“No dia 12 de janeiro de 2011 eu dormia tranquilo, no Rio. Tinha uma passagem comprada para Nova Friburgo na hora do almoço e absolutamente nada para fazer pela manhã. Fui despertado por uma ligação de minha mulher, assustada, pedindo para ligar a TV. Mal acordado, custei a entender o que estava acontecendo. As notícias, vagas e genéricas, falavam em 9 mortes e citavam os bombeiros da Cristina Ziede. Fui ao telefone e tentei falar com o condomínio da minha casa. Inútil. Procurei amigos, conhecidos e até lojas, sem sucesso. Todos os telefones estavam mudos.”
O parágrafo acima faz parte de meu artigo “A Hora das Chuvas”, publicado aqui mesmo no jornal A Voz da Serra, na edição do dia 3 de março de 2011, quase dois meses após a tragédia de janeiro.
Para mim foi uma válvula de escape, quase uma catarse mesmo, pois cheguei a acreditar que meu projeto de vida—morar em Nova Friburgo—tinha chegado ao fim.
Não perdi nenhum bem, nenhum parente e nenhum amigo. O destino foi generoso e a chuva passou ao largo de minha casa. Lá do Rio não era possível ter a real dimensão da gravidade da situação. As televisões mostravam muito mais imagens de Teresópolis, até mesmo pela dificuldade física de conseguir chegar à nossa cidade. O mais angustiante era a completa falta de comunicações, o silêncio.
Quatro dias depois consegui voltar e, ao dar de cara com toda aquela destruição absurda, não resisti e chorei em plena rua, abraçado com minha mulher que, chocada, nada falava. Em silêncio andamos pelas ruas enlameadas e cheias de lixos e destroços, à procura de notícias e amigos. Ali mesmo tomamos uma decisão: jamais desistiríamos de Nova Friburgo!
O friburguense foi, antes de tudo, solidário. Não pensou em si mesmo quando precisou entrar em rios ou afundar na lama para salvar vidas humanas e animais em perigo. Abriu suas casas para estranhos, dividiu sua água e comida, deu agasalhos para quem tinha frio, cuidou dos feridos e consolou os desenganados. Quem podia ajudava da melhor maneira possível. Nunca vi tanta união e generosidade.
Um longo ano se passou. Como sempre, promessas foram feitas e jamais cumpridas. Estamos esperando até agora a reconstrução de nossas pontes, a contenção das encostas, as casas para os desabrigados e a recuperação de ruas e estradas. Muitos foram embora, cheios de dor e desiludidos enquanto outros tentam recomeçar o que restou de suas vidas.
Com um misto de vergonha e horror vimos Nova Friburgo envolvida em escândalos e denúncias de corrupção e desvio de verbas destinadas às vítimas da tragédia de janeiro. Pior ainda, assistimos impotentes o fechamento de fábricas, escolas e postos de trabalho. Mas provando que não nos deixamos abater, organizamos mutirões para limpar nossas casas e ruas e construir pontes. Juntos conseguimos mostrar nas ruas que nossa voz pode e deve ser ouvida.
Não devemos nunca esquecer 2011. Em respeito aos nossos mortos temos a obrigação de reerguer Nova Friburgo e torná-la um lugar seguro e melhor para viver. Depois de tudo o que passamos, vamos olhar para o futuro com esperança e otimismo. Tenho certeza de que podemos fazer deste 2012 um ano completamente diferente.
Depende apenas de nós.
carlosemersonjr@gmail.com
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