido combinadas previamente com sua produção. Mas foram respostas longas. Um grande bate-papo, na verdade — que durou mais de meia hora. 


A VOZ DA SERRA – Beth, do seu primeiro compacto, em 1965, até o show de hoje, como você resume a tua carreira.

Beth Carvalho – Só posso dizer que é muito boa. O Brasil é o melhor país do mundo, é um país muito carinhoso. Nos lugares em que já fiz show, fui recebida por muitos brasileiros que choram de saudades daqui e também por muitos estrangeiros, alguns até casados com brasileiros. Eles também gostam muito da nossa música. A primeira vez que fui à Suíça, por exemplo, foi no Festival de Montreux, em 1988. Era um festival de jazz, que tinha como atração Herbie Hancocke e Sarah Vaughan. Eu era a última a cantar. Fiquei nervosa, me perguntando o que eu estava fazendo ali, num festival de jazz, com grandes nomes. Pensei que quando chegasse a minha vez, não teria mais ninguém. Mazzola, que era o produtor, dizia: "Você vai arrebentar.” Já eram duas horas da manhã. E não é que deu certo? Tive que trizar, ou seja, voltar três vezes ao palco. Só que o camarim era bem longe, eu ia e voltava. (risos). O povo não saía! Voltei a esse festival nos anos de 1990 e 1994. Mas acho que a gente começa a fazer sucesso fora quando a gente conhece o próprio quintal. Dificilmente alguém começa primeiro a fazer sucesso no exterior. Nunca fui ao Japão, mas já vendi 25 mil discos lá. E eles cantam as músicas, fazem até o breque, mesmo sem saber o que significa.


Você já cantou em várias partes do mundo e teve até a voz acordando um robô em Marte. Tem algum lugar que gostaria de cantar e ainda não fez show?

Eu acho que não. Já cantei em lugares que eu queria, como Paris, duas vezes em Cuba... Agora, no dia 4 de setembro, vou à Venezuela fazer um show em comemoração ao Sete de Setembro. Pena que Hugo Chavez não esteja mais vivo. Ele era um grande cara, que lutou contra o imperialismo, deu educação ao povo. Conheci ele bem e, de repente, ele estava com câncer, assim como Fidel, Lula, Dilma, Cristina Kirchner... Muito estranho. Lula conseguiu unir a América Latina. Antigamente, ninguém falava com ninguém. O Hugo Chavez queria fazer uma revolução, só que a Venezuela tem petróleo — e uma revolução com petróleo é outra coisa, outra ameaça. Cuba só tem tabaco e açúcar. E agora o Maduro está lá, tentando segurar as coisas. Mas estou feliz em fazer o show lá na Venezuela. Pena que o Brizola não esteja lá. 


Você sempre foi conhecida por descobrir e redescobrir talentos. Tem algum novo talento em vista?

Em qualquer canto existe um talento. Hoje, por exemplo, eu vi aquele senhor sambando ali no cantinho. Vi um passista, que provavelmente não teve oportunidade. Mas o talento está lá, com ele. Foi assim com muitos outros. Jorge Aragão, Arlindo Cruz... O Zeca Pagodinho chegava nas rodas de samba, com o cavaquinho num saco das Sendas, magrinho. Ele me impressionou e um dia eu disse: "Vou botar você pra cantar comigo”. Ele nem sabia segurar o microfone. Daí surgiu o sucesso "Camarão que dorme a onda leva”. Tem muito talento por aí. E descobri-los faz parte do meu espírito socialista, gosto de dividir. 

 

Baile do Almeidinha: "riscando o chão” ao som do bandolim

Na noite de sexta-feira, 8, o bandolinista Hamilton de Holanda subiu ao palco da quadra do Sesc com sua banda para uma apresentação memorável. Com muito virtuosismo no instrumento de dez cordas, o músico apresentou versões de clássicos da MPB em versões instrumentais — como "Sem Compromisso”, de Chico Buarque, e o clássico da Bossa Nova "Chega de Saudade” — e também músicas de sua autoria.

A participação do público foi ótima, com muitos casais, de várias idades, dançando bastante durante a apresentação, que também teve a participação do músico Pedro Luís, eventual convidado do Baile do Almeidinha e líder da banda Pedro Luís e A Parede. Em sua breve participação, o músico cantou quatro músicas, incluindo o clássico samba de Adoniran Barbosa, "Trem da Onze”.

