Um depoimento de luz e esperança!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Ainda me pego imaginando (e é cedo para parar de imaginar) como anda o dia a dia das famílias que perderam muitos dos seus entes queridos... Como e onde estão encontrando forças para se refazerem emocionalmente? Que troca de luz e esperança estão realizando entre os que ficaram por aqui? Ah... Como eu desejo contar, a todas as famílias friburguenses que passaram Pelas experiências de perdas, um pouco do que EXISTE em nossa especial família GUERRA.

Assim vivenciamos a nossa tarde do último domingo, dia 6 de fevereiro de 2010. Na casa do Tião Guerra e da Mariane Canella, todos fomos acolhidos... Chegávamos aos poucos, trazendo as contribuições para o lanche comunitário, íamos nos abraçando de forma serena, longa, carinhosa... Um abraço ainda sufocado, afinal de contas era o nosso primeiro encontro, após o dia 12 de janeiro de 2010. As palavras eram poucas, mas o calor, este era por demais intenso, imenso! Junto deste calor humano, o clima era de muita paz! As crianças brincavam de um lado para o outro, as pessoas arrumavam a mesa, alguém enchia as garrafas de café, outro estourava a pipoca... O cheirinho no ar era o mesmo de quando ainda pequena sentia ao lado dos muitos primos e tios... Era cheiro de FAMÍLIA, de UNIDADE, de INTIMIDADE. Nessas horas, a gente sente vontade de exclamar: Meu Deus, como é maravilhoso ter uma família, como é divino cultivar os laços da simplicidade, da união, da esperança, da fé, enfim, dos verdadeiros valores! Nossa família é assim... Espero que muitas outras sejam assim, também.

Na sala, no quintal, os instrumentos começam a ser espalhados, começam a tomar vida, as crianças pegam uns e outros, produzem os sons daquela festa que nunca terá fim... Nós, os adultos, timidamente, vamos ensaiando algumas músicas, relembrando melodias... Nossa família Guerra é assim: sobram talentos para teatro, música, arte, criatividade, boas loucuras e ousadíssimos voos. E neste contexto, mais uma vez, a maior expressão que pode sair de minha boca é: GRAÇAS A DEUS!

Chegam os primos mais esperados, Samuel, Paloma e os filhos e a Sani, além da matriarca vovó Maria, estamos todos juntos... Não falta ninguém, pois pela nossa fé, mesmo os que mudaram de esfera, estavam conosco... O anfitrião puxa a fila das homenagens e deste primeiro fio, um belíssimo novelo de lã vai se enrolando ou desenrolando, sei lá, é difícil de explicar, só dá pra sentir. A roda, no quintal, é imensa, uns pedem a palavra, relembram momentos que jamais serão esquecidos, choram, convidam a todos para uma oração... Outros pegam livros de histórias e as contam, enfatizando as mensagens das entrelinhas, muitos vamos revezando as canções... Nossa reunião é uma festa que se traduz em CELEBRAÇÃO DA VIDA! É claro que, em meio a tanta emoção, entrega e transparência, muitos dos guardanapos (que seriam utilizados no lanche) foram passados de mão em mão para enxugarem as lágrimas. E, em meio a tanto amor, nesta tarde de domingo, realizei uma experiência de família jamais vivida até então: descobri ou redescobri que chorar junto, dividir a dor e a alegria, escutar o outro, apoiar os mais sofridos é, inexplicavelmente, algo MARAVILHOSO!

Depois de tantas homenagens aos nossos que se foram, a partilha dos quitutes mineiros (nossa família é de lá) continuou, num 2º tempo. E lá pelas 22h, sem termos sentido o tempo passar, alguns começaram a se despedir, outros ainda permaneceram e não tive notícias de quem saiu por último... Mas, independente da hora em que cada um deixou aquela casa tão especial, o que importa dizer é que estávamos encerrando um encontro o qual, confesso, não gostaria que acabasse nunca. Acho que todos sentiram também assim... Parecíamos todos tão protegidos... E é por ter nascido nesta família que, até o fim de minha vida, serei grata a Deus! Não tenho dúvida de que ainda vivenciaremos inúmeros encontros pela frente, mas pelo menos, este primeiro, eu não poderia deixar de compartilhar com vocês, meus irmãos friburguenses!

Escrito por Janimary Guerra Pecci, em homenagem a toda a família Guerra, de Conselheiro Paulino, na saudade especial dos seus oito entes queridos que se foram no dia 12/01/2010, vítimas de soterramento no Loteamento do Barão. São eles: a matriarca Erotides Guerra (Tidi), a filha Sara, o genro Renato e os netos Carolina, Luiz Guilherme, Victor Hugo, Maria Victória e Manoela

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