Antes do show, Hamilton de Holanda e seu convidado, Pedro Luís, deram uma entrevista exclusiva à equipe de A VOZ DA SERRA:


A VOZ DA SERRA - Sua primeira apresentação foi aos seis anos de idade. Você se lembra desse dia?

Hamilton de Holanda - Era um show num clube de Brasília. Nasci no Rio, mas morei muitos anos lá. Eu me lembro de algumas coisas, de algumas músicas, de estar com meu irmão no palco. Foi o nosso primeiro cachê e com ele a gente comprou um presente para nossa mãe.


Como surgiu o Almeidinha?

É uma brincadeira. O pessoal do Circo Voador me convidou para fazer um baile, mas não podia ser "Baile do Hamilton de Holanda” porque ia ser um nome muito sério, então escolhemos Almeidinha. Foi ficando e já faz dois anos. 


Como você se interessou pelo instrumental?

Foi pela ligação com o chorinho, com Pixinguinha, e também por ser de família de músicos. Meu pai, meu avô, meu tio, são todos músicos.


Como você vê hoje o cenário da música, principalmente instrumental?

A música instrumental é "devagar e sempre”, às vezes aumenta um pouco. Você vê pessoas mais jovens tocando e dá uma certa alegria.


Você chegou a ser chamado de "Jimi Hendrix do Bandolim” nos Estados Unidos. O que achou disso?

É claro que isso é bom, não é? (disse o músico, sorrindo timidamente)

Como surgiu a parceria entre vocês?

Pedro Luís - Foi da admiração. Ele me convidou uma vez e eu gostei. Deve ter uns cinco, seis anos. Já participei do Baile do Almeidinha duas vezes lá no Rio. Uma vez a gente fez o dia do samba lá em Brasília.


Vocês têm música em parceria?

É uma dívida que tenho com ele. Tem uma música que ele me passou que eu ainda não consegui pôr uma letra à altura.

 

Baby festeja seus 60 anos relembrando a carreira

A cantora Baby do Brasil encerrou no último domingo, 10, o Festival Sesc de Inverno em Nova Friburgo. Com a quadra do Sesc lotada, Baby aqueceu o domingo com grandes sucessos da sua carreira em um show da turnê "Baby Sucessos”, que comemora seus 60 anos de vida.

Com um time de músicos muito bons, liderados pelo filho da cantora, Pedro Baby, o show teve quase duas horas de duração e agitou a plateia com clássicos como "Tudo Azul”, "Lá Vem O Brasil Descendo a Ladeira” e "Todo Dia Era Dia de Índio”. Do repertório do Novos Baianos — banda em que a cantora começou sua carreira, quando ainda era Baby Consuelo — o público pôde ouvir "Tinindo Trincando” e "A Menina Dança”.

O público foi bastante receptivo e aplaudiu bastante a cantora, que continua em grande forma no palco e cantou em coro a música "Menino do Rio”, composição de Caetano Veloso que foi uma das músicas de maior sucesso de Baby.


Filho de peixe...

Uma das gratas surpresas do show foi o guitarrista Pedro Baby, que também já trabalhou com outras grandes artistas, como Marisa Monte e Gal Costa. Responsável pela volta de sua mãe à música popular, Pedro, além de dirigir o show, é um guitarrista exemplar, executando as linhas de guitarra clássicas das músicas — a maioria criada por seu pai, o também guitarrista Pepeu Gomes — e surpreendendo com os solos, sendo fiel aos arranjos originais, mas aplicando sua originalidade.

Na segunda parte do show, Pedro fez uma homenagem ao pai, tocando e cantando "Mil e Uma Noites de Amor”, sucesso da carreira do guitarrista. Depois, quando Baby do Brasil voltou ao palco, cantaram juntos "Masculino e Feminino”, homenageando o pai de seus seis filhos. 

O show terminou com "Barrados Na Disneylândia”, música que conta o episódio clássico em que Baby e Pepeu foram barrados no parque americano por medo de chamarem mais atenção que os brinquedos com seus cabelos coloridos.


As matérias e entrevistas do Festival Sesc de Inverno

foram realizadas por Liliana Sarquis e pelo estagiário Lucas Vieira

 





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